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Tecnologia prioritária para o controle da Spodoptera frugiperda na África é tema de capacitação na Embrapa
A Embrapa Milho e Sorgo ministrou o curso internacional “Spodoptera frugiperda e seu manejo com tecnologias sustentáveis voltadas para países africanos”, em Sete Lagoas-MG. O evento ocorreu de 8 a 19 de julho, para representantes do Instituto Nacional de Investigação e de Desenvolvimento Agrário (INIDA), de Cabo Verde, e do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique, por meio do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM). O treinamento buscou, também, ensinar as técnicas de produção do Trichogramma em biofábrica.
A lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), uma das principais pragas que atinge as lavouras dos países africanos, chegou ao continente em 2016. Nesta época, o pesquisador Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo, e sua equipe já realizavam projetos de pesquisas e de transferência de tecnologia referentes ao manejo integrado e ao controle biológico de pragas, cujos resultados poderiam ser adotados em diferentes regiões do continente africano.
Para difundir ainda mais as tecnologias de manejo e controle biológico da praga e mitigar os efeitos negativos do ataque, em maio de 2019, Ivan Cruz foi convidado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para ministrar um treinamento teórico sobre manejo e controle biológico da lagarta-do-cartucho do milho, em Praia, Cabo Verde. Neste evento, participaram técnicos de Guiné-Bissau, Moçambique e de Cabo Verde. “Todos eles preocupados com a entrada da Spodoptera frugiperda, que já causava severos prejuízos na cultura do milho”, relata o pesquisador.
Para Cruz, todo esse cuidado envolveu a prevalência de alguns fatores principais. “Primeiro, porque o milho é a base da alimentação humana e, em muitos países do continente africano, as lavouras são familiares e conduzidas, na sua maioria, pelas mulheres”, diz.
Segundo porque, quando a praga entrou na África, muitos órgãos internacionais propuseram soluções para resolver o problema, com o uso de agroquímicos e de milho Bt. O Bt é o milho geneticamente modificado, no qual foram introduzidos genes específicos da bactéria de solo Bacillus thuringiensis (Bt). Esses genes promovem na planta a produção de uma proteína tóxica específica para determinados grupos de insetos.
“Porém o uso destas duas tecnologias, na realidade, apresentam seus pontos positivos e negativos. Os negativos são os mais relevantes, uma vez considerada a participação de pequenos produtores, sem nenhum ou com pouco conhecimento sobre a nova praga. Ou seja, sem a tradição de aplicar produtos químicos e de usar equipamentos de proteção individual”, ressaltou Ivan. “Além disso, em muitos países africanos, o lençol freático é muito próximo da superfície da terra, e com certeza, haveria um efeito colateral de contaminação da água pela aplicação dos químicos”, diz.
Cruz, explica também que, no caso específico de uso de transgênicos, em muitos países, existe a barreira ideológica de não aceitar a tecnologia. “Além do mais o milho Bt, considerado uma alta tecnologia, tem custo elevado e não está difundido na África. Portanto, não haveria uma resposta adequada de sua aplicação”, explicou.
“É neste ponto que entra o conhecimento da Embrapa, principalmente da equipe da Unidade Milho e Sorgo, com relação ao uso do controle biológico. Esta tecnologia pode ser feita de duas formas: por meio da utilização de macrorganismos, como os insetos; e por meio de microrganismos que provocam doenças na praga”, destaca Cruz.
“O Brasil foi muito demandado para ajudar os países africanos a implantar programas que pudessem ser eficientes neles, com riscos mínimos para as pessoas e para o ambiente. Em função de eficiência, baixo custo e facilidade de ser produzido, o inseto denominado Trichogramma spp., uma pequena vespa, que vive exclusivamente de ovos de várias pragas, incluindo a Spodoptera frugiperda, foi considerada a tecnologia prioritária para uso no continente africano”, informa o pesquisador da Embrapa.
“Então, já em parceria com a FAO, durante o treinamento realizado em maio de 2019, foi definida a necessidade de uma nova capacitação, com aulas práticas e complementares a serem realizadas no Brasil, na Embrapa Milho e Sorgo”, lembra Cruz.
“Aqui, os participantes têm a oportunidade de aprender a implantar uma biofábrica em seu país de origem, para produzir a vespa. Todas as ações serão acompanhadas e comandadas pelos principais organismos de pesquisa e extensão da África. Além disso, eles ficarão responsáveis pela transferência de tecnologia para os produtores e a provisão do insumo biológico para as áreas cultivadas”, informa Cruz.
