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Estudo revela limitações e novas abordagens para o monitoramento da qualidade de água em pisciculturas no Brasil
Monitoramento de baixa frequência da qualidade da água não é eficaz para peixes em tanques-rede
Monitoramento em alta frequência traz dados essenciais para o manejo da piscicultura
A não representatividade da baixa frequência pode resultar em má interpretação
Pesquisa publicada recentemente, realizada em áreas de produção de tilápia-do-Nilo em tanques-rede no reservatório de Furnas, em Guapé, MG, usou duas metodologias para monitoramento da qualidade da água, as de alta (abordagem que utiliza sensores e sondas para analisar a qualidade da água e enviar via transmissão de dados em tempo real) e baixa frequência (onde as amostras de água são coleta das manualmente e encaminhadas para análises em laboratório).
A comparação dos resultados mostrou que o monitoramento de alta frequência permitiu criar um perfil mais preciso das variáveis de qualidade da água. “Como monitoramos a cada 10 minutos, conseguimos pegar a variação natural da água. Já a baixa frequência é só um ponto na curva”, diz a pesquisadora Fernanda Sampaio da Embrapa Meio Ambiente.
Apesar da alta frequência ser eficiente para monitorar a qualidade da água em fazendas de peixes em tanques-rede, a tecnologia é muito cara e exige elevado conhecimento técnico, para manusear os equipamentos e interpretar os dados, o que torna inviável para os produtores. Por isso, enfatiza a pesquisadora, "estamos trabalhando no desenvolvimento de sensores individuais de poucos parâmetros que sejam eficientes, fáceis de manusear, de baixo custo, mas que registrem e armazenem os dados em alta frequência. E manteremos as PCD para realização de estudos com o que estamos fazendo agora nos reservatórios de Chavantes (SP) e Lajeado (TO)".
Guilherme Wolff Bueno, pesquisador da Unesp, que participou do estudo, ressalta que o Brasil está numa transição para uma aquicultura digital, em que o acesso as novas tecnologias mais baratas e de fácil uso irão melhorar a avaliação em tempo real dos locais de produção, permitindo que sistemas maiores e mais remotos tenham maior controle, eficiência e segurança ao investir-se nesta atividade, o que levará ao aumento da produtividade e apoiará a mudança para uma economia circular e mais sustentável.”
A alta frequência foi realizada com o Sistema Integrado de Monitoramento Ambiental (Sima) equipamento desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o monitoramento de corpos hídricos e adaptado para o monitoramento da piscicultura em tanques-rede. O Sima é uma Plataforma de Coleta de Dados (PCD) que possui acoplada em sua plataforma flutuante uma sonda multiparâmetros capaz de registrar e armazenar diferentes dados de qualidade da água a cada 10 minutos. Já o com parâmetros em baixa frequência foram monitorados por meio de coleta de amostras de água, nos mesmos locais das plataformas, para posterior análise em laboratório em uma frequência mensal.
Para o estudo foi considerado o período de oito meses com uma vasta extensão de dados.
Mas o Projeto Furnas monitorou a área de pesquisa por mais de dois anos. A pesquisa foi conduzida em áreas de produção de peixes em tanques-rede e em uma área controle, sem a presença de cultivo. No período do estudo havia 11 produtores nas áreas monitoradas, todas no rio Grande.
Em função da alta frequência de registro de dados foi possível criar perfil mais preciso de variação de pH, oxigênio dissolvido, temperatura, clorofila-a e condutividade elétrica tanto na área com influência da piscicultura como nas áreas sem influência. O estudo revelou que há uma influência da piscicultura em alguns dos parâmetros monitorados, mas não abaixo dos limiares estabelecidos. E que esta influência não pode ser capturada pela percebida pelo monitoramento em baixa frequência demonstrando que o monitoramento em baixa frequência é ineficaz para o monitoramento ambiental da piscicultura em tanques-rede.
O monitoramento adequado da água contribui para minimizar as chances de ocorrência de impactos negativos ao meio ambiente, que por sua vez podem beneficiar a própria piscicultura, além de ser uma ferramenta essencial para os produtores garantirem maior produtividade com menor custo e menor impacto.
Fernanda explica que há uma variação natural desses paramentos no corpo hídrico, que não são influenciadas somente pela piscicultura. “Ao monitorarmos o corpo hídrico em baixa frequência, as coletas são realizadas pontualmente ao longo do dia, podemos pegar uma descida natural de oxigênio ou pH e inferir se isso é por causa da piscicultura ou não o é. Mesmo se fizéssemos esse monitoramento de baixa frequência diariamente, não conseguiríamos inferir se os impactos são em função da piscicultura ou de uma variação natural do corpo hídrico.”
“Se o monitoramento for inadequado, com interpretações errôneas, isso pode aumentar o custo da produção, já que o produtor é obrigado a fazer pelo menos duas análises por ano e para muitos deles esse custo é elevado”. E ainda será uma análise que não traz nenhum benefício, não monitora de fato, e que pode prejudicar a regularização do uso de corpos hídricos. Fernanda destaca que se o impacto é avaliado de forma inadequada, a regularização também é inadequada e por consequência, promove o ordenamento e o uso ineficaz do recurso hídrico.
Os autores do estudo são Fernanda Sampaio, da Embrapa Meio Ambiente, Carlos Araújo, da Universidade de Quebec, Canadá, Bruno Dallago, da Universidade de Brasília, José Luiz Stech e João Lorenzzetti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Enner Alcântara, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marcos Losekann, da Embrapa Meio Ambiente, Diego Marin, da Universidade Federal de Lavras, Joaquim Dionísio Leão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Guilherme Wolff Bueno, do Centro de Aquicultura da Unesp, e pode ser acessado aqui.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
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