10/05/17 |   Gestão Estratégica

Grupo analisa modelos de ACV em mudanças do uso da terra

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Foto: Arquivo Ibict.

Arquivo Ibict. - Renan apresentando Modelo BRLUC

Renan apresentando Modelo BRLUC

Em 8 de maio, um dia antes do início do II Fórum Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida (II BRACV), ocorreu o seminário “Land Use Change in LCA studies”, realizado pela Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e Quantis. O evento contou com profissionais familiarizados com o tema Mudança de Uso da Terra (MUT) e especialistas em ACV que utilizam modelos nessa área.

Marilia Folegatti, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e coordenadora do evento, fez uma introdução ao assunto ACV como ferramenta de avaliação de impactos ambientais com base em contabilidade ambiental. “Essa ferramenta foca no produto ao longo de sua vida, com todos os insumos, desde o início com o uso de recursos naturais até a sua devolução em forma de poluentes ou produtos. A mudança climática é uma das categorias analisadas por essa ferramenta”.

Logo depois o consultor da empresa Quantis, Simon Gmünder, apresentou o arcabouço teórico e o estado da arte sobre a abordagem do processo de mudança do uso da terra em estudos de ACV. Conforme o consultor, o desmatamento e outros tipos de mudança de uso da terra possuem uma contribuição importante para as emissões de gases do efeito estufa (GEE).

Agropecuária, silvicultura e outras atividades ligadas ao uso da terra são responsáveis por cerca de 24% das emissões de globais de GEE, o que os coloca como o segundo setor da economia com maior emissão, depois do setor energético. “Destas emissões, cerca de 50% são atribuídas aos processos de uso da terra e MUT, como por exemplo, o desmatamento. Para empresas que possuem em sua cadeia de suprimentos bens e serviços relacionados à agropecuária e à silvicultura, a MUT pode estar entre os processos com maiores impactos da empresa nas mudanças climáticas”, explica Simon.

Apesar do reconhecimento da relevância dessas emissões relacionadas à MUT, atualmente não há um consenso sobre como mensurá-las. “Os modelos estão em desenvolvimento, explicou o consultor, não estamos aqui com respostas finais”.

Além disso, foram abordadas questões como os diferentes conceitos de mudança de uso da terra usados nos padrões e bases de dados de ACV internacionais, e quais são os principais aspectos da modelagem que afetam os resultados.

No segundo momento, foram apresentados dois modelos para contabilização da mudança de uso da terra. Gmünder apresentou o modelo da Ecoinvent 3.3, que é uma proposta da instituição Ecoinvent para adoção em toda sua base de dados de ACV, uma das principais e mais utilizadas no mundo.

Em seguida o analista da Embrapa Meio Ambiente Renan Milagres apresentou o modelo BRLUC desenvolvido pela Embrapa em parceria com o Instituto KTH da Suécia. O modelo foi recentemente publicado em uma revista internacional e inclui diversas inovações para melhor representação da realidade brasileira  (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/gcb.13708/abstract).

O trabalho consiste na disponibilização de uma metodologia para estimativas de emissões de CO2 derivadas de mudança do uso da terra associada a mais de 60 produtos agrícolas brasileiros e seus resultados para o período 1995-2014. Seu principal objetivo é disponibilizar essas estimativas de forma fácil e detalhada para estudos de pegada de carbono e avaliação de ciclo de vida, nos quais essa informação é obrigatória, de impacto muito grande e de difícil cálculo. Várias metodologias e estimativas internacionais existem, no entanto, assumem premissas muito grosseiras sobre a realidade brasileira. Muitas não consideram, por exemplo, a existência de múltiplas safras no mesmo ano, a heterogeneidade do território brasileiro e a incerteza sobre o padrão de mudança de uso da terra. Essas questões são consideradas no artigo e resultam em taxas de emissões com diferenças de até uma ordem de grandeza para estimativas internacionais.

A metodologia está baseada em standards internacionais e foi publicada em uma revista de alto impacto (GlobChaBio, JRC 8.4, nº4/225 na área de Environmental Sciences e nº 1/49 em Biodiversity Conservation). Ela já está sendo avaliada pela Ecoinvent, uma das principais bases de dados do ciclo de vida internacionais, para sua adoção como referência para o cálculo Brasil. Além do Ecoinvent, outras instituições brasileiras que trabalham com estudos de pegada de carbono já demonstraram interesse nela, como a Fundação Getúlio Vargas e a Fundação Espaço Eco.

Montserrat Carbonel trabalha na sede da área industrial da Petrobras, que envolve a produção de combustíveis e veio ao evento para aprendizado e atualização. Para ela foi muito interessante conhecer melhor os aspectos e premissas dos diversos modelos de uso da terra e, em especial, o BRLUC, o modelo regionalizado desenvolvido pela Embrapa para representar melhor as condições brasileiras.

Ao fim, houve uma discussão entre os especialistas sobre possíveis incorporações de novos dados e parâmetros e aprimoramentos nos modelos.

 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

Telefone: 19 3311 2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/