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Embaixadores de países-membros da Parceria das Declarações de Amsterdã conhecem Unidade
Foto: Breno Lobato
Diplomatas conheceram tecnologias sustentáveis como os sistemas ILPF e a Bioanálise de Solo
Uma comitiva de 10 representantes das embaixadas de países que compõem a Parceria das Declarações de Amsterdã visitou a Embrapa Cerrados na última terça-feira (28) para conhecer algumas das tecnologias que têm contribuído para a sustentabilidade da produção agropecuária no Bioma Cerrado. Integraram o grupo os embaixadores da Espanha, Mar Fernández-Palacios; da Dinamarca, Eva Bisgaard Pedersen; da Noruega, Odd Magne Ruud; e da Bélgica, Peter Claes, além de conselheiros agrícolas e assessores das embaixadas da Alemanha, da Itália, dos Países Baixos, da Espanha e da Noruega.
Criada em 2015 no contexto do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, a Parceria das Declarações de Amsterdã é composta por 10 países europeus – Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Itália, Luxemburgo, Noruega e Reino Unido – comprometidos em eliminar, até 2025, o desmatamento nas cadeias produtivas de commodities agrícolas que eles importam. Juntos, esses países representam a maior parte das importações europeias de carne e couro bovinos, cacau, café, dendê, borracha, soja e produtos madeireiros. Por meio da Parceria, promovem a cooperação com os atores dessas cadeias produtivas, buscando gerar investimentos financeiros na produção agrícola sustentável e melhorar o acesso de produtos obtidos de forma sustentável aos mercados.
“Trabalhamos com outros governos parceiros, com a sociedade civil e com o setor privado. Sabemos que o Brasil também está preocupado com o desmatamento e tem uma responsabilidade muito grande por ter uma riqueza florestal. Para nós, é importante conhecer os trabalhos desenvolvidos no País, e a Embrapa é essencial, em especial a Embrapa Cerrados, inserida no segundo maior bioma brasileiro, que tem a maior produção agrícola nacional”, disse a embaixadora espanhola Mar Fernández-Palacios. A Espanha está presidindo a Parceria durante o primeiro semestre de 2024.
Sebastião Pedro, chefe geral da Embrapa Cerrados, recepcionou o grupo e destacou a missão histórica da Unidade de desenvolver soluções tecnológicas para a agricultura do Cerrado, lembrando que as pesquisas realizadas nas primeiras décadas de fundação do centro visavam ao desenvolvimento de tecnologias para a incorporação dos solos do bioma à produção agropecuária brasileira – trabalhos que renderam o World Food Prize em 2006. Ele explicou que atualmente as pesquisas têm uma nova missão: gerar soluções sustentáveis para a produção de alimentos, fibras e energia.
“Estamos passando de um modelo de agricultura baseado em insumos químicos e físicos, que nos permitiu chegar até aqui, para um modelo de produção baseado em processos biológicos que permitem o melhor uso do solo, preservando a água e a atividade biológica do solo, e fazendo que as culturas capturem mais carbono do ar e o armazenem na matéria orgânica do solo, permitindo-nos produzir com menos insumos sintéticos”, explicou o chefe geral.
“A visita de vocês é muito oportuna. Podemos dialogar e caminhar juntos para obtermos uma produção agrícola que vai alimentar o mundo e ajudar não apenas a acabar com a fome, mas também a diminuir a poluição e as causas das mudanças climáticas. É uma missão de todos os países, e o Brasil vai contribuir muito com esse novo modelo de agricultura que estamos desenvolvendo”, completou.
Tecnologias para uma agricultura sustentável
A pesquisadora Ieda Mendes fez uma apresentação sobre a tecnologia Bioanálise de Solo (BioAS), que envolve a determinação da atividade de duas enzimas do solo – arilsulfatase, do ciclo do enxofre, e beta-glicosidase, do ciclo do carbono, relacionadas tanto com o teor de matéria orgânica do solo como com a rendimento de grãos das lavouras. As enzimas atuam como se fossem um “exame de sangue” do solo, detectando com maior antecedência problemas de saúde do solo antes que eles se reflitam em perdas de rendimento de grãos nas lavouras. As informações subsidiam a tomada de decisão para práticas adequadas de manejo do solo.
“O Brasil agora é o primeiro país onde o agricultor, ao enviar ao laboratório uma amostra de solo, passa a ter, além da avaliação das propriedades químicas do solo, uma ideia de como está o funcionamento da maquinaria biológica do solo. Quanto mais vida no solo, mais saudável ele será. E solos saudáveis são mais produtivos que solos doentes”, explicou, mostrando dados de lavouras mais produtivas e resilientes a eventos climáticos como veranicos (falta de chuva durante a floração das plantas) em áreas com solo quimicamente semelhante ao de outras, porém biologicamente mais saudável.
Mendes lembrou que, além de mais produtivos, os solos saudáveis permitem mais eficiência no uso de adubos, têm maior capacidade de biorremediação de defensivos agrícolas, proporcionam melhor qualidade nutricional dos grãos. Ela explicou como a tecnologia foi calibrada para indicar níveis baixos, moderados e elevados de atividade enzimática em diferentes solos brasileiros.
