08/03/17 |   Geotecnologia  Recursos naturais

Satélites e sistemas de informações geográficas ajudam a preservar Pantanal

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Do alto, é possível monitorar as planícies do centro da América do Sul, na bacia hidrográfica do Alto Paraguai, onde está localizado o Pantanal brasileiro. A aplicação das geotecnologias em pesquisas e estudos permite analisar de forma integrada essa área, uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta.

Com base em imagens de satélite, sistemas de informações geográficas, banco de dados georreferenciados e serviços de consulta e disponibilização de dados pela internet, o conhecimento sobre o Pantanal vai se ampliando. Com essas ferramentas, é possível acompanhar inundações e outros fenômenos naturais de grande abrangência, monitorar atividades e estruturas que causam impacto aos recursos hídricos, como mineração, hidrelétricas, indústrias, despejo de resíduos sólidos e poluição da água, além de controlar índices de biodiversidade e desmatamento.

“As geotecnologias são úteis para apoiar tanto o planejamento quanto a criação de diretrizes de conservação, pois permitem estudar grandes áreas e também ver os detalhes”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária João Vila, que desenvolve estudos e tecnologias para preservação do bioma há mais de vinte anos.

Usados para coleta, processamento, análise e oferta de dados geográficos, esses recursos tecnológicos têm sido empregados por vários estudiosos, uma vez que as ferramentas são transversais. Eles podem facilitar a observação tanto dos recursos naturais quanto das atividades produtivas, no sentido de orientar o uso e a ocupação de maneira sustentável. A implantação de boas práticas agropecuárias pelos produtores rurais, com economia de tempo e recursos financeiros, também pode ser favorecida.

MAIS ÁGIL QUE SATÉLITES

O uso dos drones, como são popularmente conhecidos, ou dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) para monitoramento agrícola e ambiental é uma das mais recentes novidades nas pesquisas desenvolvidas no Pantanal. Em processo de regulamentação para uso comercial no Brasil, esses equipamentos podem coletar e processar rapidamente diversas informações de grandes áreas ou de trechos específicos.

As aplicações são inúmeras e variadas, incluindo o monitoramento de culturas agrícolas, a identificação de áreas infestadas por pragas e doenças, a detecção de áreas inundadas ou com deficiência hídrica, apenas para citar alguns exemplos. Os dados obtidos também possibilitam acompanhar e medir o crescimento da vegetação natural e realizar estudos de impactos ambientais. Uma das principais vantagens é a obtenção mais rápida e detalhada de resultados, em comparação às imagens obtidas por satélite.

Com dados coletados por VANTs e sensores Radar, pesquisadores estão espacializando, em escala de detalhe, os macro-habitats e o avanço de espécies invasoras relacionadas com níveis de inundação em áreas úmidas em Poconé (MT), associando à modelagem tridimensional do terreno. A região norte do Pantanal possui elevada diversidade biológica e os resultados ali observados podem ser relacionados com outros existentes, que, integrados, são capazes de gerar informações para elaboração de políticas públicas de preservação e apoio à tomada de decisão para o manejo dessas áreas junto aos proprietários rurais, além de análises de órgãos ambientais.

O trabalho é coordenado pelo professor Gustavo Manzon Nunes, do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geotecnologias (LabSensoR), pertencente à Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Cuiabá. Já as pesquisas relativas ao mapeamento e à análise tridimensional de micro-habitats em áreas úmidas com o uso de VANTs são realizadas com apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (Inau) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).

GEOTECNOLOGIAS MONITORAM O BIOMA

Alertas sobre enchentes e outras análises são fundamentais para o trabalho de pecuaristas, ribeirinhos e pescadores  afetados diretamente pelas cheias. Avaliações e monitoramento são funções exercidas pelo GeoHidro-Pantanal (MS), sistema que reúne informações hidrometeorológicas e outros dados sobre a bacia do Alto Paraguai – Pantanal. Os dados são gerados pela Embrapa Pantanal, instituições de pesquisa parceiras e fontes oficiais no Brasil e no exterior.

“O sistema apoia o manejo dos recursos hídricos e outros recursos naturais da região do Pantanal, monitorando as inundações com uma periodicidade bastante curta (de oito em oito dias). Aliado a análises de diversas variáveis, como as chuvas e o nível dos rios, ele compõe uma ferramenta que subsidia a tomada de decisão antecipada, principalmente no caso de eventos extremos”, diz o pesquisador da Embrapa Pantanal Carlos Padovani. Ele completa: “As geotecnologias ajudam nas análises especializadas e na comunicação dessas avaliações com mapas interativos”.

