Reunião Técnica sobre ILPF em Goiás debate a sustentabilidade da produção agropecuária brasileira
Reunião Técnica sobre ILPF em Goiás debate a sustentabilidade da produção agropecuária brasileira
A sustentabilidade da produção agropecuária brasileira, aliando o aumento da produtividade à preservação ambiental, foi o tema central das apresentações e dos debates da Reunião Técnica sobre Integração Lavoura-Pecuária (ILPF), realizada em Caldas Novas (GO) no dia 7 de abril. Com 170 participantes, entre produtores rurais, técnicos, professores, jornalistas e representantes de cooperativas e empresas, o evento foi promovido pela Rede de Fomento ILPF, do qual fazem parte a Embrapa, a cooperativa Cocamar e as empresas John Deere, Dow AgroSciences, Parker e Syngenta.
O encontro mostrou como a ILPF pode ser uma ferramenta importante de intensificação sustentável da produção de alimentos, fibras e energia para o Brasil e o mundo. Os sistemas de ILPF combinam as atividades agrícola, pecuária e/ou florestal na mesma área ou gleba, por meio da consorciação, da sucessão e/ou da rotação de culturas.
Na abertura, o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia, manifestou satisfação com o esforço da Embrapa em desenvolver tecnologias que impactam a sociedade brasileira e podem promover mudanças no cenário internacional. Mas ressaltou que as parcerias são necessárias para a disseminação dos produtos tecnológicos. "No caso da ILPF, que é um conjunto de tecnologias, a Rede de Fomento é fundamental para que o produto do nosso trabalho atinja de fato a sociedade brasileira e traga benefícios à nossa agricultura", disse.
Também estiveram presentes Paulo Hermann, presidente da John Deere no Brasil e vice-presidente da empresa na América Latina; Mário Arruda, diretor de operações da Parker; Roberto Risolia, líder de sustentabilidade da Dow AgroSciences; e Luiz Lourenço, presidente do conselho de administração da Cocamar. O pesquisador João Kluthcouski (João K), da Embrapa Cerrados, e Luiz Lourenço foram homenageados pela Rede de Fomento ILPF durante o evento.
Projeto ILPF
Na palestra de abertura, Paulo Hermann, que preside o Comitê Gestor da Rede de Fomento ILPF, falou sobre a história e a evolução do projeto de ILPF, que culminou na criação da Rede em 2012. "O grande objetivo desse grupo é ser protagonista do que chamamos de terceira revolução da agricultura tropical brasileira. Queremos fazer parte dessa história", afirmou. Ele explicou que a criatividade e o uso de tecnologia levaram à situação atual de intensificação produtiva, refletida na capacidade de produzir três a quatro safras anuais sem irrigação artificial.
"Essa é a grande revolução em curso, e ela está apenas no início. É uma etapa de arranjo científico-produtivo, com uma complexidade muito grande", disse. Hermann apontou a necessidade de introdução de conceitos de gestão mais apurados, bem como de qualidade total, já utilizados na indústria. "O fluxo de caixa simples não funciona mais, é preciso ter um centro de custos ou de resultados por cultura. O colaborador não é mais especializado em uma atividade específica, agora passa a haver uma combinação de atividades, como a pecuária com a produção de grãos e o eucalipto, e ele precisa ser requalificado como multifuncional. Precisamos repensar nossa atividade", exemplificou.
Com a articulação de parcerias público-privadas, o executivo acredita que a transferência das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa é acelerada, aumentando ainda a troca de informações entre os elos da cadeia produtiva. Hermann apresentou fotografias da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, mostrando a evolução da propriedade entre 2006, quando iniciou a adoção do sistema ILPF para a recuperação de pastagens degradadas, e 2016, agora com lotação animal média de 4 UA (unidade animal) contra 0,5 UA 10 anos atrás, sem abrir novas áreas. "Agora, o desafio da fazenda e de todos é entrar, na medida do possível, no processo de agregação de valor", apontou.
