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Parceiros de projeto de fruticultura irrigada em Goiás conhecem pesquisas com irrigação
Cerca de 70 produtores, extensionistas rurais, técnicos e autoridades participantes do Projeto Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã, liderado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa/GO) e com a parceria da Embrapa Cerrados (DF), visitaram o centro de pesquisas no dia 29 de maio para conhecerem as mais recentes tecnologias em manejo de irrigação e fruticultura. O projeto também conta com a participação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), da Emater/GO, do Senar/GO e de prefeituras de municípios da região do vão do rio Paranã, no Nordeste goiano.
A iniciativa busca viabilizar a produção irrigada de frutas como manga e maracujá por cerca de 5 mil famílias de agricultores assentados de reforma agrária de Flores de Goiás, Formosa e São João d’ Aliança. Na etapa-piloto do projeto, em 2023, 10 famílias foram contempladas com kits de irrigação e espaldeiras para o maracujá e outras 138 foram selecionadas pela Seapa/GO para receberem os kits neste ano.
A visita antecede a capacitação em irrigação, com ênfase na manutenção do sistema e no manejo, bem como sobre boas práticas agrícolas no cultivo do maracujá e da manga, destinada aos participantes do projeto e que será realizada nos dias 19 e 20 de junho. “As tecnologias que geramos aqui servem para o pequeno, o médio e o grande produtor. Este é um projeto estratégico para a Embrapa, e o mais importante são as parcerias, fundamentais para o sucesso do nosso trabalho”, afirmou o pesquisador Lineu Rodrigues.
Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade, lembrou que o projeto envolve vários atores – pesquisa, extensão rural, transferência de tecnologia, política pública, infraestrutura, acesso a mercados e, sobretudo, os produtores rurais. “A agricultura é a vocação do Brasil. Passamos por uma revolução na agricultura: na década de 1970, importávamos alimentos, hoje produzimos cinco vezes mais do que é necessário para alimentar a população brasileira. Por isso, o País é o primeiro exportador de vários produtos agrícolas”, lembrou. “Neste projeto, a fruticultura irrigada é o vetor para a inclusão socioprodutiva dos pequenos produtores e para o desenvolvimento regional com sustentabilidade econômica e ambiental”, acrescentou.
Larissa Rêgo, diretora do Departamento de Irrigação do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), falou sobre os desafios da nova diretoria, encarregada de coordenar o setor de irrigação no Brasil. “Sabemos que a região de Goiás tem um potencial muito grande para a irrigação, e o mundo todo quer os nossos alimentos. Quando se fala em segurança alimentar para o mundo, a referência é o Brasil. Temos 8,5 milhões ha irrigados e podemos triplicar a área com irrigação. Isso significa que vocês, produtores, podem produzir ainda mais”, disse.
Também do MIDR, Antônio Leite comentou sobre o sistema nacional de irrigação que está em implementação pelo ministério e que é um dos instrumentos da Política Nacional de Irrigação. A partir de diferentes bases de dados, o sistema fornecerá informações sobre solos, disponibilidade hídrica, energia, entre outros, que contribuirão para o planejamento da agricultura irrigada enquanto política pública territorial.
Já Luciano da Silva, coordenador geral de instrumentos da Política Nacional de Irrigação do MIDR, falou sobre o planejamento das ações por meio dos polos de irrigação, visando à eliminação de gargalos em energia, transporte, comunicação, crédito, escoamento de produtos, entre outros. Também falou sobre o Plano Nacional de Irrigação, que vai reunir esforços e iniciativas de diferentes instituições e detectar lacunas com o objetivo de expandir a agricultura irrigada somente em áreas de sistema de sequeiro e pastagens, sem suprimir a vegetação nativa.
O analista em desenvolvimento regional da Codevasf, Samuth Duarte, falou sobre o papel da companhia, relacionado ao fornecimento da infraestrutura hídrica (sistemas de irrigação) e de espaldeiras aos agricultores participantes do projeto. “Quando penso na licitação realizada em 2022 e depois de ter acompanhado a implantação dos sistemas desde o início, vejo o resultado na vida desses produtores. Num dado momento, eles vão (terminar de) pagar o financiamento, prosseguirão tendo lucro e o projeto, de fato, vai alcançar o objetivo de gerar renda e emprego. Nossa expectativa é de que consigamos construir um grande polo de fruticultura irrigada no Vão do Paranã e impactar o Brasil e o mundo”, comentou, acrescentando que já foram empenhados R$ 6 milhões em sistemas de irrigação e R$ 3 milhões em espaldeiras.
Alisson Ferreira, gerente de Irrigação, Clima e Agricultura da Seapa/GO, agradeceu às demais instituições pela parceria e lembrou que o projeto, criado em 2019, pretende que os produtores se tornem financeiramente independentes e passem a viver do que é produzido na propriedade. “Quando vejo um produtor colher, em 45 dias, 8.872 kg de maracujá e pagar o próprio financiamento com o que obteve de receita, isso nos mostra que o projeto é viável e nos dá a segurança para alavancarmos o projeto ainda mais”, afirmou.
