Embrapa Agroindústria Tropical
Agricultores e pesquisadores trocam conhecimentos em SAFs agroecológicos
Agricultores experientes e iniciantes do Assentamento Sepé Tiaraju, estudantes e pesquisadores se reuniram na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) em 21 e 22 de fevereiro, para trocar conhecimento em agroecologia e agrofloresta.
O encontro, realizado no formato de curso e vivência prática, foi organizado pela equipe de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente em parceria com o Coletivo de Agroecologia da Juventude do Sepé (Cajus), Prefeitura Municipal de Serra Azul, Coletivo Cantadores de Sementes, Vila Yamaguishi, Sítio Clareira Agroflorestal e Unicamp. É uma continuação de vivências realizadas nos últimos anos com as famílias e organizações do projeto de Agrofloresta do Assentamento, localizado na região de Ribeirão Preto, SP.
“Estas vivências permitem uma imersão na realidade produtiva e sociocultural do assentamento, promovendo a formação de agentes multiplicadores e um rico intercâmbio de conhecimentos entre agricultores, universitários, pesquisadores e técnicos sobre sistemas agroflorestais, agroecologia e a realidade da agricultura familiar”, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Luiz Octávio Ramos Filho.
Segundo o pesquisador Joel Queiroga, da Embrapa Meio Ambiente, “a partir dessa interação em vivências anteriores, surgiu a demanda por parte dos agricultores e juventude do assentamento em conhecer mais de perto os trabalhos da Embrapa Meio Ambiente e de parceiros agroecológicos da nossa região”.
Assim, por meio de atividades em sala e em campo, foram apresentados e discutidos diferentes desenhos e técnicas de manejo agroecológico e agroflorestal, de potenciais estratégias de comercialização baseadas na ideia de consumo consciente, além de aspectos conceituais e práticos em estratificação, sucessão ecológica, manejo de podas, produção e organização da biomassa para cobertura de solo, criação de abelhas em SAFs, controle biológico e biodiversidade.
Além de palestras, foram realizas visitas guiadas a campo, tanto em parcelas experimentais do Sitio Agroecológico – SAFs biodiversos com frutíferas, experimentos com adubos verdes e sorgo, controle biológico de plantas espontâneas, SAF Medicinal, Meliponário e SAF Abelhas, como também em alguns laboratórios da Embrapa Meio Ambiente que trabalham na área de controle biológico, fitopatologia e tratamentos de pós colheita de frutas.
O curso envolveu também visitas guiadas em propriedades de alguns agricultores parceiros em Jaguariúna – o Sitio Clareira Agroflorestal, com agrofloresta e horta agroecológica, suas técnicas de manejo e desafios para a comercialização direta de cestas, e a Vila Yamaguishi, com a horta agroecológica, criação de galinhas poedeiras, além de discussão sobre os desafios para a comercialização direta de cestas.
Ao final do evento, houve uma Roda de Conversa na Unicamp, com diferentes coletivos agroecológicos de Campinas, para discussão e intercâmbio sobre os desafios da agricultura familiar e dos assentamentos na atualidade, a juventude no campo, os gargalos da produção e da comercialização e agregação de valor dos produtos agroflorestais e agroecológicos, o papel das universidades e instituições de pesquisa, e a importância da interação entre pesquisa, ensino, extensão e o setor produtivo da agricultura familiar e assentamentos. Nesse momento, foram apresentadas a importância das redes sociotécnicas de construção e intercâmbio do conhecimento agroecológico, além de experiências de comercialização direta via consumo consciente.
O estagiário da Embrapa Meio Ambiente Igor Duarte escolheu essa área temática de pesquisa para o seu estágio “porque apresenta soluções para os problemas sociais, ambientais e econômicos, principalmente no Brasil, pelo seu contexto histórico”.
O agricultor Waldemar da Silva, assentado no Sepé Tiaraju desde 2005, trabalha com SAF desde 2008. “Implantei meu primeiro SAF por conta, sem muita experiência. Depois que conheci o projeto da Embrapa tenho mais experiência, antes era o meu jeito de plantar. Estamos gostando. O resultado é longo, mas quando passamos a entender melhor, percebemos que vale a pena. Desde 2015, vejo muita diferença na terra, que está mais forte”.
Miqueas Marques, agricultor de 21 anos, deixou o emprego com carteira assinada para ajudar o pai. “Meu primeiro contato mais próximo com SAF foi em 2015, no Sepé, por meio de um projeto da Embrapa com a SMA-SP, UFSCar, Unesp e Mutirão Agroflorestal. Meu irmão Agnaldo também trabalha com esse sistema desde 2006“. E complementa: “para nós, SAF agroecológico é a agricultura do futuro, tudo caminha para isso, e irá congregar uma parcela grande de nossos agricultores, já que consegue reproduzir o equilíbrio que a agricultura precisa”.
Hugo Mateus, agricultor do Sepé de 19 anos, explicou que ajuda o pai, Mauro Correia, que trabalha com SAF desde 2015. “Meu pai tinha prática, mas passou a entender melhor todo o processo depois desses encontros pela Rede formada pelos agricultores e pesquisadores. “O projeto mudou a nossa forma de viver, melhorou inclusive a nossa renda fixa, com a venda dos produtos em feiras, está compensando ter voltado para trabalhar com minha família”.
Sobre o IV Curso de Vivência em Agrofloresta no Sepé Tiaraju, realizado de 29 de janeiro a 4 de fevereiro, com 7 dias de imersão no assentamento, Mateus destaca que os participantes puderam intercambiar conhecimentos sobre diferentes sistemas agroflorestais e realidades da agricultura familiar, e que o mais importante para ele foi a troca de conhecimento: “Meu pai não saía do sítio, tudo era por ele mesmo e agora conhecemos outras formas de manejo”.
Para Waldemar, essa vivência proporcionou outras maneiras de ver os problemas, que ele não sabia. “Sempre temos o que aprender. E hoje conhecendo o Sítio Agroecológico da Embrapa, aprendi muito e quando voltar para casa, vou manejar meu SAF um pouco diferente”.
Sobre o Sepé Tiaraju
Situado na região de Ribeirão Preto, o Sepé Tiaraju é um assentamento que, desde a sua origem em 2004, foi concebido como um Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) e desde 2006 alguns agricultores já iniciavam o plantio de agroflorestas em seus lotes. Mais recentemente, entre 2014 e 2017, por meio de um projeto financiado pelo PDRS-SMA, foram implantados 25,4 hectares de agroflorestas, distribuídas em 35 lotes familiares. Esse projeto contou com a parceria da Embrapa Meio Ambiente, cooperativas do assentamento, Unesp, UFSCar, IBS e da ONG Mutirão Agroflorestal.
No contexto deste projeto, foram realizados pela Embrapa Meio Ambiente e parceiros diversos dias de campo e quatro cursos de vivência voltados principalmente à implantação destas agroflorestas. Na 4a. edição, a proposta foi viver o dia a dia das famílias assentadas em um período mais longo, participando e partilhando os momentos de plantio, colheita e manejo de seus agroecossistemas.
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