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Aplicações da ciência no agro motivam estudantes de escolas públicas
Em 2001, Andrey Coatrini Soares, cursando o antigo segundo colegial em uma escola pública, acompanhava com olhos e ouvidos atentos as palavras do pesquisador Luiz Henrique Capparelli Mattoso que viria a ser, 18 anos mais tarde, o seu supervisor no pós-doutorado. A fala sobre a ciência do pequeno, que calcula tudo em milionésimos de milímetros, batizada de nano, encantou Soares e foi determinante para a escolha da carreira de cientista.
O físico de formação é um dos exemplos da importância da interação de estudantes com os conceitos da física, química, das aplicações da ciência e da tecnologia, impactos e contribuições na área agrícola, proporcionados pelo Programa Embrapa & Escola. Criado em 1997, o programa busca aproximar cientistas, estudantes e professores para estimular nos jovens o interesse pelo conhecimento científico.
Os tempos mudaram e os hábitos também, mas assim como Soares se encantou anos atrás, os estudantes de hoje, pertencentes à era digital, que fazem do mouse a extensão da mão, também se empolgaram na semana passada toda com o que viram, sentiram e tocaram durante mais uma edição do Embrapa & Escola. Nos laboratórios da Embrapa Instrumentação e campos da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), 674 estudantes da rede pública de ensino vivenciaram experiências similares às de quase duas décadas.
“Esse é o nosso objetivo com o Embrapa & Escola, estimular os jovens para conhecer o mundo fascinante da ciência. Se quisermos ser um País de primeiro mundo, precisamos investir em ciência e educação”, sugere Mattoso.
“O que vi aqui dentro anos atrás foi decisivo para a minha formação de pesquisador. Agora volto para desenvolver pesquisas à base de nanotecnologia, que facilitem a vida do homem do campo que trabalha com a pecuária leiteira”, diz Soares, cientista reconhecido pela comunidade acadêmica com o Prêmio Tese Destaque USP 2018 e com o Prêmio CAPES de Tese 2018 e Grande Prêmio CAPES de Tese 2018.
Mattoso falou do conceito que envolve nanotecnologia, demonstrou exemplos das aplicações desta ciência, como os filmes comestíveis, desenvolvidos à base de frutas e hortaliças - mamão, maracujá, beterraba, menta e baunilha. O material pode embalar alimentos e, de quebra, dá um toque no tempero.
Além da palestra, os estudantes do 7º e 8º ano do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio de escolas municipais e estaduais visitaram os laboratórios de processamento de materiais nanoestruturados, o de microscopia eletrônica de varredura e o de síntese de materiais nanoestruturados, onde tiveram mais contato com a nanotecnologia. Também fizeram experimentos com borracha, isopor e cola.
A analista Silviane Hubinger, responsável por uma das experiências realizadas com os alunos, disse que a experiência foi rica para os dois lados: os estudantes puderam vivenciar o aprendizado e conhecer possíveis profissões que poderão escolher no futuro; a Embrapa teve a oportunidade de se relacionar com as escolas e mostrar parte de suas pesquisas para a sociedade.
No campo, os estudantes conheceram procedimentos de coleta automática de dados dos animais identificados com brincos e chips, como são manejados de forma racional, como alguns equipamentos fornecem alimentos de forma automática e medem a emissão de gases de efeito estufa, como os animais que vivem num sistema integrado com lavoura, pecuária e floresta são monitorados por sensores e como funciona o sistema de produção de leite. Além disso, se familiarizaram com conceitos e práticas da conectividade no campo.
“Falar para crianças e adolescentes é um exercício muito rico, pois é necessário transformar informações complexas em simples. Elas são puras e fazem perguntas muito instigantes, que podem até estimular novas pesquisas. É um público muito especial para a empresa, uma geração que tem nas mãos a responsabilidade de construir um futuro cada vez mais sustentável”, explicou Alexandre Berndt, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sudeste.
A pesquisadora Teresa Cristina Alves, que recebeu o grupo no sistema de leite da Embrapa Pecuária Sudeste, disse ser “muito gratificante matar a curiosidade dos alunos e saber que, de alguma forma, a gente contribui para para o conhecimento sobre ciência e o agro”, afirmou.
Experiência além da sala de aula
“É muito diferente do que temos na escola e muito importante para o nosso projeto de vida ver o quanto a ciência e a tecnologia estão presentes no nosso dia a dia”, disse a estudante do 1º ano do ensino médio, de uma escola pública de São Carlos, Julia Bernardeli.
E até quem não podia ouvir se interessou. Deficiente auditivo, Matheus Henrique Ferreira teve o apoio da intérprete de Libras Viviane Saladino para traduzir, em sinais, o que era falado e demonstrado nos laboratórios. “Das três experiências, o que mais gostei foi fazer slime (geleca) com cola branca, solução de água boricada e bicarbonato de cálcio”, afirma o estudante do 8º ano de uma escola municipal do ensino básico.
O aluno Richard Gabriel Filomeno, do 7º ano da escola municipal Dalila Galli, disse que gostou de visitar a fazenda da Embrapa. “Eu aprendi que dá para saber quanto o gado comeu, quanto ele pesa, quando ele nasceu, quem são o pai e a mãe dele. E também que é um animal bem curioso”, contou.
Para a professora Josiane Rodrigues, o Embrapa & Escola oferece uma oportunidade ímpar de mostrar aos estudantes o que a cidade tem de melhor e que pode estimular a formação acadêmica deles. “Eles ficaram fascinados. Os alunos acham que a internet oferece tudo o que precisam, mas aqui observaram que não é bem assim”, diz a educadora do 1º ano do ensino médio de uma escola estadual.
Parceria inédita
As ações do Embrapa & Escola deste ano foram executadas graças a uma parceria inédita com a Câmara Municipal, Diretoria Regional de Ensino, Secretaria de Educação da Prefeitura de São Carlos e a uma emenda parlamentar do vereador Luis Enrique Paulino Carmelo (Kiki), no valor de R$ 31.981,50.
"Faz muito sentido para essas crianças. Elas passam a entender que o que veem em lousa, na sala de aula, tem uma aplicação direta. Isso faz com que até a motivação para o estudo aumente significativamente", afirmou. Kiki esteve nas duas Unidades da Embrapa para acompanhar o trabalho.
O secretário municipal de Educação Nino Mengatti também esteve nos dois centros de pesquisa. Segundo ele, a experiência proporcionada pelo Embrapa & Escola aos alunos deverá se tornar uma atividade permanente. “É um aprendizado imenso. Quero tornar essa atividade em uma ação permanente, uma política pública”, afirmou.
Assista aqui como foi o Embrapa & Escola.
Ana Maio (Mtb 21.928)
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Joana Silva (MTb 19.554/SP)
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