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Embrapa investe no conhecimento e conservação de espécies nativas de bambu
Apesar de sua importância milenar na produção de artefatos úteis e decorativos, especialmente em países asiáticos, como China, Japão e Índia, onde é amplamente utilizado na fabricação de móveis, papel, paisagismo e até na alimentação, o bambu ainda é uma espécie pouco conhecida no Brasil. Com exceção de trabalhos artesanais, não existe no país uma cultura de utilização do bambu, a despeito do seu potencial de aplicação para vários setores da economia, como construção civil, bioenergia, confecção de móveis e laminados, entre outros. Aliado a isso, o Brasil possui a maior biodiversidade de bambus da América e uma das maiores do mundo, com cerca de quatro milhões de hectares de florestas somente na Amazônia e mais de 230 espécies nativas do Brasil em praticamente todas as regiões.
O vácuo existente entre o vasto potencial de utilização dessa planta e o pouco conhecimento acerca de suas características agronômicas levou o governo brasileiro a assinar, em 2011, um memorando de entendimento com a China para cooperação bilateral em ciência e tecnologia na área de desenvolvimento em bambu.
A assinatura desse documento resultou na criação de uma lei de incentivo à produção de bambu no Brasil (12.484/2011) e também em um edital, lançado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) em 2012, para estimular grupos de pesquisa brasileiros a reunirem suas expertises em prol da cadeia produtiva do bambu.
O interesse pela exploração sustentável de bambu continua crescente no Brasil. Prova disso é que o Senado Federal aprovou em 24 de agosto de 2016 acordo que garante a participação do Brasil na rede internacional do Bambu e Rattan (Inbar). Criada pela ONU, essa iniciativa reúne 41 países para implementar uma agenda global de desenvolvimento sustentável por meio do bambu e do rattan (uma espécie de cipó).
Embrapa e instituições parceiras se unem para conhecer e conservar o bambu
Em 2013, a Embrapa reforçou o desenvolvimento de pesquisas com o bambu, a partir de um projeto de pesquisa desenvolvido em parceria entre duas unidades de pesquisa - Embrapa Acre (Rio Branco, AC) e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) - além da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Acre (UFAC).
"O desafio é grande, mas os resultados têm sido muito positivos até o momento", constata o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Jonny Scherwinski-Pereira, que é o líder do projeto. Segundo ele, o enfoque dessa iniciativa é o conhecimento e caracterização dessa diversidade para seu uso sustentável, especialmente de espécies nativas de variedades tropicais lenhosas de bambu, geralmente de grande porte, mais concentradas nos biomas Cerrado e Amazônia.
O projeto envolve ações de coleta e caracterização de plantas de bambu nesses dois biomas com o objetivo de identificar novas espécies, conhecer a diversidade genética e as formas de propagação para possíveis usos, além da conservação.
Adicionalmente, a meta do projeto é criar coleções de trabalho com o maior número de espécies possíveis, além de uma floresta clonal na UnB. "O objetivo é que seja uma unidade demonstrativa para fomentar o desenvolvimento de futuras pesquisas", afirma o pesquisador.
Mas, para isso, primeiro é preciso conhecer a fundo as espécies nativas. Segundo Jonny, o bambu é uma espécie complexa e cheia de peculiaridades e, como existe pouco conhecimento no Brasil, é necessário começar praticamente do zero. "Nosso objetivo é conhecer e identificar as maneiras mais eficientes de utilizar as espécies nativas e conservá-las", complementa.
Biorreatores: aliados na produção de bambu em larga escala
Um dos gargalos para a cadeia produtiva do bambu é a forma de propagação. Uma das peculiaridades às quais o pesquisador se refere é o florescimento de algumas espécies de bambu, que pode levar até 120 anos na natureza.
Uma das opções nesse sentido é a produção de mudas in vitro (em laboratório), a partir de técnicas biotecnológicas, como os biorreatores. Esses equipamentos, desenvolvidos e patenteados pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, são capazes de multiplicar mudas de forma semi-automatizada em larga escala, acelerando o ciclo de produção e reduzindo os custos com mão-de-obra.
Trata-se de uma tecnologia feita sob medida para a agricultura do Século XXI, pois ao mesmo tempo em que garante a produção de mudas de alta qualidade (mais uniformes e vigorosas), prioriza bases sustentáveis, com economia de energia e de outros recursos, aliando produtividade e sustentabilidade.
Cooperação internacional incrementa ainda mais as ações
Paralelamente a esse projeto, foi assinado um memorando de entendimento com a China, em 2011, para incentivar a cooperação técnica entre instituições de pesquisa brasileiras e chinesas em prol do desenvolvimento das pesquisas com bambu. Além da Embrapa Acre e da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, participa também a Embrapa Florestas (Colombo, PR), além do IAC.
Na China, o bambu é muito utilizado para construção civil, movimentando cerca de US$ 30 bilhões, o que representa metade do mercado mundial. Naquele país, existem hoje mais de 450 produtos e tecnologias patenteadas relacionadas ao bambu e mais de duas mil pesquisas em andamento.
De acordo com Jonny, um dos focos dessa parceria internacional é possibilitar a visita de pesquisadores brasileiros a locais de produção de bambu na China e em outros países, como Equador e Colômbia.
Bambu: desafios e oportunidades
Se, por um lado, trabalhar com o bambu é desafiador, especialmente pelo pouco conhecimento científico adquirido acerca da planta, as oportunidades são compensadoras, como faz questão de ressaltar Jonny.
Além da variada gama de aplicações para a economia, na fabricação de móveis, artesanato, paisagismo, alimentação etc., o bambu é uma planta rústica de rápido crescimento com excelente potencial para recuperação de áreas degradadas.
Segundo o pesquisador, pode ser uma ótima alternativa para diversificar o mercado de madeira, hoje quase totalmente dominado pelo eucalipto e pinus. Na região sudeste, especialmente em São Paulo, a utilização de bambu para confecção de móveis de luxo já está em franco crescimento.
É ainda uma opção para a fabricação de carvão, pelo seu alto poder calorífico.
Ou seja, motivos não faltam para investir em pesquisas em prol do conhecimento, manejo e conservação dessa planta milenar, que guarda milhares de possibilidades de utilização em prol da humanidade.
No Brasil, o cenário para exploração sustentável do bambu é ainda mais convidativo. "Pensar que podemos ter alguns milhões de hectares de reserva natural dessa planta na Amazônia nos remente à certeza de que temos um universo a ser explorado", ressalta Jonny, lembrando que um dos objetivos da Embrapa e das instituições parceiras é aumentar o conhecimento acerca da diversidade dessa planta no Brasil, além de poder levar esse conhecimento às comunidades locais de pequenos produtores dos biomas Cerrado e Amazônia, com foco na possibilidade concreta de utilização do bambu para geração de renda e emprego.
O bambu é uma planta sustentável e economicamente viável para os produtores rurais que a cultivam, podendo inclusive ser consorciada. Na mesma área, é possível realizar este tipo de cultivo durante dezenas de anos e para a colheita não são necessários grandes equipamentos.
Fernanda Diniz (MTB/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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