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Workshop apresenta alternativas para o desenvolvimento sustentável da região serrana
Foto: Renato Linhares/NPTA-Embrapa
Workshop apresenta alternativas para o desenvolvimento sustentável da região serrana
A elaboração de um livro com relatos de diferentes instituições sobre suas experiências em agricultura de montanha e a efetivação da parceria com pelo menos duas instituições internacionais são alguns dos resultados práticos alcançados ao final do II Workshop sobre Desenvolvimento Sustentável em Ambiente de Montanha e do I Seminário sobre Desenvolvimento Territorial Endógeno.
O evento reuniu pesquisadores, técnicos, professores e profissionais de diferentes áreas do conhecimento do Brasil e do exterior, de 10 a 12 de setembro, em Nova Friburgo, na região serrana fluminense. A pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Adriana Maria de Aquino, coordenadora do evento, considerou o workshop produtivo. "Além de palestras enriquecedoras, tivemos a participação de instituições que estão se envolvendo com o tema de alguma forma, o que possibilitou muitos intercâmbios", disse Aquino.
Já na abertura do evento o público teve um panorama de como a agricultura é praticada nos ambientes de montanha na Europa. O pesquisador Jaime Maldonado, do Centro de Investigação de Montanha de Bragança, em Portugal, abordou aspectos técnicos da agricultura nesses locais, como, por exemplo, a variação do uso do solo de acordo com a altitude, a produção de alimentos e produtos de origem florestal, assim como o pagamento e compensações por serviços ambientais. Para o pesquisador português é impossível haver desenvolvimento sustentável quando o uso do solo não é correto. "As regiões de montanha onde existem maior investimento em programas multissetoriais têm maior desenvolvimento", complementa Maldonado.
A prática agrícola em áreas de proteção ambiental e a relação dos agricultores com a fiscalização foram apontadas por alguns participantes do evento como problemas recorrentes na região serrana. Segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina João de Deus Medeiros, o novo código florestal não trouxe mudanças significativas nesse sentido, mas aponta oportunidades para as quais agricultores e instiuições devem estar atentos. "O novo código não alterou nada em relação às montanhas. Mas é muito importante divulgar as informações", enfatiza João de Deus.
O pesquisador Renato Linhares de Assis, da Embrapa Agrobiologia, relatou as experiências com a implantação de práticas agroecológicas em unidades de produção local. De acordo com Renato, após a tragédia de 2011 as pessoas tornaram-se mais motivadas para a mudança e é possível constatar uma predisposição maior para as questões ambientais. "Os agricultores estão mais sensíveis, mas há uma série de outras questões relevantes. Para avançar nas práticas sustentáveis é preciso mudar a lógica da produção agrícola com o mercado", disse.
O coordenador de Gestão da Informação do programa Rio Rural, Marcelo Costa, também percebe uma mudança de pensamento e atitude. Para o agrônomo, o produtor está mais engajado em práticas sustentáveis. Por outro lado, o assessor em Agroecologia do Rio Rural, Eiser Felippe, ressaltou que os desafios ainda são muitos. Na tentativa de remediar os problemas, os agricultores utilizam práticas inadequadas que pioram ainda mais a situação, como o uso excessivo de agrotóxicos e herbicidas, movimentação do solo sem critério e aração "morro abaixo". Para Eiser, a resolução do problema passa por ações que vão além do trabalho pontual da transferência de técnicas sustentáveis. Ele ressalta que a educação adequada nos colégios desde o ensino fundamental e a formação e o aumento das opções para os jovens filhos de agricultores é muito importante para mudar essa realidade.
Atualmente, segundo o historiador Juliano Luís Palm, a manutenção da atividade agrícola na região é mais difícil pela falta de identidade dos jovens com a atividade do que pela questão econômica. Para ele, a sustentabilidade da agricultura familiar local passa pelo resgate de práticas tradicionais e para isso é preciso que a comunidade esteja presente nos fóruns que estabelecem as políticas públicas que interferem em suas vidas.
Mudança no modo de pensar e viver
As questões sociais e humanas também foram abordadas durante o workshop em Nova Friburgo. Experiências internacionais de turismo sustentável em regiões de montanhas, trabalhos sobre o exôdo rural da região serrana fluminense e projetos de desenvolvimento sustentável em comunidades tradicionais foram apresentados durante os três dias de evento.
O pesquisador Marcos Borba, da Embrapa Pecuária Sul, falou do projeto Alto Camaquã (RS). A iniciativa começou em 2006 com o objetivo de promover e estimular a pecuária familiar naquela região gaúcha. Desde o início, conta com a participação da comunidade, sendo levadas em consideração as características históricas, sociais, ambientais, culturais e econômicas comuns à região, demonstrando que a produção com base nos recursos naturais pode ser extremamente eficiente.
Já a socióloga Tânia Zapata, diretora técnica do Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH) disse que as estratégias para o desenvolvimento local devem ter como eixo o capital humano e o capital social. Tânia ressaltou a necessidade de a comunidade identificar sua visão de futuro e saber o que ela quer para os próximos dez anos. "Não precisamos fazer projetos megalomaníacos, porque não vai ter recursos, não vai ter gente e não sai nada", disse a socióloga durante a palestra.
A promoção do turismo sustentável em regiões de montanha foi apontado pela consultora do Banco Mundial e representante da Associação das Montanhas Famosas, professora Mônica Amorim, como uma das alternativas para a valorização e conservação da natureza na região serrana fluminense. Mônica ressalta que ao estimular o turismo de natureza, é fundamental também valorizar os produtos e comunidades locais, fazendo da população uma aliada na conservação do patrimônio natural, que é a matéria-prima dessa atividade econômica. Nesse sentido, um grupo já trabalha para a construção de uma proposta conjunta para candidatura da região à Associação das Montanhas Famosas. "Vamos discutir a proposta com órgãos competentes para avaliar essa possibilidade da candidatura da região serrana fluminense", disse a pesquisadora Adriana Aquino.
A Associação das Montanhas Famosas tem como objetivo proporcionar uma plataforma de experiências e colaboração entre os membros, visando à conservação da natureza e promoção do turismo e ao desenvolvimento local em bases sustentáveis, sendo a agregação de valor dos produtos locais um dos elementos importantes desse processo.
Ana Lucia Ferreira (MTb 16913/RJ)
Embrapa Agrobiologia
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