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Experiências de gestão ambiental produtiva são apresentadas em fazenda no DF
Foto: Breno Lobato
Visita técnica encerrou o 1º Encontro de Extensão Florestal e Assistência Técnica do Distrito Federal
Um grupo de 25 profissionais e estudantes do setor florestal e ambiental conheceu os resultados de pesquisas sobre a recuperação de passivos ambientais com modelos de plantio com espécies nativas e exóticas do Cerrado, na Fazenda Entre Rios, no PAD/DF, Distrito Federal. Eles participaram, no dia 29 de novembro, de uma visita técnica sobre gestão ambiental produtiva à propriedade, que abriga, em 70 ha, 21 experimentos desenvolvidos pela Embrapa e parceiros desde 2010.
O produtor José Brilhante Neto explicou que a fazenda de 900 ha é propriedade da família desde 1976, tendo iniciado as atividades agrícolas com o cultivo do arroz, seguido pela soja. A propriedade também já foi voltada à pecuária de leite. No momento, a propriedade produz grãos em sistema de sequeiro e irrigado e realiza seleção genética da raça bovina Guzerá.
“Os sistemas integrados funcionam muito bem para a questão produtiva. Entretanto, quando intercalamos o conhecimento (gestão ambiental produtiva) e conseguimos integrar ambiente e produção, penso que esse é o caminho diferencial para um país tropical como o Brasil”, disse, ressaltando a parceria com a Embrapa.
Durante a visita, o pesquisador Felipe Ribeiro e as assessoras técnicas Juliana Araújo e Carolina Arantes, da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), no projeto FIP Paisagens Rurais, apresentaram ferramentas de apoio para recomposição ambiental, além de informações sobre como realizar o diagnóstico, o planejamento, a implantação e o monitoramento dos plantios, com exemplos de uso de diferentes métodos de recomposição.
Ele falou sobre as três situações previstas no processo de adesão ao Sistema PRA (Programa de Regularização Ambiental) – propriedades com ausência de passivo ambiental em Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), com excedente de RL e, o mais comum, a presença de passivo ambiental em APP e/ou RL. Em todas as situações é obrigatória a inscrição da propriedade no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que deve ser feito antes de qualquer diagnóstico da propriedade. “O grande problema é que o produtor não sabe se tem esse passivo ou não”, apontou.
Para auxiliar o produtor rural a atender à legislação ambiental, sobretudo o novo Código Florestal brasileiro, a Embrapa, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) desenvolveram a plataforma on-line e gratuita WebAmbiente, que traz informações sobre o que plantar e como plantar, além de estratégias de diagnóstico para recomposição das áreas e de uma lista de espécies que podem ser utilizadas.
A plataforma conta com um simulador que, a partir das informações fornecidas sobre determinada área, como as características da vegetação de referência a ser recuperada, o potencial de regeneração natural e parâmetros gerais do solo, gera um relatório em arquivo em formato pdf com a estratégia de recomposição mais adequada, a recomendação de preparo do solo e as espécies indicadas para a condição informada.
Segundo Ribeiro, o simulador já integra o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). “Estamos trabalhando com o MMA para que isso seja automatizado dentro do Sicar”, informou, indicando o livro Guia de plantas do Cerrado para recomposição da vegetação nativa, que traz detalhes sobre as espécies que podem ser usadas nos projetos de recomposição vegetal.
No local da apresentação do pesquisador, foi realizado o plantio de baruzeiro em semeadura direta em diferentes espaçamentos, com o objetivo de recuperar a APP e atender à legislação ambiental.
Planejamento e implementação
A etapa do planejamento, quando são definidas as atividades para a intervenção de um Projeto de Recomposição de Área Degradada ou Alterada (PRADA), foi detalhada por Juliana Araújo. Segundo a assessora técnica da GIZ, o planejamento visa ao delineamento mais adequado para a área, ao planejamento físico e financeiro do projeto e à estimativa de custos para a implementação, promovendo, assim, a redução dos riscos da atividade de recomposição.