A quantificação os ganhos ambientais com a ILPF tem sido trabalhada pela Rede. Hermann citou a dissertação de mestrado de Marcela Costa, que com o uso de um software quantifica a emissão de carbono entre uma propriedade com cultivos em modo convencional e outra que adota sistemas de integração, bem como a área necessária para produzir a mesma quantidade de alimentos nas duas fazendas.
"É possível produzir a mesma quantidade de alimentos no sistema integrado em uma área seis vezes menor que no sistema convencional de produção e com 55% menos emissões", disse. Hermann projetou que o principal destaque do Brasil no cenário mundial, nos próximos anos, será na agricultura: "Nós somos o povo que vai produzir alimentos para alimentar o mundo. Temos condições de produzir proteína vegetal e animal em ambiente altamente eficiente, integrado e preservado".
Hermann aproveitou a presença do ex-ministro da Agricultura (1974-1979) e atual presidente do Instituto Fórum do Futuro, Alysson Paulinelli, para homenageá-lo: "Ele teve força, perseverança e visão para tirar do papel e por em marcha a mais importante empresa que este país já criou em qualquer campo. A Embrapa nos colocou no mapa e nos ensinou a trabalhar com agricultura. O Cerrado não era nada, e hoje é a grande fronteira (agrícola). Por isso, não me canso de homenagear esse visionário", disse.
Intensificação sustentável
O pesquisador Lourival Vilela, da Embrapa Cerrados, representou o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, na segunda palestra. Ele destacou a ILPF como estratégia-chave para a intensificação sustentável. Vilela apresentou as cobranças da sociedade para a agricultura: redução das emissões de gases de efeito estufa e do desmatamento, preservação da biodiversidade e uso mais eficiente do solo e da água. Ao mesmo tempo, há uma demanda crescente por alimentos, madeira, bioenergia, entre outras; mudanças no padrão do consumo e competição por espaço. A alternativa, segundo o pesquisador, é aumentar a eficiência dos sistemas de produção e intensificar o uso da terra em áreas agrícolas.
O Brasil terá, em 2050, a responsabilidade de produzir 40% da necessidade mundial de alimentos. Nesse sentido, segundo o pesquisador, intensificar é imperativo. A expansão da oferta de alimentos deverá respeitar critérios de sustentabilidade, que abrangem as dimensões técnico-econômica, social e ambiental. "Com a preocupação de não apenas entregar produtos, mas também valores para a sociedade, temos trabalhado com ILP e ILPF", disse Vilela.
Ele apresentou os benefícios potenciais proporcionados pelos sistemas de integração, como a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; redução de pragas, doenças e plantas invasoras; intensificação e uso racional dos fatores de produção (capital, trabalho e terra); produtos ambientalmente adequados, que aumentam oportunidades de mercado para a carne e os grãos; mitigação do déficit de forragem na estação seca; mitigação de gases de efeito estufa; aumento na produção de grãos e de forragem, e consequentemente de carne e leite; e redução de risco pela diversificação de atividades, permitindo a sustentabilidade econômica.
"O primeiro impacto dos sistemas de integração, sobretudo ILP, é que passamos a produzir o ano todo. Hoje, há situações em que estamos colhendo uma cultura, plantando outra, colhendo e colocando o boi nas áreas. E ainda temos a produção de palhada para o Sistema Plantio Direto (SPD)", explicou o pesquisador.
Para ilustrar o impacto dos sistemas de integração na qualidade do solo, ele apresentou uma tabela sobre atividade enzimática do solo, destacando o comportamento da enzima β-glicosidase, relacionada ao ciclo do carbono. Na sucessão soja-pousio-soja e soja-milho-soja, a atividade da enzima foi menor que nos sistemas soja/milho com braquiária ruziziensis-soja e soja-braquiária brizantha-soja. No mesmo sentido, a biodegradação de pesticidas no solo foi mais rápida, com a maior redução da meia-vida dos produtos em sistemas ILP-lavoura e ILP-pastagem em relação ao plantio direto e ao plantio convencional.
