Embrapa Amapá
Congresso de Agroecologia 2017 – Embrapa Meio Ambiente participa com trabalhos e relatos técnicos
Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) irão apresentar 15 trabalhos, entre artigos científicos e relatos técnicos, em parceria com a UFSCar, Unicamp, Unesp, FAJ, Universidade Politécnica de Campinas, Esalq, Mutirão Agroflorestal e UFV, no X Congresso Brasileiro de Agroecologia, que neste ano será realizado conjuntamente com o VI Congresso Latino-Americano de Agroecologia e o V Seminário de Agroecologia do Distrito Federal, em Brasília, DF, de 12 a 15 de setembro de 2017.
Dentre esses trabalhos, um artigo trata da sistematização de informações sobre as experiências agroflorestais no Estado de São Paulo, com base nas 10 edições dos Congressos Brasileiros de Sistemas Agroflorestais (CBSAFs), realizadas entre 1994 e 2013. Outro artigo identificou os produtores certificados de frutas orgânicas do Circuito das Frutas, em São Paulo, com base em consultas ao Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Plano de Manejo Orgânico da Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC), com a identificação de 44 agricultores, que no conjunto cultivam 25 tipos diferentes de frutas, com maior ocorrência de banana, morango, limão e laranja.
Um dos artigos, de autoria de um bolsista da Unesp de Jaboticabal, trata do monitoramento de SAFs com o uso de AutoCAD, visando mostrar sua evolução e criando mapas que auxiliam a identificação de todas as plantas, o que permite acompanhar as mudanças no sistema, como eventuais mortes e substituição de espécies.
Quatro trabalhos focaram atividades de assistência técnica e extensão rural (Ater) voltadas à construção participativa do conhecimento em SAFs, desenvolvidas pela Embrapa Meio Ambiente e parceiros no Assentamento Sepé Tiaraju (região de Ribeirão Preto, SP). O primeiro deles discute indicadores para nortear a avaliação dessas atividades em âmbito agroflorestal, fruto do acompanhamento, durante um ano, de projeto de desenvolvimento rural realizado no Assentamento, financiado por uma política pública estadual. O segundo analisou o modelo de ATER agroecológico, tendo como base breve revisão bibliográfica e a análise da experiência do referido projeto. Os resultados evidenciam a necessidade de aprofundamento na reflexão e no acúmulo de práticas e experiências que contribuam para outros moldes de ATER, convergindo nas propostas estratégicas da Agroecologia. O terceiro trabalho focou na construção do conhecimento em SAFs, com avaliação e aprendizagens sob a perspectiva dos agricultores, demonstrando como um trabalho de pesquisa-ação e extensão rural agroecológica persistente consegue fomentar uma transição orgânica ou agroecológica em um conjunto de ações estratégicos de ATER. O quarto trabalho nessa temática enfocou o protagonismo de agricultores assentados no estabelecimento de SAFs e a perspectiva da metodologia camponês-camponês, que motivou a observação e a troca de saberes, estabelecendo ferramentas relevantes para a transformação da realidade e melhoria no manejo e condução desses sistemas.
Um outro artigo abordou os principais fatores de resistência dos agricultores familiares ao uso do capim colonião em sistemas agroflorestais, a partir de pesquisa baseada na observação participante com 35 famílias assentadas em áreas com alta incidência desse capim. O estudo identifica três ordens de fatores de resistência (sociocultural, técnica e econômica), e aponta a necessidade de se buscar formas de manejo que revalorizem a presença do capim colonião ou de outras plantas produtoras de biomassa para a nutrição dos SAFs, o que pode ser obtido na medida em que se alcancem resultados na melhoria do solo, incremento na produção e economia de mão de obra.
Ainda dentro da temática agroflorestal, foram apresentados dados de uma pesquisa sobre avaliação econômica de SAFs, com o levantamento de dados sobre uso de mão de obra, visando identificar fatores limitantes e as melhorias técnicas necessárias para otimização destes sistemas.
Derivado do mesmo projeto de pesquisa, um outro artigo apresentou o estudo sobre canais de comercialização da produção agroflorestal, em um assentamento em transição agroecológica na região de Ribeirão Preto, buscando identificar e caracterizar os canais existentes e as potenciais alternativas para maior agregação de valor. O estudo identifica a existência de uma grande diversidade de canais utilizados, caracterizando uma estratégia “pluricanais”, como forma de garantir maior segurança e resiliência à economia familiar. Por outro lado, frente a ainda forte participação de vendas para atravessadores, aponta-se a necessidade de se investir em canais pouco explorados, como os de consumo consciente, e de se avançar em formas de agregação de valor, como a certificação orgânica e pequenas agroindústrias.
Dentre os trabalhos no formato de relato popular, uma das inovações desta edição do Congresso, a equipe de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente apoiou o relato da experiência do “trio agroflorestal”, formado por agricultores do Assentamento Sepé Tiaraju que trabalham em mutirão. Com autoria dos agricultores Agnaldo Lima, Waldemar Silva, João Correia da Silva e de estagiários da Embrapa, o artigo relata que os mutirões aumentam a produção, o rendimento do trabalho e, algumas vezes, a expansão das atividades para além do SAF, como capinas e conserto de cercas, e também resulta no resgate da união e fortalecimento da amizade.