O avanço do conhecimento na área das geotecnologias ao longo das últimas décadas também favorece a informatização dos processos de licenciamento ambiental no País. Com as ferramentas de tecnologia de informação integradas aos estudos de georreferenciamento e sensoriamento remoto, os governos estaduais e federal podem modernizar as análises e o monitoramento das licenças. Esse é o serviço oferecido pelo Sistema Interativo de Suporte ao Licenciamento Ambiental (Sisla), desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária, em parceria com o Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul). Com acesso gratuito disponível pela internet, consultores e empreendedores podem elaborar seus pedidos de licença usando a tecnologia.

REFORÇO AMBIENTAL

A intensificação dos processos erosivos é uma das maiores questões ambientais e socioeconômicas do Pantanal. O exemplo mais expressivo é o assoreamento do Rio Taquari, cujas margens são compostas por solos arenosos ocupados com pastagens degradadas. Para apoiar a solução desse problema, modelos matemáticos de predição de erosão e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) oferecem estudos de modelagem geoespacial capazes de estimar a perda de solo na bacia do alto Taquari (MT).

De acordo com o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite Sergio Galdino, a pecuária bovina representa o uso predominante das terras na região. A maior parte das pastagens é cultivada sobre solos profundos com textura arenosa e pobres em minerais, e corresponde a 30,1% da área da bacia, sendo que cerca de dois terços dessas pastagens apresentam algum nível de degradação por erosão, com solos expostos e ocorrência de plantas invasoras. O estudo, desenvolvido pela Embrapa Pantanal em cooperação com a Embrapa Monitoramento por Satélite (SP) e a Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ajustou modelos matemáticos às condições locais para calcular a taxa anual média de perda de solo.

Ainda que a taxa obtida esteja dentro do limite de tolerância,  Galdino ressalta que o avançado estágio de degradação por assoreamento em parte da área da bacia indica a necessidade de uma pronta intervenção para que esse processo seja mitigado. Segundo ele, a identificação de áreas mais críticas pode orientar iniciativas voltadas à recuperação de pastagens e ao aumento da produtividade da pecuária, como o Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (Programa ABC), do governo federal.

Com ferramentas de geotecnologias, o Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Embrapa Monitoramento por Satélite também realizou um trabalho de qualificação territorial da agropecuária e da socioeconomia pantaneira. O estudo reúne três grandes conjuntos de dados – agrários, agrícolas e socioeconômicos – para uma análise multifatorial do contexto da agropecuária na região, que pode resultar em programas para o desenvolvimento sustentável do bioma.

Outra geotecnologia desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária é o Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal (Siageo Amazônia), em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental (PA), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e governos estaduais. Ele contém uma base de informações com acesso interativo a mapas georreferenciados, documentos técnicos, marcos legais de zoneamento e informações tabulares e, assim, subsidia a elaboração de planos, programas e políticas para a região, incluindo a área do Pantanal em Mato Grosso.

Já o Sistema de Análise Temporal da Vegetação (SATVeg), criado com a empresa Agroicone, permite a observação de séries temporais de índices de vegetação por meio de imagens de satélite, oferecendo apoio a atividades de monitoramento agrícola e ambiental em todo o território brasileiro. Com ele, pode-se acompanhar o ciclo de uma cultura agrícola e sua intensificação, os desflorestamentos e até a detecção de cheias em regiões pantaneiras.

ÁREAS E AÇÕES PRIORITÁRIAS

O Pantanal não é apenas um. Estudos realizados pela Embrapa Pantanal identificam onze “Pantanais”, cada um com características próprias de solo, vegetação e clima. São eles: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque e Porto Murtinho. Portanto, um dos desafios oferecidos especificamente pelo bioma é o de percorrer grandes áreas alagadas e de difícil acesso. Devido à grande complexidade e muitas peculiaridades desse ecossistema, são necessários esforços diversificados, amplos e multidisciplinares que abrangem aspectos sociais, econômicos e ambientais.

Na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), um dos trabalhos feitos com parceria da Embrapa e coordenado pela professora Sandra Mara Alves da Silva Neves propõe a modelagem de indicadores ambientais para a definição de áreas prioritárias e estratégicas para recuperação de áreas degradadas no sudoeste mato-grossense. A pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fapemat, busca subsidiar ações preventivas e de restauração de ecossistemas sob um enfoque físico-geográfico, com representação cartográfica dos aspectos físicos do ambiente, que ainda proporcionam a percepção da espacialização e da integração dos dados ambientais.

