17/05/24 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Pesquisadora aborda desequilíbrio de gênero na produção científica

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Foto: Alice Sales

Alice Sales - “Nós somos quase metade da população mundial e ainda somos minoria não só na ciência, mas em outras áreas também”, denuncia Nivia Dias

“Nós somos quase metade da população mundial e ainda somos minoria não só na ciência, mas em outras áreas também”, denuncia Nivia Dias

O desequilíbrio de gênero na comunidade científica foi tema de destaque na edição 2024 do Pint of Science Fortaleza.  A pesquisadora Nívea Dias, da Embrapa Agroindústria Tropical, trouxe o debate à tona com a palestra  “Mulheres cientistas: por que ainda somos minoria?”. O evento, que ocorre anualmente de forma simultânea em diversas capitais do mundo, promove a ciência de forma descontraída, trazendo as discussões científicas para as mesas dos bares das cidades.

Na ocasião, a pesquisadora ressaltou a presença feminina no meio científico e contextualizou um histórico de não reconhecimento da participação das mulheres na ciência, que existe desde os primórdios. A cientista também pontuou as razões pelas quais ainda há essa invisibilidade para as mulheres em suas profissões, nas atividades acadêmicas e apontou caminhos para vencer esse desafio. “Nós somos quase metade da população mundial e ainda somos minoria não só na ciência, mas em outras áreas também. Fazemos ciência desde sempre, mas a história invisibilizou nós mulheres cientistas”, complementa.

Quando relatada a minimização da contribuição de cientistas mulheres, Nivia destacou o efeito Matilda, que consiste em quando as mulheres participam efetivamente de um trabalho na ciência, mas muitas vezes não são creditadas ou reconhecidas como deveriam. “Muitas vezes aquele experimento é de uma grandiosidade tão grande, que muitas vezes chegam a ganhar prêmios como o Nobel, e essas mulheres acabam ficando de fora, sem que tenham suas participações reconhecidas. E isso não ocorreu só nos primórdios da ciência, é algo que ocorre até hoje. Trabalhamos efetivamente nos laboratórios de pesquisa, mas não somos reconhecidas”, destaca.

Numa imersão histórica da participação da mulher no âmbito acadêmico, Nivia Dias resgata o decreto imperial de 1881, que permitia o ingresso de mulheres na Universidade do Brasil, desde que houvesse autorização do marido ou pai. Apesar disso, hoje o público feminino é maioria nas universidades e no Brasil. Embora sejam maioria nos cursos de pós-graduação, as mulheres seguem como minoria no mercado de trabalho.
“Quando pensamos em mulheres nos primórdios da ciência só temos Marie Curie como referência. O próprio Darwin acreditava que nós mulheres éramos inferiores intelectualmente. Provavelmente você nunca deve ter ouvido falar de Mileva Einstein, mas ela foi a primeira esposa de Albert Einstein e a história conta que ela participou efetivamente da concepção da Teoria da Relatividade, mas ninguém fala sobre isso”, complementa.

Mileva era a única mulher da turma de Einstein no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ) e a segunda mulher a terminar o curso no Departamento de Matemática e Física da instituição

 

As barreiras encontradas pelas mulheres no universo científico

Nivia Dias, destaca o ‘Efeito Tesoura’ como uma barreira e explica o fenômeno: “O nome é ‘efeito tesoura’ porque ele sai mesmo cortando as mulheres pelo caminho de suas carreiras científicas. Os dados apontam que somos maioria nas universidades, mas quando a gente se forma e vai para o mercado de trabalho não conseguimos espaço nas instituições acadêmicas e de pesquisa. Nós vamos sendo cortadas até chegar o momento de não vermos mulheres nos topos das carreiras. Aquelas que conseguem chegar ao topo ainda enfrentam o desafio de se manterem nesse lugar de destaque”.

A estereotipia de gênero é impedidor. O cenário torna-se ainda mais desfavorável quando se percebe o assédio moral e sexual, a divisão sexual do trabalho e a maternidade como consequência e fortificador dessa barreira. “Essas são razões pelas quais a gente não consegue avançar em nossas carreiras e é esse teto de vidro que a gente precisa romper para ascender. E isso é necessário não apenas na ciência, mas na política, nos esportes, em todas as esferas. Quando fiz o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), não tive uma professora e você acha que esse cenário mudou? Não. Isso mostra que aquele ambiente não é um lugar desenhado para nós mulheres”, enfatiza Nivia.

 

O que fazer para mudar esse cenário?

Os avanços necessários são diversos. Nívia destaca a inclusão da licença maternidade no Currículo Lattes como amenizador de uma das maiores pressões sofridas pelo público feminino: “O ideal seria que a licença maternidade fosse um período mais longo, por que a mulher quando se torna mãe, além do período da licença, ela demora ainda mais um pouco para retomar suas atividades e isso impacta na sua produção. Mães cientistas precisam ser comparadas de forma diferente com relação aos homens que não tem a maternidade como missão”.

Visando a um plano de valorização do trabalho, a pesquisadora salienta a necessidade de que homens oportunizem uma maior participação de mulheres em suas pesquisas. Estudos mostram que equipes compostas por homens e mulheres possuem melhores produtividades e resultados exatamente por essa diversidade de pensamentos. 

Por fim, o cumprimento de medidas de segurança, como punição de assediadores e a elaboração de políticas públicas que assegurem mulheres em suas carreiras são outras medidas cabíveis. “Também é necessário que mulheres inspirem outras, que sejamos vitrines umas para as outras. Mesmo em 2024, é necessário trazer o tema à tona como uma forma de quebrar esses tabus e barreiras”, finaliza.

(Com contribuição de Alice Sales).

Ricardo Moura (DRT 1618 JPCE)
Embrapa Agroindústria Tropical

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Embrapa Agroindústria Tropical

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