Outro artigo destaca uma função ainda pouco valorizada para o SAFs: a conservação de polinizadores. A perda e a fragmentação de habitats naturais são hoje consideradas as principais causas da redução da diversidade e a abundância de polinizadores. A adoção de SAFs biodiversos pode contribuir para manter a diversidade e abundância de abelhas, restaurando os benefícios da polinização natural em áreas de cultivo, uma vez que a maioria das plantas cultivadas depende da polinização animal para a produção, e as abelhas são os polinizadores mais efetivos. Para avaliar este potencial, as espécies de abelhas que visitam as árvores em floração nos SAFs agroecológicos da Embrapa Meio Ambiente estão sendo monitoradas desde janeiro de 2017. Amostras de pólen dessas árvores são armazenadas para posterior avaliação da dieta das abelhas sem ferrão criadas racionalmente no local. Como resultado, o trabalho apresenta uma lista preliminar das espécies arbóreas presentes nos SAFs e que oferecem recursos alimentares para as abelhas sem ferrão.
Como foco no saber tradicional de agricultores da região Costa Verde, RJ para o conhecimento agroecológico, outro estudo discute o papel deste saber na construção do conhecimento que dá suporte ao manejo sustentável dos recursos naturais. Busca-se, assim, identificar e caracterizar as relações que essa categoria social estabelece com os recursos naturais, para avaliar a sua contribuição para manejos sustentáveis. A análise qualificou a discussão e as interações entre comunidades tradicionais e atores sociais e o seu potencial para o fortalecimento de suas identidades e da articulação em redes agroecológicas.
O artigo sobre o empoderamento do produtor na comercialização de hortaliças orgânicas e convencionais em feiras de Campinas e São Paulo, buscou desfazer a falácia que os preços de hortaliças orgânicas são sempre maiores que os das hortaliças convencionais, já que se trata de uma afirmação recorrente. Realizado por meio de revisão da literatura e pesquisa qualitativa em feiras livres, o trabalho concluiu que não se pode generalizar essa afirmação uma vez que os preços de 16% dos tipos de hortaliças orgânicas em Campinas e 25% dos tipos de hortaliças orgânicas em São Paulo foram menores que os preços de hortaliças convencionais. O empoderamento do agricultor orgânico na precificação ocorre à medida que aumenta a sua participação no estabelecimento dos preços.
Também foi avaliada a comercialização de produtos orgânicos em Vitória, ES. A diversidade e os preços foram comparados em diferentes estabelecimentos e entre produtos orgânicos e convencionais. A maior diversidade foi encontrada nas feiras. Na análise dos preços em supermercados, os produtos orgânicos apresentaram-se mais caros do que em feiras e do que seus convencionais equivalentes. Na comparação entre feiras livres, os preços dos produtos orgânicos foram superiores, inferiores ou iguais aos convencionais. Dessa forma, a comercialização em feiras de produtores orgânicos familiares mostrou-se relevante em permitir, aos consumidores locais, o acesso a esses produtos, além de fortalecer a agricultura familiar e a soberania alimentar.
Além da apresentação de trabalhos, a equipe da Embrapa Meio Ambiente contribuirá em outras atividades do Congresso. A pesquisadora Lucimar de Abreu organizará uma Oficina no Encontro Nacional dos Núcleos de Agroecologia, de 8 a 11 de setembro, que antecede ao congresso mas é parte integrante dele. Segundo a pesquisadora, o objetivo é contribuir para o avanço do processo de sistematização de experiências agroecológicas em curso no país. Já o pesquisador Luiz Octávio Ramos Filho participará da mesa redonda de “Metodologias para análise econômica na agroecologia”, na qual deverá compartilhar as aprendizagens da pesquisa que a equipe vem realizando nos últimos dois anos sobre avaliação econômica de SAFs agroecológicos.
Autores:
Embrapa
Joel Leandro de Queiroga, Luiz Octávio Ramos Filho; Marcos Neves; Kátia Braga, Francisco Miguel Corrales, Mário Urchei, Myrian Ramos, Waldemore Moriconi, Maria Aico Watanabe, Ricardo Camargo, João Canuto, Lucimar Abreu, Ivan Alvares.
Unicamp
Laíssa Oliveira, Igor Silva, Giovanna Garcia e Juliana Carvalho.
Unesp
Cristiane Cabral, Marcelo Campos, Regina Camargo, Caio Marchesi e Débora Gonçalves.
FAJ
Lucas da Cól
UFSCar
Maísa Siqueira, Rúben Gouvêa, Marcelo Xavier, Lucas Bevilaqua, Humberto Pires, Liliane Alcântara, Karen Krull, Amanda Roque.
Esalq/USP
Vitor Santos
Policamp
Jody Santos
Mutirão Agroflorestal
Rodrigo Campos e Denise Amador
UFV
Elaine Sposito
Lima e Limão Ecologia
Fernanda Olivieri
Todos os resumos serão publicados na Revista Cadernos de Agroecologia. Mais informações no site de evento.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
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