Outro estudo, conduzido pela professora Edineia Aparecida Galvanin e financiado pela Fapemat, emprega imagens do satélite Landsat e técnicas de processamento de imagem e de classificação orientada a objeto para a análise temporal do uso da terra no Pantanal de Cáceres, em Mato Grosso, sub-região que apresenta uma das maiores extensões do bioma, representativa por sua composição estrutural, que favorece o desenvolvimento da pecuária, e sua grande importância econômica para o estado. O intuito é investigar os cenários de mudança da paisagem natural, gerando como resultados a classificação do uso da terra no município e um mapeamento mais eficaz da área, o que permitirá verificar as intervenções humanas em locais onde houve a supressão da vegetação natural para a inserção de pastagens cultivadas.

Já a pesquisa para recuperação das nascentes e fragmentos de mata ciliar do córrego do Assentamento Laranjeiras, em Cáceres, propõe um diagnóstico ambiental dessas áreas por meio de geotecnologias como sensoriamento remoto, SIG e banco de dados geográficos. Com isso, a equipe, coordenada pela professora Solange Kimie Ikeda Castrilon e financiada pelo Ministério do Meio Ambiente, visa subsidiar ações de manejo e recuperação da região.

Em parceria com a Unemat, há estudos liderados pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) direcionando o enfoque aos povos que habitam a região pantaneira. Uma das pesquisas, conduzida pela professora Beatriz Lima de Paula e financiada pelo CNPq, identifica, analisa e mapeia áreas suscetíveis à inundação no Pantanal, observando situações de risco que atingem as comunidades ribeirinhas Paraguai-Mirim e Barra do São Lourenço do Pantanal sul-mato-grossense.

Na Barra do São Lourenço, o intuito das pesquisas é identificar, mapear e caracterizar a forma de convívio com a natureza característica dessa população para elaborar um diagnóstico socioambiental e um banco de dados para uso de órgãos públicos e entidades que atuam no local, ajudando na sustentabilidade da comunidade.

NA ERA DIGITAL

A variação hídrica também impacta a pecuária bovina do Pantanal de Mato Grosso do Sul, onde os rebanhos são deslocados para se adaptarem às inundações naturais da região. Essa dinâmica, no entanto, é prejudicada em períodos de cheias ou secas extremas, refletindo no aumento de custos de produção e até na morte de animais. Para investigar o fenômeno, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) observaram dados hidrometeorológicos e do trânsito mensal de bovinos, com coordenação do pesquisador Gilvan Sampaio de Oliveira.

Outro trabalho sobre a água no Pantanal é conduzido pelos pesquisadores Laercio Namikawa e Emiliano Castejon, também do Inpe. Por meio das imagens do satélite RapidEye, é possível criar um mapeamento dos corpos de água da região, resultando em informações úteis tanto para o gerenciamento dos recursos naturais como para a definição de Áreas de Preservação Permanente.

Com o advento da era digital, a partir do ano 2000, o Inpe dedicou-se à evolução na forma de monitorar seus domínios tropicais. Atualmente, por meio de um projeto de pesquisa denominado de Panamazônia II, o Instituto coordena o mapeamento das alterações da cobertura vegetal em Cáceres (MT). O município foi selecionado em razão de suas coberturas vegetais diferenciadas e das alterações nelas ocorridas a partir de 1973, marco inicial do arquivo de imagens usadas no estudo. O amplo projeto de monitoramento da Floresta Amazônica, conhecido como Panamazônia, que nasceu ainda na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente de 1992, gerou tabelas de desflorestamento do período entre 1980 e 1990 mediante o uso de imagens de satélite TM-Landsat.

Essas iniciativas demonstram a importância de se estabelecer geotecnologias voltadas especificamente ao Pantanal, que não só auxiliem o monitoramento de desmatamentos e inundações como gerem dados úteis para ações de preservação ambiental e tomadas de decisão de gestores, agências de financiamento e produtores rurais. Além disso, a aplicação e a disseminação dessas tecnologias enriquecem o conhecimento sobre a região pantaneira, impulsionando o compartilhamento de informações entre instituições, pesquisadores e estudantes, o aprimoramento das disciplinas acadêmicas e a formação de pessoas qualificadas para garantir a conservação do bioma.

 

Navegue: Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geotecnologias da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

 

Nadir Rodrigues
Embrapa Informática Agropecuária

Beatriz Guimarães (colaboradora)
Embrapa Informática Agropecuária

Juliana Miura
Secretaria de Comunicação (Secom)

Nicoli Dichoff
Embrapa Pantanal

Graziella Galinari
Embrapa Monitoramento por Satélite

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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