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28/10/14 |   Agroindústria

Potencial econômico e nutricional do gergelim mobiliza pesquisa

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Foto: Paulo de Tarso

Paulo de Tarso -

Com o crescimento da demanda por alimentos funcionais o gergelim vem conquistando o paladar dos brasileiros. Nas últimas três décadas, o consumo interno passou de mil toneladas por ano para 10.500 toneladas por ano, puxado pela entrada das redes de fast food no País. "Nos últimos 40 anos a demanda mundial por produtos à base de gergelim cresceu 550%", informa a pesquisadora da Embrapa, Nair Arriel. O Brasil é responsável por menos de 1% da produção mundial de gergelim − cerca de 10 mil toneladas − e chega a importar 50% do que consome. A área plantada é de apenas oito mil hectares, concentrados principalmente na região Centro-Oeste, que detém em torno de 70% da produção. O Estado de Goiás é o maior produtor nacional. 

Arriel destaca que o aumento da demanda interna e externa abre "uma excelente oportunidade de divisas para exploração da cultura do gergelim". Com teor de óleo superior a 50% e elevada estabilidade química, o gergelim encontra diversas aplicações na indústria alimentícia, farmacêutica, cosmética e oleoquímica. O avanço tem a contribuição da pesquisa agropecuária, que desenvolveu produtos como biscoitos sem trigo, à base de farinha extrudada de arroz e gergelim. A extrusão é uma técnica que emprega alta temperatura em intervalo curto de tempo para expansão de massas que contêm amido. O produto pode ser consumido tanto por pessoas com intolerância a glúten quanto por consumidores que buscam alternativas de alimentos saudáveis.

Também foram desenvolvidos snacks mais nutritivos a partir da combinação do gergelim com milho, arroz ou soja. "Os snacks são, geralmente, produtos de baixo valor nutritivo, ricos em carboidratos, porém, quando se empregam matérias-primas de alta qualidade nutricional, apresentam conteúdo considerável de proteínas e fibras, podendo, ainda, ser enriquecidos com vitaminas e sais minerais", observa o pesquisador Carlos Piler, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Os processos de produção estão disponíveis para empresas de produtos alimentícios.

A pesquisa da Embrapa também atua hoje no desenvolvimento de cultivares com melhores índices nutricionais, adaptadas às diferentes regiões do País. Ao todo, são dez pesquisadores de seis centros de pesquisa da Embrapa atuando em temas relacionados à cultura do gergelim. Atualmente, estão em andamento sete projetos voltados para as áreas de melhoramento genético, manejo cultural e tecnologia de alimentos.

Alternativas de aproveitamento

"Abre-te, sésamo" é uma metáfora que significa "abre-te como um sésamo se abre". O sésamo em questão é o gergelim, planta que se abre devagar liberando suas sementes ricas em vitaminas e minerais, vitamina B, fósforo e ferro. De mero enfeite de pão de hambúrguer, a semente passa a ser uma alternativa para quem procura uma dieta equilibrada ou para pessoas com restrições alimentares como a intolerância ao glúten e à lactose. Nas gôndolas dos supermercados já é possível encontrar produtos à base de gergelim como biscoitos, pães, margarinas, farinhas, óleos e a própria semente in natura. Uma oferta maior está disponível em lojas de produtos naturais.

Segundo a nutricionista Janemary de Araújo, uma das principais características do gergelim é o alto poder antioxidante nas células. "O gergelim é uma ótima fonte de vitaminas e minerais, é rico em ômega 3, que é uma gordura boa, possui uma grande quantidade de fibras, o que o torna um alimento ideal para auxiliar no controle dos níveis de glicose sanguínea, na regulação da função intestinal, e no controle da saciedade, é uma ótima fonte de cálcio, sendo seu consumo primordial para fortalecer os ossos e manter a massa muscular", afirma.

"Para preservar suas propriedades, a melhor forma de consumo é a semente crua, em saladas, saladas de frutas e iogurtes. O ideal é consumir uma colher de sobremesa duas vezes ao dia", recomenda a nutricionista. Mas os alimentos preparados com a semente também trazem benefícios à saúde.

A Embrapa Algodão elabora receitas e promove cursos de aproveitamento alimentar e agroindustrial do gergelim com o objetivo de incentivar o consumo dessa semente em escolas e comunidades rurais. As formulações indicadas para pequenas agroindústrias, produções artesanais e merenda escolar de produtos à base de gergelim são feitas pelo pesquisador Paulo de Tarso Firmino, com apoio do técnico agroindustrial Ayice Chaves Silva.

Cinco cultivares comerciais foram lançadas pela Embrapa Algodão, e as mais recentes, G4 e BRS Seda, estão disponíveis para o produtor. A G4 tem porte médio (1,55 m), ciclo médio de 90 dias, sementes de cor creme, com teor de óleo variando de 48% a 50%. Tolerante a doenças como a murcha-de-macrophomina, mancha-angular e cercosporiose, é indicada para cultivo na região Nordeste e Cerrado de Goiás.

