Depois do Aedes Aegypti, aparece o "borrachudo"
11/03/16
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Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Manejo Integrado de Pragas
Depois do Aedes Aegypti, aparece o "borrachudo"
Foto: Paulo Lanzetta
As mudanças climáticas, principalmente na temperatura e na incidência de chuvas, podem ser apontadas entre algumas das causas possíveis do aparecimento do mosquito.
Mosquitos presentes nas zonas rurais atacam pessoas e animais. Embrapa recomenda controle do inseto e indica possíveis causas do aparecimento na região.
Em tempo de campanhas de combate aos mosquitos vetores de inúmeras complicações para saúde humana - como o Zika vírus - a população fica atenta à disseminação de informações sobre outras possibilidades de transmissores e às manifestações do ambiente em que vive. Durante as últimas semanas foi lançada uma dúvida, entre os moradores do município de Pelotas, o aparecimento de focos de "borrachudo" na região. Como este mosquito não era encontrado em nossa região até poucos anos atrás, a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas/RS, está divulgando alguns esclarecimentos e apontando recomendações sobre este inseto que, embora pequeno, incomoda muita gente.
O pesquisador Dori Edson Nava, responsável pelo Laboratório de Entomologia da Unidade de pesquisas local, comentou que nos últimos verões, a população da zona rural de Pelotas tem se deparado com um novo mosquito. Além de atacar as pessoas e alguns animais, este inseto conhecido popularmente como "borrachudo", tem despertado curiosidade. "Muitos se perguntam o por quê deste inseto chegar até a nossa região?", questionou. Ele explica que algumas pessoas creditam que foi introduzido para o controle da lagarta-da-soja; outros dizem que se trata da vespinha, liberada nos paióis de armazenamento de fumo, para o controle do besouro do fumo, ou até mesmo, que são os parasitoides que estão sendo liberados na zona rural para o controle da mosca-das-frutas nos pomares de pessegueiro. "Nenhuma destas opções é verdadeira", disse.
"É difícil dizer com certeza como estes insetos chegaram até aqui", fala o pesquisador. Sabe-se que na natureza tudo é dinâmico e as mudanças ocorrem muitas vezes sem a devida percepção e ao longo de muitos anos. Embora o "borrachudo" possa ter se adaptado a estas mudanças ao longo do tempo, também é possível que algum outro fator relacionado às atividades humanas possam ter favorecido o seu desenvolvimento e sua reprodução em nossa região."Pode-se pensar nas mudanças climáticas, principalmente na temperatura e no regime de chuvas, ou ainda, na destruição das matas e na poluição dos rios, que recebem dejetos humanos, restos de fezes de animais e resíduos de inseticidas, que acabam matando os possíveis predadores naturais do mosquito", enumera Dori algumas possíveis causas.
O "borrachudo"
Segundo ele, o "borrachudo" pertence à família Simuliidae da ordem Diptera, sendo cientificamente chamado de Simulium spp., que existem varias espécies e por isso é de difícil identificação. Estes mosquitos se caracterizam por apresentar pequeno tamanho (adultos medem de 1 a 4 mm). Têm uma ampla distribuição no Brasil. No Rio Grande do Sul é comum encontrá-los na região Norte, na Serra, e também, em alguns anos no Litoral Norte do Estado. Suas picadas, além de causar um desconforto e alergias nas pessoas também podem transmitir doenças, mas estas são restritas à região Norte do Brasil, mais especificamente, ao estado de Roraima e a países da África.
Outro problema causado por este mosquito é o fato de atacarem animais que possuem partes do corpo não protegido, como aves e alguns mamíferos. As responsáveis pelas picadas são as fêmeas, pois necessitam se alimentar de sangue para se reproduzirem. Ao realizarem a picada, as pessoas normalmente não sentem o ataque. Entretanto, alguns minutos após, ocorre desconforto no local, sendo a coceira o sintoma mais comum.
O desenvolvimento do "borrachudo" passa por quatro estágios durante sua vida. As fêmeas, após realizarem as picadas, procuram locais com água corrente e colocam os ovos em pedras, restos de vegetais e mesmo o lixo que é jogado nos rios, como latas, garrafas e plástico, entre outros. Após, entre quatro e cinco dias, eclodem as larvas que se alimentam de restos orgânicos presentes na água. Cerca de 19 a 22 dias depois, estas larvas formam um casulo e permanecem dentro dele, durante um estágio denominado de pupa. E, cerca de cinco a sete dias, emergem os adultos e passam a dar continuidade ao ciclo biológico. Aproximadamente ao completar um mês de vida, os adultos se alimentam, acasalam e reproduzem. Assim, durante o verão, em média um mês, o inseto completa os estágios imaturos e, a cada dois meses, finalizam o ciclo biológico (ovo-adulto).
Controle do inseto
Não basta adotar uma única medida de controle do "borrachudo". É preciso estabelecer e executar uma série de recomendações que devem abranger uma região e não um único local ou propriedade. Estas medidas devem ser tomadas em conjunto com a comunidade local, destacando-se:
- O esgoto doméstico (incluído o da cozinha e o dos banheiros) e os excrementos de animais nos criadouros não devem ser jogadas diretamente nos rios. Este esgoto precisa ser tratado;
- Os rios devem ficar livres de qualquer lixo, desde os jogados pelos humanos até pedaços de galhos e troncos de árvores;
- Deve-se preservar os locais das nascentes dos rios, bem como as margens por meio de reflorestamento;
- Deve-se preservar os inimigos naturais das larvas do "borrachudo" nos rios, como os peixes, sapos e libélulas;
- Existem produtos biológicos a base de bactérias que controlam as larvas do "borrachudo". Assim, estes produtos são adicionados na água dos rios e as larvas, ao ingerir o produto, acabam morrendo. Deve-se comentar que estes produtos biológicos estão disponíveis no mercado e são a base de Bacillus thuringiensius específicos para a mosquinha.
Como evitar as picadas do mosquito
- Proteja as residências utilizando telas nas portas e janelas;
- Use repelente na pele para se proteger das picadas;
- Proteja o seu corpo com o uso de calças e camisas de manga comprida. Normalmente as picadas se localizam nas mãos, nos pés e na cabeça.
Cristiane Betemps (MTb 7418-RS)
Embrapa Clima Temperado
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