15/04/16 |   Agricultura familiar  Transferência de Tecnologia

Técnicas de manejo de frutíferas são desenvolvidas em comunidades indígenas de Oiapoque

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Foto: Dulcivania Freitas

Dulcivania Freitas - Dia de Campo da Banana na Aldeia do Manga

Dia de Campo da Banana na Aldeia do Manga

Uma região desenhada por savana, campos alagados e florestas entrecortadas pelos rios e igarapés. Assim são as terras indígenas de Oiapoque, no extremo norte do estado do Amapá, onde cerca de 7 mil indígenas de 40 aldeias fazem proveito desses nichos ecológicos para alimentação, transporte e trocas comerciais. É nesse ambiente que a Embrapa Amapá encontrou oportunidades para intercâmbio de conhecimentos em manejo sustentável de frutíferas, tendo como foco central a palmeira do açaí. No Projeto Frutiindo (ABC da Agricultura Familiar – Açaí, Banana e Citros), em fase de conclusão, os produtores indígenas são protagonistas das ações voltadas para melhorar e ampliar a produção agrícola que visa garantir segurança alimentar e geração de renda.

O indígena e técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai), Domingos Santa Rosa, atuou no projeto e ressalta a valorização das questões cultural e ambiental neste projeto. "Tem sido muito importante para o momento atual que a gente vem discutindo, que é a questão da sustentabilidade dos povos indígenas, principalmente para implementar a gestão das terras indígenas. Então, é importante para o atual momento e também para o futuro das comunidades com relação à gestão das terras indígenas", afirmou Santa Rosa.   

Para resguardar a singularidade das etnias, aldeias e padrões socioculturais dos indígenas, cada oficina, dia de campo, visita técnica e unidade demonstrativa foram definidos de acordo com as sugestões dos indígenas, que têm suas prioridades indicadas no "Plano de Vida dos Povos Indígenas do Oiapoque" e no Programa de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas do Oiapoque (PGTA). Entre as instituições parceiras, na linha de frente está o Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO). O projeto Frutiindo foi viabilizado ainda com a parceria do Instituto Estadual de Florestas (IEF), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá (Rurap) e das ongs TNC (The Nature Conservancy) e Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé).

O plano de trabalho foi definido junto com os caciques. No geral, as frutíferas que a Embrapa trabalha com os indígenas apresentavam baixo rendimento de produtividade nas aldeias. As causas são falta de manejo e alta ocorrência de pragas", ressaltou o líder do projeto Frutiindo, analista Jackson de Araújo dos Santos. Para Domingos Santa Rosa, um diferencial do "Frutiindo" é a orientação técnica para conservação da biodiversidade. "Visamos o aumento da produção de frutos do açaí, mas mantendo a diversidade das espécies florestais que existe dentro dos açaizais", pontuou.

Um dos focos do Projeto Frutiindo é disseminar conhecimento técnico para garantir a renovação das áreas manejadas, aumentar a produtividade e prolongar em pelo menos mais três meses o período de safra dos açaizais nativos, que atualmente tem seu ápice de abril a junho. "A ampliação do período da safra proporcionará mais açaí para a alimentação e mais oportunidades de ocupação e geração de renda através do excedente produzido", afirmou o engenheiro florestal José Antônio Leite de Queiroz, analista da Embrapa Amazônia Oriental (Pará) que atua no projeto Frutiindo. Entre os resultados estão a formação de 434 agentes multiplicadores indígenas, sendo 192 em manejo de açaizais nativos; instalação e acompanhamento de parcelas nas aldeias Açaizal, Manga, Curipi, Ahumã, Tukay, Galibi e Ariramba; instalação de viveiros de produção de mudas de espécies florestais em três aldeias. "Também conseguimos realizar capacitação técnica em manejo da cultura da banana para 180 indígenas e instalar 13 Unidades Demonstrativas em 13 aldeias, além de formação técnica de 62 agentes multiplicadores indígenas em produção de mudas enxertadas de citros, com quatro viveiros comunitários em cinco aldeias", detalhou Jackson Santos. 

Tecnologia Social certificada pela Fundação Banco do Brasil

A tecnologia "Manejo de mínimo impacto de açaizais de grotas em terras indígenas no Amapá", implementada junto com produtores indígenas de comunidades de Oiapoque, no âmbito do Projeto Frutiindo, recebeu da Fundação Banco do Brasil (FBB) certificação e reconhecimento de Tecnologia Social. Entre as 154 propostas certificadas, de várias instituições do Brasil, esta é a única do Amapá que passa a compor o Banco de Tecnologias Sociais (BTS). A FBB conceitua Tecnologia Social como produtos, técnicas ou metodologias desenvolvidas em interação com as comunidades e que resultam em soluções efetivas de transformação social.

As grotas são ambientes de solo úmido as florestas de terra firme, onde pode haver ocorrência de açaizeiros. Uma das características deste ambiente é a fragilidade mais acentuada em relação as várzeas do estuário amazônico, por isso a intensidade das intervenções do manejo é menor na grota. "O princípio do manejo de açaizais de grota é o aumento da produção de frutos, com a manutenção das características das florestas e a preservação da função ambiental da área", ressalta o pesquisador Silas Mochiutti.

O líder do Projeto Frutiindo, Jackson de Araújo dos Santos, destaca que, com a adoção das técnicas de manejo de mínimo impacto de açaizais de grotas em terras indígenas no Amapá, os resultados esperados são o menor esforço e mais segurança na coleta dos cachos de açaí, aumento em até 100% na produtividade de frutos de açaí, ampliação do período de coleta de três para até sete meses. Outros benefícios decorrentes do manejo dos açaizais em ambientes de grota é que os frutos passam a ser coletados no estágio ideal de maturação e também ocorrerá aumento ou manutenção da diversidade florestal. "Deve ser considerado ainda o aspecto da segurança alimentar proporcionada pela atividade, pois o açaí se constitui em alimento de alto valor nutricional, sendo muito apreciado pelas comunidades indígenas de Oiapoque", completou Jackson Santos.  A tecnologia manejo de mínimo impacto de açaizais possibilitou a capacitação de 192 agentes multiplicadores em comunidades indígenas do Amapá, com instalação e acompanhamento de 11 parcelas de 2.500 m².

Minibiblioteca da Embrapa em Oiapoque

No município de Oiapoque estão as terras indígenas Uaçá, Galibi e Juminá, que pertencem às etnias Galibi Kali´na, Palikur, Galibi Marworno e Karipuna, denominados como "Povos Indígenas de Oiapoque". Ao todo são 40 aldeias, com cerca de 7 mil indígenas em um território de quase 520 hectares, de onde retiram recursos para a sobrevivência. A presença destes povos na cidade de Oiapoque é marcante, seja pelo processo de urbanização indígena, pela relação de troca de produtos alimentícios, ou ainda pela participação de indígenas na vida política do município, alguns eleitos vereadores, outros exercendo cargos em secretarias municipais e estaduais. Por meio do "Frutiindo", uma Minibiblioteca da Embrapa foi instalada no Museu Kuahí, espaço de divulgação e preservação da cultura material e imaterial dos Povos Indígenas de Oiapoque, localizado no centro da cidade de Oiapoque.

Dulcivânia Freitas (Jornalista DRT-PB 1.063/96)
Embrapa Amapá

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