“Neste primeiro momento, recebemos os representantes de Cabo Verde e de Moçambique. Esperamos receber outras delegações africanas, para ministrar os treinamentos. Além da FAO e da Embrapa, estas atividades recebem o apoio dos Governos de Cabo Verde (INIDA) e Moçambique (IIAM) e da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped).
Treinamento prático e apoio da Embrapa
O entomologista, Jorge Brito, do departamento de Agricultura do INIDA, trabalha com o controle integrado das pragas, com especial ênfase para o controle biológico. “Sou responsável pela introdução, criação, multiplicação e liberação dos inimigos naturais contra as pragas, no campo”, informa.
Brito ressalta que o controle integrado de pragas é uma prerrogativa do governo de Cabo Verde. “Estamos aqui no Brasil para aprender especificamente sobre o manejo e controle da lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda). Mas tenho trabalhado contra as pragas importantes de outras culturas, como a lagartinha-da-couve (Plutella xylostella), broca-da-cana-de-açúcar e do milho (Sesamia nonagrioides) entre outras”, diz Brito.
Brito relata que em Cabo Verde, diferentemente do Brasil, eles precisam controlar a Spodoptera , principalmente, na cultura do milho cultivado em regime pluvial (ou de sequeiro). “Nossos agricultores têm pouco recurso financeiro. Por isso, o governo investe na promoção do controle biológico de pragas. “Temos dez ilhas, sendo nove habitadas. Planejamos liberar o Trichogramma e Telenomus nas lavouras das quatro ilhas mais agrícolas do país, consideradas prioritárias: Santo Antão, Santiago, São Nicolau e Fogo. A produção de milho abastece o mercado de Cabo Verde”, informa Brito.
“Convém dizer, também, que o parasitoide Trichogramma servirá para combater outras pragas importantes, como a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) e a Helicoverpa armigera. Por isso será de grande utilidade para nós. Inclusive, temos uma pequena unidade de criação dos inimigos naturais denominada “Insetário”, que será utilizada para a criação do Trichogramma”, completa.
“Essa capacitação aqui no Brasil surgiu na sequência da que tivemos em Praia. É uma oportunidade para recebermos a assistência total da Embrapa, principalmente do Dr. Ivan Cruz e de sua equipe. Agradecemos pela receptividade e por esta formação prática, de excelência, que vai permitir, de fato, termos uma criação efetiva de inimigos naturais para o controle biológico da lagarta-do-cartucho em Cabo Verde”, declarou Brito.
A bióloga Aline Helena Rodrigues Rendall Monteiro, assistente graduada de investigação do departamento de Ambiente do INIDA, em Cabo Verde, ressalta que o instituto faz a pesquisa agropecuária para atender as demandas dos agricultores.
“Em nossa região prevalece a cultura de grãos, cereais, com destaque para as culturas do milho e feijão associados, que são utilizados para consumo local. Produzimos, sobretudo na época de chuva. E o milho é a base para os principais pratos nacionais”, diz Monteiro.
Já em Moçambique, o milho é considerado uma cultura básica para a alimentação humana. A produção é destinada para consumo local e o excedente, à importação. “Ainda não temos uma biofábrica”, relata o engenheiro agrônomo Adérito Lázaro, do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar.
Segundo ele, a Spodoptera frugiperda já está em todo o país. E o controle biológico já é usado para outras culturas, mas não para o milho. “Viemos para aprender a produzir os inimigos naturais para o manejo da lagarta-do-cartucho, chamada de lagarta-do-funil em Moçambique. A nossa esperança é conseguir controlar esta praga. E este curso é muito benéfico e proveitoso, pois estamos aprendendo a fazer de forma prática e como aplicar no campo”, disse.
Para o pesquisador Hipólito Alberto Eduardo Malia, entomologista do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, a Spodoptera é uma praga que chegou há pouco tempo no país, e por isso é um grande desafio para eles. “Juntamos forças em diversas instituições de pesquisa, universidades e empresas de extensão. Basicamente, nós pesquisadores queremos saber o que a Embrapa já faz para controlar esta praga. Agora, com este treinamento, temos condições de fazer o levantamento das necessidades de Moçambique e iniciar a criação dos inimigos naturais. Por outro lado, abre-se uma nova linha de pesquisa, que vai aumentar as atuais opções de manejo já disponíveis”, concluiu Hipólito.
Sandra Brito (MG 06230 JP)
Embrapa Milho e Sorgo
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