Importância da irrigação
Ao falar sobre o papel da Embrapa Cerrados, Lineu Rodrigues apontou que a missão da Unidade é gerar e viabilizar soluções tecnológicas para a sustentabilidade da agricultura do Bioma Cerrado. Ele relembrou a trajetória da pesquisa agropecuária na região nas últimas décadas, com a geração de tecnologias que permitiram o desenvolvimento da produção agropecuária com sustentabilidade.
O pesquisador mostrou que a população brasileira cresceu 110% entre 1970 e os dias atuais, enquanto a produção agropecuária aumentou mais de 600% no mesmo período. “Isso se deu graças às tecnologias geradas, e uma delas é a irrigação. Hoje, o brasileiro come 80% mais barato do que comia em 1970”, disse, lembrando que atualmente os alimentos produzidos no Brasil são suficientes para alimentar cerca de 800 milhões de pessoas, sendo que mais de 50% da produção nacional vem do Cerrado.
Segundo Rodrigues, a irrigação permite desenvolver regiões e melhorar a qualidade de vida. “A pequena agricultura, geralmente de hortaliças e fruticultura, tem que ser irrigada, mas de maneira correta para se ter economia de água e energia”, disse, apontando os benefícios econômicos como a geração de empregos, ambientais e para a produção, com o aumento da produtividade, a estabilidade, a oportunidade de cultivo de determinadas culturas, a viabilização da produção durante o ano todo e a maior qualidade dos produtos.
“A irrigação ficará ainda mais importante por causa do clima. A demanda de água para uma cultura produzir bem varia de ano para ano. Ela varia devido à chuva: tem ano que chove muito e ano que chove pouco. Mas o mais importante é como a chuva é distribuída”, afirmou, destacando que os grandes desafios são água e energia, daí a necessidade de uso correto dos recursos hídricos.
O pesquisador ressaltou, ainda, a importância da segurança hídrica, que leva em conta a oferta e o consumo de água. Nesse sentido, o produtor deve fazer o manejo correto da irrigação – ou seja, saber quando e ou quanto irrigar. Para isso, o produtor deve ter conhecimentos sobre água, a planta a ser irrigada, o solo, o clima e os equipamentos.
“Estamos desenvolvendo um software para que vocês possam manejar a irrigação usando o telefone celular”, informou, explicando a razão da instalação da estação meteorológica em Flores de Goiás em março deste ano, no âmbito do projeto. O equipamento mede pluviosidade, radiação solar, vento, entre outras variáveis climáticas. As informações são compiladas e enviadas diariamente ao produtor na forma de boletins meteorológicos. Outras estações serão instaladas em São João da Aliança e Formosa.
Com o auxílio de bolsistas, o pesquisador apresentou alguns equipamentos utilizados para medição da quantidade de água no solo, como o tensiômetro. Também citou os minicursos on-line da plataforma e-Campo sobre manga e maracujá, disponíveis gratuitamente. “Para desenvolvermos a agricultura irrigada de forma sustentável, não precisamos de muita coisa. Basta fazer o simples, ter uma agenda própria e utilizar os próprios recursos”, finalizou.
Associativismo
O superintendente geral da Rede Nacional de Irrigantes (Renai) João Carlos Dé Carli, falou sobre a importância do associativismo e da criação de uma associação, citando o exemplo da rede, criada para “identificar demandas e liderar a implementação das ações estratégicas que facilitem o desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada” e composta por associações de irrigantes, polos de irrigação, institutos e empresas privadas de diferentes regiões do País.
Ele detalhou os principais valores do associativismo – adesão livre e voluntária; gestão democrática pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, formação e informação; cooperação entre associações; e interesse pela comunidade. O superintendente geral da Renai explicou que uma associação sem fins lucrativos tem a finalidade comum de defender os interesses de um grupo social, ou seja, ela é constituída por pessoas que se reúnem em prol de um objetivo comum, fortalecendo a luta por direitos. Dessa forma, o associativismo é uma solução para fortalecer e tornar competitivos pequenos e médios negócios, dividindo despesas e somando competências para cortar custos e melhorar a qualidade dos produtos, além de constituir um espaço de conversação entre empreendedores, sociedade e poder público.
Dé Carli sugeriu que os produtores criem uma associação para atuar em nível municipal. “Quando vocês se unem, fazem uma pauta indicando os problemas e colocam algumas pessoas com experiência e que conseguem chegar ao prefeito para conversar, aí vocês conseguem (ser atendidos)”, disse.
Visitas no campo
Pela manhã, os visitantes conheceram as duas Unidades de Referência em Manejo de Água (URMA) da Embrapa Cerrados, apresentadas pelos pesquisadores Lineu Rodrigues e Maria Emilia Alves.
Na URMA II, inaugurada em 2023, foi instalado um sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo da empresa israelense Netafim. O grupo visitou a casa de máquinas e visualizou os tubos gotejadores do sistema em uma trincheira. Depois de um ano com plantios de plantas de cobertura e de soja para estabilização do solo da área, o sistema começará a ser avaliado a partir da safra 2024/25.