Ela apresentou um roteiro para a elaboração do PRADA, que contempla os dados do requerente e do responsável técnico, informações do imóvel, o diagnóstico, o método de recomposição, a implantação, as espécies utilizadas, o croqui de plantio, monitoramento, cronograma de atividades e de orçamento, monitoramento e a previsão de orçamento. “Queremos incorporar essa ideia de forma mais estruturada ao WebAmbiente”, informou.
Araújo ainda explicou as diferentes estratégias para recomposição da vegetação nativa – da conservação da biodiversidade à recomposição em área total – e em que situações são utilizadas. A escolha do método de recomposição deve observar a legislação vigente, a vegetação de referência a ser restaurada (formações florestais ou savânicas), o objetivo da intervenção (recomposição biodiversa ou produtiva), o nível de degradação (identificar o potencial de regeneração natural) e o contexto cultural, social e econômico, considerando a aptidão do proprietário ou responsável.
“Não adianta ‘empurrar’ uma solução que o proprietário não tenha condição de manejar de forma adequada”, comentou, destacando a diferença entre a regeneração passiva, que tem menor custo, e a restauração ativa, que demanda mão de obra e manutenção intensivas.
Já a escolha das espécies, que pode ser feita com o auxílio do WebAmbiente, deve levar em conta as recomendações dos PRAs estaduais; a quantidade e a proporção das espécies em função do objetivo do plantio; o uso de espécies exóticas conforme a legislação vigente; além de informar no relatório as especificações sobre as características das espécies, como nome científico e popular, família botânica, hábito e estratégia de ocupação; e no caso de plantios econômicos, devem ser utilizadas espécies carro chefe, com potencial de retorno econômico.
Araújo também falou sobre os itens do cronograma de atividades, que segundo ela tem sido um grande gargalo, e o cronograma financeiro. “Essa fase é importante para entender o que será necessário na região, e está interligada com o cronograma financeiro. Sem um bom mapeamento de atividades, você não consegue estimar corretamente o que vai gastar com insumos, tempo de máquina, mão de obra”, explicou, apresentando um modelo de tabela com os principais itens de custo.
Ela apresentou exemplos de modelos de planejamento de plantio em área total (PAT) biodiverso com mudas de espécies florestais e de PAT biodiverso com sementes de espécies savânicas, com os custos brutos das operações de pré-plantio, plantio ou semeadura e manutenção ao longo dos anos, ambos implantados no Triângulo Mineiro, no âmbito do projeto FIP Paisagens Rurais.
Araújo chamou a atenção para as proporções de custos. “Se isso não for trabalhado de forma árdua, os insumos podem inviabilizar a intervenção”, alertou, lembrando que o investimento em insumos é maior no primeiro ano, e nos anos seguintes aumenta o custo com a mão de obra de manutenção.
A assessora técnica da GIZ detalhou o PAT biodiverso com mudas implantado na Fazenda Entre Rios, em que blocos de espécies de uso econômico são intercalados com blocos de diversidade de espécies de árvores nativas numa área de 1 ha.
“Se começarmos a explorar os blocos de plantios econômicos, a regeneração natural vai se expandindo. Então, temos retorno econômico com o plantio, mas também a garantia de que os regenerantes e a vegetação nativa estão fazendo o seu trabalho”, afirmou. Entre as possibilidades de receita com as espécies do bloco econômico estão a madeira em pé no caso da aroeira, do Gonçalo-Alves e do vinhático, e frutos in natura no caso da aroeira-pimenteira.
Monitoramento
Carolina Arantes falou sobre a etapa de monitoramento, que deve ser feito tanto para o manejo adaptativo do plantio, com o objetivo de acompanhar, com diagnósticos anuais, a evolução da área de acordo com a técnica implantada e traçar possíveis correções, bem como para a quitação legal, conforme os parâmetros definidos por cada unidade da federação.
