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Live Inovações em cana-de-açúcar debateu novidades e desafios para o setor
Promovida pela Embrapa Agroenergia, debate envolveu representantes do CTC, Syngenta, Ridesa, UDOP, IAC e Feplana
A Embrapa Agroenergia promoveu, nesta quinta-feira, 16/07, mais uma reflexão sobre como o desenvolvimento de novas variedades e o uso da biotecnologia podem contribuir para alavancar a cultura da cana-de-açúcar, que tem o Brasil como principal produtor mundial (cerca de 40% de toda a cultura mundial). Um time de especialistas formado por representantes do CTC, Syngenta, Ridesa, UDOP, IAC e Feplana debateu as principais novidades e desafios para o setor. Passaram pela live mais de 2 mil pessoas, e 150 permaneceram durante toda a transmissão.
Adoção de biotecnologia
A live “Inovações em cana-de-açúcar” teve início com um debate sobre como a biotecnologia e a adoção de novas tecnologias pode tornar o setor canavieiro mais competitivo. Para Leandro Amaral, diretor de negócios da Syngenta, é importante que o setor tenha mais competitividade e sustentabilidade. Ele citou quatro desafios: colaboração entre as instituições, a percepção de valor para a biotecnologia, o desenvolvimento de capital humano e a comunicação. “O agro já fortaleceu a sua imagem, mas precisamos posicionar o setor do ponto de vista externo e interno também”, disse.
Antonio Salibe, presidente executivo da União Nacional da Bioenergia (UDOP), afirmou que, além da biotecnologia, é preciso desenvolver a matriz industrial do setor. “Precisamos trabalhar com produtividade de 10 a 12 mil litros de etanol por hectare (hoje o setor produz de 5 a 7 mil), e para isso precisamos fechar parcerias e trazer os resultados das pesquisas para o conhecimento dos gerentes”, disse Salibe.
Recentemente, a UDOP lançou a campanha #AbasteçaComEtanol, para estimular o consumo do biocombustível. “A parte ambiental vai ser muito exigida no pós-pandemia, teremos um nacionalismo forte nos países, então se continuarmos abastecendo nossos veículos com petróleo importado estaremos sendo burros”, afirmou.
Diego Ferres, gerente de P&D do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), falou de três pilares/desafios principais, classificados por ele como físicos, culturais e financeiros. O primeiro deles diz respeito às dificuldades inerentes à própria cultura, cuja propagação é vegetativa, para a introdução de novas tecnologias. O segundo desafio diz respeito, segundo Ferres, a um setor considerado por ele bastante conservador que demora a adotar novas variedades e o terceiro e último estaria relacionado à heterogeneidade em termos de capacidade financeira, o que também prejudicaria a integração mais rápida de tecnologias. “Ainda temos muito valor a ser criado, especialmente se trabalharmos de forma integrada a biotecnologia e o manejo”, disse Ferres.
João Bespalhok, diretor de biotecnologia da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), lembrou que a transgenia é um grande desafio para o setor. “Se quisermos trabalhar com edição gênica precisamos conhecer melhor o genoma da cana”, disse. Segundo Bespalhok, quando comparada a outras culturas como soja, milho, algodão e canola, a cultura da cana necessita de mais investimentos de multinacionais e parcerias público-privadas para adotar novas tecnologias.
Luís Scabello, diretor da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), falou do papel da cana na redução da pegada de carbono e da política Renovabio, que dará “nota” aos produtores. “Haverá um momento em que teremos que reduzir o consumo de nitrogenados e derivados de petróleo”, disse. Scabello também reforçou que a matriz de preço não está condizente com a matriz de custo do produtor, mas que há uma grande abertura para o setor utilizar as novas tecnologias.
Marcos Landell, diretor do Instituto Agronômico (IAC), comparou a cultura da cana a um “pré-sal verde”. “Hoje a velocidade de incorporação da MPB (Muda Pré-brotada) mais Meiose (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente) está adiantando em quatro anos a utilização de novas cultivares”, afirmou. Para Landell, a biotecnologia tem que ser inserida nesse contexto, em especial a edição gênica, que, segundo ele, é complementar ao melhoramento.
Por fim, Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia, enumerou quatro benefícios que a transgenia poderá trazer para o setor sucroalcooleiro: o aumento da produtividade em três dígitos ou 10 mil litros/hectare; a redução no uso de defensivos agrícolas; a redução da emissão de CO² e do custo da produção. “O Brasil já tem 22 anos de transgenia. Um estudo recente publicado na revista britânica PG Economics mostrou que, em 15 anos de adoção, para cada dólar investido em transgênico houve um retorno de 4,42 dólares. Isso sem falar nos ganhos ambientais com a redução de 23 bilhões de litros de CO², o que equivale a tirar 15,3 milhões de carros das ruas”, relatou o pesquisador.
Segundo Hugo, é preciso fazer com que a cana-de-açúcar entre no patamar de adoção de culturas como a soja (96%), o milho (89%) e o algodão (84%) e se beneficie das novas tecnologias, sejam elas qual forem”.
O pesquisador também falou da importância das parcerias, da questão do financiamento e dos gargalos técnicos que ainda precisam ser superados. “Não vamos reinventar a roda, mas incorporar características já consolidadas para outras culturas”. E finalizou: “A gente precisa um do outro para crescer e tornar o setor cada vez mais competitivo”.