Já na URMA I, implantada em 2018 e que opera com sistema da empresa NaanDanJain, os participantes do projeto conheceram os experimentos com diferentes níveis de água fornecidos para culturas de grãos e assistiram à demonstração de uso do tensiômetro e de outros sensores para determinação do nível de umidade do solo, realizada pelo bolsista Kevim Ventura.
À tarde, Fábio Faleiro apresentou recomendações sobre o cultivo de maracujá e pitaya, destacando a importância da semente e da muda, que deve ser adquirida em viveiros com credibilidade e que forneçam material com garantia de origem: “A base de sucesso do pomar é a semente ou a muda geneticamente superior e com qualidade fisiológica e sanitária”, afirmou. Ele mostrou aos visitantes as variedades de maracujá desenvolvidas pela Embrapa Cerrados e as características, os diferenciais e o potencial de produtividade de cada uma.
Sobre a pitaya, o pesquisador ressaltou duas características inovadoras das cultivares da Embrapa – a autocompatibilidade, ou seja, não precisa de polinização cruzada, e a autofecundação. “Isso significa que o produtor não precisa acordar de madrugada para fazer a polinização das flores”, explica. Outras tecnologias também podem ser adotados pelo pequeno agricultor, segundo Faleiro. “A fertirrigação [aplicação de fertilizantes pelo sistema de irrigação] tem como maior beneficiário o pequeno agricultor. Até pouco tempo atrás, todos pensavam que essa era uma tecnologia para ser utilizada apenas pelos grandes produtores”.
As quatro cultivares de pitayas da Embrapa (BRS Lua do Cerrado, BRS Luz do Cerrado, BRS Granada do Cerrado, BRS Minipitaya do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado) são as primeiras cultivares da fruta registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária. Elas apresentam entre si variações na cor da casca e da polpa, formato e tamanho dos frutos e de produtividade, podendo chegar a mais de 42 kg de frutos por planta, no caso da BRS Granada do Cerrado.
Já o cultivo da manga, umas das fruteiras em implantação pelo projeto, despertou vários questionamentos dos participantes: espaçamento entre plantas, possibilidade de produzir frutos fora do período de maior oferta no mercado, para conseguirem melhores preços. O técnico Geovane de Andrade respondeu os questionamentos e acrescentou algumas recomendações sobre tratos culturais para garantir um pomar saudável e produtivo.
Agricultores e técnicos revelam otimismo com o projeto
A secretária de Agricultura de Flores de Goiás, Zilda Oliveira, destacou que o projeto é uma oportunidade histórica e muito valiosa para o município por incentivar os produtores. “É uma região que até então não havia tido a oportunidade de aplicar tecnologias no campo. O produtor sempre trabalhou com as condições dele, com os conhecimentos passados pelos pais, pelos avós. O projeto cria uma expectativa muito grande de melhoria de vida por meio do próprio trabalho dos agricultores”.
Para a visita à Embrapa Cerrados, a secretária telefonou para cada um dos produtores para fazer o convite: “Foi um empenho muito grande para estarmos aqui hoje e o próprio prefeito veio dirigindo a van para trazer essas pessoas para esse evento tão valioso. Estou olhando nos olhos dos nossos agricultores e eles estão deslumbrados com os conhecimentos que estão sendo apresentados”, comentou.
Para o analista de desenvolvimento regional da Codevasf em Goiânia, Márcio Borella, a visita foi importante para mostrar que há alternativas para o futuro. “As pessoas pensam só no maracujá azedo. Mas elas têm mais alternativas. Os agricultores que vieram aqui estão saindo de uma situação de miséria. Esse é um passo muito grande. Se realmente se dedicarem, eles têm plenas condições de se tornarem produtores rurais e melhorar sua qualidade de vida”, apostou.
Um dos produtores pioneiros do projeto, José Alves dos Santos Flores, mais conhecido como “Chefinho”, vive em Flores de Goiás há 29 anos, onde produz banana e manga. Satisfeito com a visita, ele acredita estar no rumo certo. “Para crescer, tem que ser com união, com conhecimento. Vale a pena fazer esses passeios, adquirir experiência. Hoje, somos 10. Daqui a pouco, seremos 150. E aí, quem sabe, em uns anos, seremos 200 ou 300. Antes, tínhamos que jogar fora (a produção) porque não havia como chegar ao mercado. Hoje, temos estrada, temos transporte. Estamos no caminho certo e vamos muito longe”, disse.
Joaquim de Moura Filho é produtor rural em São João d’Aliança, onde cultiva banana em meio hectare, além de criar galinhas e porcos, também mostra otimismo com o projeto: “Já tive experiência com maracujá e com outros cultivos, mas sempre tivemos uma grande dificuldade de colocar o produto no mercado, sempre tivemos essa dificuldade. Agora, esse projeto me deixa animadíssimo, renovado. Temos que abraçar isso”.
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