Outro indicador afetado positivamente pelos sistemas de integração foi o estoque e o balanço de carbono no solo. Dados de experimento apontam que, após 24 anos, a taxa de acúmulo de carbono no sistema ILP com SPD (1,2 toneladas/ha/ano) foi superior à da pastagem solteira e consorciada e à da lavoura contínua. "A interação entre os dois sistemas proporcionou ganhos interessantes para o sistema. Aqui, já começamos a perceber o serviço ecossistêmico que a ILP está proporcionando nessa área".
Dados sobre a emissão de gás metano em pastagem em degradação em comparação a um pasto de primeiro ano eficiente mostram que a emissão por quilograma de carne produzida é menor em sistemas altamente produtivos, como no caso da pastagem com forragem de qualidade. "Com isso, estamos reduzindo também a idade de abate dos animais, compensando o balanço", observou Vilela.
A redução do risco pela diversificação foi exemplificada com dados de uma propriedade rural de Jataí (GO) que integra soja, milho (verão e safrinha), feijão e gado em diferentes sistemas. Todos apresentam margens brutas superiores às dos componentes isolados. "Essa diversidade traz maior estabilidade dentro da fazenda", comentou o pesquisador.
Um dos focos da introdução dos sistemas de integração tem sido os pecuaristas, sobretudo os que têm pastagens degradadas. Vilela apresentou exemplos de sistemas de ILP que podem ser implantados para recuperar pastos, como o São Mateus (correção química do solo, introdução de pastagem temporária para melhoria do perfil do solo e plantio direto de soja, com posteriores ganhos de 16@ a 18@/ha no primeiro ano da nova pastagem); e o São Francisco (sobressemeadura de forrageira P. maximum de porte alto em soja, garantindo forragem de qualidade no período seco – em validação). "O produtor começa a perceber que a agricultura é uma grande aliada nesse processo (recuperação de pastagens degradadas)", afirmou.
Sobre a implantação da ILP em áreas com lavouras, o pesquisador citou diferentes formas, como a sobressemeadura e o plantio direto de capim e a segunda safra de boi. Numa fazenda do Oeste da Bahia, foram utilizados capins braquiária (B. brizantha cv. BRS Piatã e B. ruziziensis) em consórcios com milho. No primeiro ano, foram obtidas 6,9@/ha e 3,4@/ha de carne, respectivamente. Na entressafra, atualmente podem ser obtidas até 12@/ha. Consorciada com a braquiária, a soja obteve produtividade de 4 mil kg/ha contra apenas 3,2 mil kg/ha sem o capim. Nas áreas onde a braquiária foi pastejada, o rendimento da soja tem sido superior há três safras seguidas.
A economia com adubação também foi destacada pelo pesquisador. "Num sistema de integração, por meio da ciclagem de nutrientes proporcionada pela braquiária, conseguimos economizar 50% da adubação", garantiu o pesquisador, que mostrou dados de nitrogênio, fósforo e potássio ciclados. No caso do potássio, o Brasil importa 95% do que consome na agricultura.
Vilela mostrou fotos de raízes de braquiária. "Além de serem descompactadores biológicos do solo, as raízes, ao serem decompostas, criam canais preferenciais. A taxa de infiltração de água aumenta substancialmente, favorecendo a recarga dos lençóis aquíferos, dando continuidade às vazões dos rios em vez de enchentes".
O pesquisador elencou os benefícios dos sistemas de integração na visão do produtor: verticalização do sistema de produção, diluição dos custos da propriedade, aproveitamento de resíduos do armazém, diversificação de atividades, mão-de-obra definitiva e aumento de produtividade de carne, leite e grãos.
A partir de dados do IBGE, Vilela mostrou que 70% das pastagens brasileiras e 82% dos pastos do Cerrado tinham, em 2006, lotação média de até 1,25 cabeças/ha. "Se houvesse um programa de recuperação de pastos com efetividade de 100% (aumentando a taxa de lotação média para 2 cabeças/ha), poderíamos liberar 75 milhões de hectares", afirmou.
Ao final da apresentação, Vilela deixou uma mensagem de Maurício Lopes: "A agricultura não pode ser vista como problema, mas como solução e elemento crítico para a construção de um futuro sustentável".