Uso das tecnologias disponíveis
A segunda pergunta do debate, conduzido pelo moderador João Ricardo Almeida, chefe de P&D da Embrapa Agroenergia, foi relacionada ao uso das tecnologias já disponíveis para a cultura da cana. Segundo Almeida, haveria um gap de 20 anos de biotecnologia em cana se comparada a outras culturas.
Para Diego Ferres (CTC), é preciso acelerar a curva de adoção em cana das tecnologias que já foram provadas em outras culturas. “Hoje 55% da área colhida de cana é de variedades que tem mais de 15 anos, mas culturalmente o setor está mudando. Acredito que vamos conseguir de forma rápida repetir o ganho que tivemos com outras culturas”, afirmou. Como pontos positivos, Ferres citou a existência de marcos regulatórios sólidos no Brasil, como os relacionados à propriedade intelectual. “Temos um ambiente propício para o desenvolvimento da biotecnologia de cana no Brasil”, afirmou.
Para Leandro Amaral (Syngenta), o gap tecnológico do setor de cana é também um potencial para a criação de valor. “A cana é um setor estratégico e cada vez será mais importante, pois afeta a questão ambiental como nenhum outro cultivo”, afirmou.
Ações governamentais
O terceiro tema lançado para o debate foi como os agentes públicos podem contribuir para melhorar o setor de cana no Brasil. Para Luís Scabello (Feplana), a proposta de criar um Funcana deveria ser repensada, assim como já existem os fundos para a citricultura (Fundecitrus) e para o café (Funcafé).
“Quando muitos pagam, paga-se menos”, disse, referindo-se à importância dos investimentos no setor. “Precisamos ter alternativas de financiamento mas sem tirar o papel do Estado e da iniciativa privada”, disse.
Antonio Salibe (UDOP) lembrou de iniciativas como o Proálcool (década de 70) e os carros flex (2003), que impulsionaram o setor. Segundo ele, hoje o maior acerto é a política do Renovabio, que insere os biocombustíveis na matriz energética brasileira.
“Com o Renovabio sabemos quanto temos que produzir nos próximos 10 anos e quanto teremos que produzir para ganhar em CBios”, disse, referindo-se ao modelo de remuneração extra além do preço do biocombustível. Salibe elogiou o protagonismo da Embrapa na construção do RenovaCalc, a calculadora do Renovabio.
Parcerias
O último tema proposto para o debate foi a importância das parcerias para impulsionar o setor sucroenergético. Para Marcos Landell (IAC), é preciso identificar os atores, prospectar demandas, configurar a atuação dos parceiros e estabelecer metas para chegar aos pacotes tecnológicos. “Trabalhar com parcerias ajuda no financiamento das pesquisas”, destacou, citando o projeto Pluricana, que congrega instituições públicas para impulsionar as pesquisas com cana-de-açúcar no Brasil. João Bespalhok (Ridesa) também citou o mesmo projeto.
Para o pesquisador Hugo Molinari, é fundamental ter parcerias e projetos de integração em frentes estratégicas. “Precisamos ouvir as demandas do setor, trabalhar com o setor privado para alavancar a pesquisa com menos burocracia. Neste sentido, a Embrapa está se reinventando para melhorar a agilidade e interlocução com o setor privado”, disse o pesquisador.
Antonio Salibe (UDOP) lembrou que é necessário aprimorar os sistemas de produção, um complemento à adoção de novas tecnologias. “Com estradas esburacadas, uma Ferrari não anda”, comparou.
João Ricardo Almeida, chefe de P&D da Embrapa Agroenergia, reforçou que a instituição está aprendendo a ouvir as “dores” do setor produtivo, e com isso fazendo projetos mais focados em pesquisa aplicada ao setor produtivo. “Trabalhamos no codesenvolvimento de pesquisas, o que permite a divisão dos custos”, resumiu.
Já Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, lembrou que o setor da cana tem várias oportunidades para inovar, sejam práticas agrícolas, sejam processos industriais, e que a biotecnologia tem o potencial de antecipar ganhos futuros. “Precisamos atuar de forma sinérgica capitalizando o know-how de cada um. Juntos, podemos fazer muito mais do que fazemos sozinhos”, concluiu.
Próxima live: Bioinsumos e bioprodutos
No dia 23 de julho, às 14h, no canal da Embrapa no Youtube, acontecerá a próxima live da Embrapa Agroenergia. Desta vez o tema será “Bioinsumos e bioprodutos: como agregar valor à nossa biodiversidade/agro por meio de ciência e tecnologia”.
O objetivo é discutir as oportunidades para o desenvolvimento de bioprodutos e bioinsumos a partir da biodiversidade/biomassas brasileiras. Saiba quais são as tecnologias portadoras de futuro que permitirão expandir o setor e aumentar a qualidade dos produtos.
Participarão da live Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Guy de Capdeville, Diretor-executivo de P&D da Embrapa; Fernando Camargo, secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do MAPA, Cleber Soares, diretor do Departamento de Apoio à Inovação para Agropecuária do MAPA,Thiago Falda, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), e Mateus Schreiner, Global Manager da Braskem, .
A live será transmitida pelo canal da Embrapa no YouTube neste link.
Irene Santana (Mtb 11.354/DF)
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