Nova cultivar de capim alia alta produtividade, fácil manejo e forragem de qualidade
Nova cultivar de capim alia alta produtividade, fácil manejo e forragem de qualidade
Photo: Rodrigo Alva
A planta superou outras cultivares de panicum tanto nas águas quanto na seca em desempenho animal.
A cultivar de capim BRS Quênia, que alia importantes atributos de qualidade para alimentação animal, será lançada na feira Dinâmica Agropecuária (Dinapec), que acontece de 8 e 10 de março em Campo Grande (MS). Com alta produção, forragem de qualidade e fácil manejo, o capim favorece a intensificação da produção animal e supre demandas de mercado por plantas da espécie Panicum maximum. A cultivar híbrida foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Associação para o formento à pesquisa de melhoramento de forrageiras (Unipasto) e as sementes devem estar disponíveis no mercado em agosto deste ano.
Resultado de décadas de estudos a BRS Quênia é a prova da experiência, dedicação e competência dos cientistas que trabalham com programa de melhoramento genético, no caso, de cultivares de Panicum maximum. “A BRS Quênia é uma combinação perfeita e por ser híbrida (resultado de cruzamento entre plantas) supera em todos os quesitos”. A afirmação é de sua criadora, a pesquisadora Liana Jank, que há dois anos juntamente com outros pesquisadores, lançou no mercado o primeiro híbrido de panicum, a BRS Tamani.
Trabalhar o melhoramento de plantas é uma necessidade para o Brasil que é o primeiro produtor e exportador mundial de carne. Sendo detentor do segundo maior rebanho bovino no mundo, com 209 milhões de cabeças (IBGE), com rebanho mantido basicamente a pasto, a busca por novas forrageiras, mais adaptadas e produtivas é uma constante. O trabalho de melhoramento genético é feito desde 1982 e a Embrapa já lançou várias cultivares como Tanzânia-1, Mombaça, Massai, Zuri, BRS Tamani e agora BRS Quênia com cruzamento realizado em 1990.
Os estudos passaram por uma série de seleções: visual, resistência a pragas e doenças, desempenho animal, pastejo, resposta à adubação e produção de sementes. A planta se sobressaiu em todos os ensaios que foram conduzidos nos Estados de Mato Grosso do Sul, Brasília, Rondônia, Acre, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Quanto ao desempenho animal – ganho de peso, taxa de lotação e produtividade, em experimento sob pastejo conduzido em Campo Grande por três anos, a planta superou outras cultivares de panicum tanto nas águas quanto na seca. A pesquisadora Liana Jank observa que mesmo não havendo diferenças significativas no ganho de peso, durante o período das águas, o desempenho animal foi 17,6% superior quando comparado com outra cultivar. E nos ensaios realizados sob pastejo no Bioma Amazônia, a cultivar BRS Quênia também foi superior no ganho de peso animal comparado ao capim Tanzânia, com peso vivo superior a 860 quilos por hectare na média dos dois anos de estudos, o que equivale a 28,7 arrobas por hectare por ano. Isso, segundo os pesquisadores, se deve ao fato de a BRS Quênia possuir colmos mais tenros, valor nutritivo superior com maior digestibilidade da matéria orgânica e maiores teores de proteína bruta. Ainda na região, em Rio Branco, no Acre, o comportamento da planta foi avaliado como intolerante ao encharcamento do solo, portanto, essa cultivar deve ser plantada em solos bem drenados – recomendam os pesquisadores.
Desempenho
Para um bom e rápido estabelecimento dessa planta e para manter sua produtividade a fertilidade do solo deve estar equilibrada. A quantidade de fósforo a ser utilizada, por exemplo, depende do nível de argila do solo; em solos muito argilosos - maior que 60% - a quantidade de fósforo deve ser de 4 a 5 mg/dm³ e em solos menos argilosos, - menor que 15% - a quantidade de fósforo deve ser de 18 a 21 mg/dm³. Deve-se também verificar os níveis de potássio, zinco e outros nutrientes, o que deve ser feito por meio de análise e por profissionais habilitados. “Na fase de utilização da pastagem, os níveis de reposição de nutrientes devem ser equivalentes aos níveis de produção animal, a fim de não diminuir a longevidade do pasto e a produção de carne ou leite”, recomenda a pesquisadora Liana.
Indicações de plantio e a superioridade da planta
O solo deve ser bem preparado para receber as sementes. A recomendação é utilizar de 3 a 4 quilos de sementes puras viáveis por hectare em uma profundidade de 2 a 5 cm. A semeadura também pode ser em plantio direto, dizem os pesquisadores envolvidos nos trabalhos. Eles afirmam que normalmente, 10 a 20% das sementes puras viáveis de panicum se estabelecem, e nesse caso, 20 plantas por metro quadrado é o mínimo para um estabelecimento razoável. Ainda segundo os especialistas, um número maior de plantas – 30 a 60 por metro quadrado – garante uma boa formação do pasto. Esta maior população proporciona uma rápida formação do pasto e cobertura do solo, além de reduzir a presença de plantas daninhas, evitar o escorrimento de água e a erosão do solo possibilitando com maior rapidez a utilização da pastagem e maior produção animal. Já o primeiro pastejo pode ser feito de 50 a 60 dias após o surgimento das plantas. E a altura ideal para entrar com animais é de 70 cm, “passou disso o pasto acama, mas mesmo assim o animal come, e essa é mais uma característica positiva e interessante desse novo hibrido”, diz Liana Jank.
Seis Unidades da Embrapa (Gado de Corte, Acre, Cerrados, Gado de Leite, Pecuária Sul e Rondônia) participaram dos estudos e a conclusão é de que o híbrido BRS Quênia possui alta qualidade de forragem e alto potencial produtivo quando cultivado em solos bem drenados, sendo indicado para sistemas intensivos de produção animal. “O principal diferencial da BRS Quênia, em relação às cultivares Tanzânia e Mombaça é a melhor arquitetura de planta, com touceiras de menor tamanho, maior densidade de folhas verdes e macias, colmos tenros e menores porcentagens de material morto, facilitando o manejo do pastejo e a manutenção da estrutura do pasto mais favorável ao elevado consumo da forragem pelo gado”, revela Liana Jank.
As boas características dessa nova cultivar foram também percebidas por um grupo de 19 pecuaristas que classificaram 23 tipos de Panicum maximum. A cada um dos capins foi atribuído uma nota e a BRS Quênia obteve a melhor classificação superando as cultivares Mombaça, Tanzânia, Milênio, Massai e Aruana.
Os estudos com a BRS Quênia continuam com análises de sua potencialidade para produção leiteira na Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco (MG) e na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP).
Informações detalhadas de todo trabalho realizado podem ser encontradas no comunicado técnico nº 138: O capim BRS Quênia (Panicum maximum Jacq.) na diversificação e intensificação das pastagens.
O lançamento do novo capim faz parte da programação dos 40 anos da Embrapa Gado de Corte, uma das Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Fundada em abril de 1977, a Unidade desenvolve tecnologias sustentáveis que aumentam a produtividade pecuária.
Eliana Cezar (MTb 15.410/SP)
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