A BRS Seda possui porte médio (1,55 m), ciclo de 90 dias, início do florescimento aos 36 dias após a germinação com floração e maturação uniforme. Apresenta sementes de cor branca e teor de óleo superior a 52%. Também é tolerante à murcha-de-macrophomina, mancha-angular e cercosporiose. É indicada para o cultivo na região Nordeste, Cerrados de Goiás e região Norte Fluminense. A pesquisadora da Embrapa Algodão Nair Arriel enfatiza que a escolha correta da cultivar para um determinado ambiente é fundamental para garantir uma boa produtividade.



Mercado a ser explorado

De ciclo curto e pouco exigente em água e insumos, o gergelim se adapta bem às condições climáticas do Brasil. Para a pesquisadora Nair Arriel, a cultura pode ser opção de renda para a agricultura familiar na região Nordeste, bem como uma alternativa para diversificação agrícola em grande escala nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. "O gergelim é uma planta altamente adaptada às condições do Semiárido e, devido à drástica queda de produção mundial, é grande a demanda pela semente e seus derivados", afirma.

Entre os gargalos da cultura no Semiárido estão secas constantes e a desorganização da cadeia produtiva. "Em períodos de estiagem, a preferência dos agricultores é por culturas de subsistência como o feijão, o milho e a mandioca", diz. "Também é preciso estruturar a cadeia produtiva para que os pequenos produtores tenham acesso a mercados como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)", acrescenta.

A comercialização do gergelim na região é dificultada pela pulverização da produção. "O ideal é que os agricultores se organizem em cooperativas e associações para fomentar o cultivo em comunidade, buscando um planejamento antecipado para maior eficiência e rentabilidade da exploração do gergelim", orienta.

Nos municípios de Lucrécia e Marcelino Vieria, no Alto Oeste Potiguar, um projeto da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e do governo estadual, com a parceria da Embrapa Algodão e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), busca desenvolver a cadeia produtiva do gergelim, do cultivo à comercialização, incluindo o processamento da semente para extração do óleo.

Muitos produtores já produziam o gergelim nos fundos dos quintais e, com o projeto, aumentaram a área plantada, fundaram cooperativas de agricultores em cada município e recebem orientação para agregar valor à produção e diversificar as atividades. "Estamos buscando alternativas como a extração do óleo de gergelim e associar outras atividades como a caprinocultura e apicultura", diz a consultora da JICA no projeto, Ana Kojima. "A ideia é introduzir um modelo que seja viável para a região para que posteriormente o governo venha a utilizá-lo para promover a agricultura familiar no Alto Oeste Potiguar", explica.

Para Kojima, ainda há muitos avanços a serem alcançados para que o gergelim possa deslanchar na região. "Hoje, o plantio e a colheita ainda são manuais e o alto custo da mão de obra inviabiliza a cultura para famílias pequenas e o gergelim só seria recomendado para famílias grandes. Precisamos avançar na semimecanização da cultura, no controle de plantas daninhas e desenvolver cultivares semideiscentes (que se abrem parcialmente quando maduras), tolerantes à seca e a pragas", avalia.

Neste ano, os produtores da Cooperativa Agroindustrial dos Agricultores Familiares de Lucrécia (Coafal) conseguiram colher apenas 1.700 quilos em função da má distribuição das chuvas na região. "Estamos vendendo aos poucos na própria comunidade a R$ 10,00 o quilo e também extraindo o óleo que custa R$ 50,00 o litro", conta o agricultor Antônio Gessildo da Silva. Eles cultivaram o gergelim em rotação com o feijão, milho e hortaliças e também criam ovinos.

Os produtores registraram uma marca própria para o óleo beneficiado na cooperativa e esperam ampliar a produção no próximo ano. Para aproveitar a torta que sobra do processamento do óleo, um grupo de mulheres da comunidade produz bolos, biscoitos, doces e tahine (pasta de gergelim). Os produtos são comercializados em feiras na região.

No Piauí, sob a coordenação da Fraternidade de São Francisco de Assis do Piauí (FFA), agricultores familiares dos municípios de Simplício Mendes e São Francisco de Assis do Piauí receberam a certificação Instituto Biodinâmico de Botucatu-IBD para o gergelim orgânico.

Suplementos naturais

Em Campina Grande (PB), outra cooperativa investe na produção de suplementos naturais a partir do gergelim e outros grãos. Criada em 2003, a Cooperativa de Suplementos Naturais de Campina Grande (Coopernut) tem como carros-chefes a semente in natura e as farinhas Supernut – um complemento muscular à base de gergelim e guaraná, que pode ser adicionado  a sucos, vitaminas, mingaus, bolos e risotos – e Multimais – suplemento alimentar composto de milho, gergelim, soja, aveia e fibra de trigo. Esses produtos podem ser encontrados em cerca de 120 estabelecimentos comerciais como supermercados, farmácias e lojas de produtos naturais do Estado da Paraíba.

A presidente da Coopernut, Avani de Araújo, conta que anualmente são processadas em torno de duas toneladas de gergelim, mas este ano está enfrentando a escassez do produto. "Diminuímos a oferta da farinha de gergelim, que consome mais o produto e, infelizmente, não estamos oferecendo a quantidade desejada pelos nossos clientes", afirma.

Edna Santos (MTb 01700/CE)
Embrapa Algodão

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