“Estamos com uma nova visão sobre as análises do solo, indo além do excesso ou da falta de nutrientes. Começamos a verificar a capacidade dos nossos solos funcionarem para ciclarem, armazenarem e suprirem nutrientes”, disse, acrescentando que os parâmetros físicos, químicos e biológicos foram agregados em Índices de Qualidade do Solo, calibrados quanto ao rendimento de grãos e à matéria orgânica em experimentos de longa duração com culturas anuais de grãos e fibras no Bioma Cerrado e no Paraná. No momento, 33 laboratórios comerciais estão habilitados a realizar a BioAS, fornecendo informações de mais de 35 mil amostras de solo para o banco de dados de uma plataforma web gerenciada pela Embrapa.
Na vitrine de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), os pesquisadores Roberto Guimarães Jr., Karina Pulrolnik e Robélio Marchão falaram sobre as modalidades dos sistemas integrados e as pesquisas realizadas pela Unidade sobre a tecnologia no Cerrado. Esses sistemas combinam cultivos numa mesma área e no mesmo ano agrícola, seguindo preceitos como o mínimo revolvimento do solo, diversificação de cultivos e cobertura do solo por todo o tempo, sem a supressão de vegetação nativa. Diversas opções de cultivos podem ser usados nesses sistemas, como a soja na primeira safra e o milho consorciado com uma forrageira, na segunda safra, com a formação de palhada para a safra subsequente e a criação de bovinos, bem como o uso de árvores exóticas como o eucalipto e espécies nativas como pequizeiro, baruzeiro, macaúba e seringueira.
“Hoje podemos falar com segurança que o Brasil pode duplicar a produção de grãos e de carne sem desmatar um hectare, apenas fazendo uso de tecnologia”, disse Guimarães Jr., acrescentando que os produtores que adotam os sistemas integrados podem diversificar a renda com lavouras de grãos, produção de carne e leite e madeira. “Para o pecuarista, a grande vantagem é a renovação da área de pastagem de baixa produtividade, associando-a com cultivos anuais como soja, milho, sorgo e milheto. A venda dos grãos amortiza o custo de formação da pastagem”, disse, acrescentando que um estudo da Embrapa Cerrados mostrou que a sombra das árvores proporcionou, além do bem-estar animal, aumento da produção de leite e da fertilidade bovinos zebuínos leiteiros.
Já para o agricultor, os principais ganhos com a adoção dos sistemas integrados são a formação de palhada, que faz a ciclagem de nutrientes para o sistema, além da conservação da umidade do solo e da proteção contra pragas, doenças e plantas daninhas; da economia com combustíveis fosseis, pois o solo não é revolvido; do aumento do teor de matéria orgânica do solo e da infiltração de água no solo; e da redução da necessidade de uso de fertilizantes.
Guimarães Jr. destacou o papel das raízes da braquiária, principal forrageira utilizada nos sistemas integrados, de estocarem carbono no solo em forma estável. Dados do experimento de longa duração com ILP conduzido na Embrapa Cerrados mostram que de 2002 a 2013 o armazenamento de carbono no sistema de integração (cerca de 1200 kg C/ha/ano) foi superior ao observado em uma área de cultivo contínuo com plantio direto (cerca de 800 kg C/ha/ano) e a outra com pastagens de baixa produtividade (cerca de 180 kg C/ha/ano).
O pesquisador apresentou um estudo mostrando que enquanto em pastagens degradadas há perda de carbono para a atmosfera, com apenas 15% da área da propriedade ocupado por sistemas de ILPF é possível neutralizar as emissões de gases de efeito estufa e ainda obter um adicional de carbono estocado nas árvores. Ao final, ele citou programas de certificação como Carne Baixo Carbono e Carne Carbono Neutro.
Impressão positiva
Para Fernández-Palacios, o grupo teve uma impressão muito positiva sobre as pesquisas da Embrapa Cerrados. “Pudemos conhecer a profundidade do trabalho que o governo brasileiro e a Embrapa estão fazendo para o desenvolvimento de técnicas que permitam uma agricultura sustentável. A Parceria reúne países preocupados com os desmatamentos por causa do efeito deles nas mudanças climáticas, e vemos que o Brasil também está preocupado com isso, realizando iniciativas concretas há muitos anos e intensificando suas atuações nos últimos anos. E o exemplo da Embrapa mostra que o País está trabalhando muito bem nessa matéria”, afirmou.
A embaixadora acredita que algumas das iniciativas brasileiras em agricultura sustentável poderão ser compartilhadas pelos países-membros da Parceria. Também elogiou o profissionalismo das equipes de pesquisa e o rigor científico dos trabalhos da Embrapa Cerrados. “São afirmações com embasamento científico muito forte. Ficamos muito gratos por vocês terem compartilhado todos esses conhecimentos conosco”, finalizou.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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