Embrapa Agrossilvipastoril
Expansão agrícola interfere na qualidade da água de pisciculturas no reservatório de Ilha Solteira, SP
Expansão agrícola interfere na qualidade da água de pisciculturas no reservatório de Ilha Solteira, SP
É amplamente aceito que as pisciculturas têm uma contribuição importante para a entrada de nutrientes na água, no entanto, ainda faltam conhecimentos fundamentais sobre a influência do uso e cobertura da terra na qualidade da água das pisciculturas. Assim, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) avaliaram as relações entre os tipos de uso e cobertura da terra e os parâmetros de qualidade de água em quatro pisciculturas instaladas no reservatório de Ilha Solteira, SP. Também buscaram delinear e analisar essas mudanças nas sub-bacias dos tributários onde estão instaladas. O estudo completo está disponível aqui.
Os resultados indicaram sinais de eutrofização em uma das pisciculturas nas estações seca e chuvosa. De acordo com Jorge Portinho do Departamento de Biodiversidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um dos autores do artigo e um dos colaboradores do projeto BRS-Aqua junto à Embrapa, a eutrofização, com relação à aquicultura, é um processo de enriquecimento artificial de nutrientes da água e isso pode causar um bloom de algas, ou seja, o crescimento excessivo de algas na água.
A maior preocupação, na piscicultura, é que esse enriquecimento artificial ocorre principalmente pelo excesso de ração, que é rica em nutrientes, que fica sobrando na água. Com essa abundância, as algas crescem muito, gerando impacto ambiental pela competição por oxigênio com os peixes, e comprometem o nível de oxigênio. Além disso, por ter ciclo de vida muito curto, quando as algas morrem, geralmente de uma vez só, ocorre a decomposição, que também consome oxigênio, o que pode gerar um impacto econômico, pois pode causar um gosto ruim no peixe, o chamado off flavour.
O principal fator de influência – diminuição da pastagem e aumento da cultura da cana-de-açúcar – foi observado nas quatro sub-bacias entre 2005 e 2018. Por exemplo, em termos de área, a pastagem diminuiu de 511,95 km2 em 2005 para 439,37 km2 em 2018, enquanto a cana-de-açúcar aumentou de 0,58 km2 em 2005 para 41,31 km2 em 2018 em uma das sub-bacias estudadas. A partir dos dados de 2018, os pesquisadores avaliaram a relação entre uso e cobertura da terra e a qualidade da água das pisciculturas instaladas nas sub-bacias. Os resultados indicaram uma correlação positiva significativa do sulfato e potássio da água das pisciculturas com a cultura de cana-de-açúcar, principalmente na estação chuvosa, explica Portinho.
Ele esclarece que a fonte mais provável desses parâmetros destacados pode vir da fertilização mineral, da decomposição da palhada da cana-de-açúcar e da aplicação de vinhaça para irrigar e fertilizar as lavouras. As concentrações de sulfato, magnésio e potássio observadas não causaram efeitos tóxicos diretos à tilápia-do-Nilo.
No entanto, impactos indiretos na qualidade da água devem ser esperados devido ao aumento da produção primária e promoção da eutrofização da água, conforme observado em uma das pisciculturas. Estudos desse tipo, que consideram transformações no uso e cobertura da terra versus impactos ambientais para aquiculutura, ainda são escassos no Brasil, sendo que representam uma informação preciosa tanto no planejamento da atividade, quanto na estimativa real do quanto a ocupação do entorno pode influenciar na mesma, destaca o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e um dos autores do artigo, Luiz Eduardo Vicente.
Com base nos resultados, os autores sugerem que o critério “características da bacia”, incluindo futuras expansões da cana-de-açúcar, deve ser adotado para reunir informações na identificação de áreas mais adequadas para parques aquícolas que o governo brasileiro pretende instalar nos grandes reservatórios. Um processo chamado de concessão de outorga e que prescinde de informações desse tipo.
A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Luciana Spinelli destaca que o trabalho realizado insere-se numa proposta de métodos de baixo custo utilizando técnicas de sensoriamento remoto voltadas para grandes áreas, justamente para o atendimento de demandas de planejamento estratégico governamental, de forma que espera-se que sua aplicação seja contínua em outros locais de piscicultura.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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