Ela mostrou exemplos de monitoramento do sucesso de plantios na Fazenda Entre Rios, incluindo um em uma área de campo e em áreas de recomposição de Reserva Legal com formações de savana e de floresta. Foram destacados os procedimentos realizados e as recomendações para cada uma, bem como a evolução, entre 2011 e 2023, nos parâmetros determinados pelo Brasília Ambiental (Ibram) no Distrito Federal para a quitação legal.
“Em 2011, o gado entrava na área de campo, que era de pastagem e com baixa tecnificação, e hoje ela já está praticamente quitada. O único parâmetro de quitação que falta é a cobertura de gramínea nativa, que ainda está um pouco baixa, ainda há um pouco de solo exposto”, explicou, acrescentando que a recomendação é aguardar mais um tempo.
A área de savana, que era de pastagem nativa em 2011 e recebia animais, tem passado por processo de regeneração natural, com o impedimento da entrada do gado. Os únicos parâmetros de quitação legal ainda pendentes são a cobertura de vegetação lenhosa nativa e a cobertura de vegetação nativa. “Nossa ideia de manejo adaptativo é acompanhar por mais um tempo, pois se esses parâmetros forem alcançados, não precisamos fazer intervenções de enriquecimento ou adensamento”, disse.
Já a área de floresta, ao lado da estação técnica, apresenta grande quantidade de espécies regenerantes e está quitada para os parâmetros do Ibram. “O único manejo que estamos recomendando agora seria o de desbastar as espécies madeireiras, mas a ideia é que toda essa área seja recomposta com vegetação nativa no final”, apontou Arantes.
No final da visita, os participantes fizeram um plantio de semeadura direta de mais de 10 espécies nativas da formação savânica do Bioma Cerrado, numa pequena área próxima ao local das estações técnicas.
Participantes destacam aprendizado
A visita técnica à Fazenda Entre Rios encerrou a programação do 1º Encontro de Extensão Florestal e Assistência Técnica do Distrito Federal. Promovido pela Associação dos Engenheiros Florestais do DF nos dias 27 e 28 de novembro na Universidade de Brasília, o evento reuniu profissionais, estudantes e representantes governamentais com atuação no setor florestal e ambiental. Com palestras de especialistas e representantes de diferentes instituições, o encontro discutiu, entre outros temas, a curricularização de atividades de extensão nos cursos de Engenharia Florestal e a implementação de políticas e instrumentos ligados ao setor.
Para Luana Miranda, vice-presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Florestal da UnB e aluna do sétimo semestre, a visita técnica foi importante após as diversas palestras do Encontro. “Aprendemos muita coisa na teoria, mas é bom ver na prática as coisas acontecendo. Espero que meus colegas, assim como eu, tenham tido uma boa experiência e consigam pensar um pouco mais longe”, disse.
Aluna do terceiro semestre do curso de Engenharia Florestal, Hanna Clara Cruz, acredita que o Encontro abriu oportunidades e trouxe uma visão mais ampla sobre a implementação de projetos de recuperação de áreas degradadas. “Achei interessante o que já foi implementado na fazenda. Já trabalhei com agrofloresta e técnicas de plantio, e aqui ganhei mais experiência ainda”, comentou.
Já o engenheiro florestal Sérgio Aurélio Gonçalves destacou o trabalho de elaborar sistemas e arranjos e testá-los na fazenda aliado à restauração ambiental com retorno financeiro e geração de empregos. “A ciência está desenvolvendo o seu papel, trazendo espécies chave como o baru, que entra aqui em muitas composições e, dentro do tripé da sustentabilidade – socialmente justo, ambientalmente correto e economicamente viável – fortalece o componente florestal, e outras espécies como o vinhático, que tem madeira de lei, crescimento muito rápido e, se conduzido com podas de condução, fornece um fuste comercial que certamente vai trazer bons resultados financeiros para as restaurações”, afirmou.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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