Construtores de solo
Ao final da Reunião Técnica, quatro produtores adotantes de sistemas de integração em diferentes regiões do País participaram de uma mesa redonda sobre intensificação sustentável. Eles falaram sobre suas experiências e trocaram ideias com os participantes do encontro. O debate foi mediado pelo diretor-executivo da Rede de Fomento ILPF, William Marchió. "Considero-os construtores de solo. O trabalho deles é muito diferenciado e tem trazido resultados fabulosos para as suas regiões", disse.
Produtora de soja, feijão, milho safrinha e trigo em Capão Bonito (SP), no Sudoeste paulista, Elizana Paranhos ressaltou que para encarar o desafio de suprir a demanda mundial por alimentos, o caminho é a expansão vertical da produção, com o aumento da produtividade na mesma área e investimento em tecnologia, na qualidade de operações de campo e na atualização dos produtores.
Elizana falou sobre as medidas adotadas pela propriedade para estruturação do solo, como o Sistema Plantio Direto (SPD); a rotação de culturas; manutenção da palhada para proteger o solo e garantir melhor drenagem; a minimização da compactação do solo; trabalhar o perfil do solo para garantir raízes em profundidade e que as plantas suportem o veranico; e a amostragem de solo com mapas para correção com taxa variável da fertilidade, buscando a uniformidade das áreas. "Esse é o caminho para quem procura ter alta produtividade e plantas que se desenvolvam bem, com mais sanidade", comentou.
Ela citou a adoção de novas práticas na propriedade, como a adubação foliar, o uso de produtos biológicos e a adubação diferenciada, com misturas granuladas e compostos orgânicos. Também falou sobre os testes e avaliações conduzidas na fazenda. "O que dá certo no vizinho pode não funcionar na minha propriedade. Por isso, todo ano são testadas novas variedades, produtos, sistemas de plantio e espaçamento. Nem sempre conseguimos avaliar, mas é um grande passo para ver o que há de novo no mercado", explicou.
Um dos testes foi a participação da fazenda no Desafio de Máxima Produtividade da Soja, realizado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), e acabou se tornando a vencedora na região Sudeste na safra 2014/15, com 122,99 sacas/ha na área de teste de 10 hectares, sendo que a média na propriedade foi de 75 sacas/ha. "Esses testes servem como parâmetro para trazer para o campo o que de novo deu resultado", disse.
Além de apontar que o produtor não deve saber apenas produzir, mas também ter habilidade de negociação e estar atento às tendências do mercado, Elizana destacou a importância da sucessão familiar para garantir a continuidade do trabalho– ela administra há 11 anos a fazenda construída pelo pai. "Antigamente, se dizia ao filho que era preciso estudar, senão ficaria na roça. Hoje, você diz: meu filho, se você quiser ficar na roça, vai ter que estudar. Não há mais espaço para quem não se atualiza", finalizou.
Os 3.730 hectares de fazendas do pecuarista Carlos Viacava, localizadas em Presidente Venceslau, Caiuá e Presidente Epitácio (SP), estão em solos arenosos, com teor de argila médio de 12%. Produtor de touros Nelore Mocho, ele buscou na ILP a forma de recuperar pastagens degradadas. Há três safras, a soja é plantada em áreas cada vez maiores nas três fazendas, tendo alcançado produtividade média de 45 sacas/ha em 1.021 hectares na safra 2015/16. Em 2016, a área total com soja deve chegar ao total de 1,3 mil hectares. Em duas fazendas, metade da área será de soja e metade pasto por dois anos e, em outra, um terço da área será cultivada com soja durante um ano e terá pasto no ano seguinte. Em três anos, todas as áreas das fazendas já terão sido cultivadas com a leguminosa.
"Não plantamos soja porque somos plantadores de soja, mas sim para reformar as fazendas e aumentar a eficiência. Se aumentarmos em 50% a lotação (animal) com metade da fazenda plantando soja, será um progresso extraordinário", explicou, informando que o custo de produção da soja ficou em torno de 40 sacas/ha.
Viacava elencou as três principais vantagens da ILP para o pecuarista: ganho de peso dos animais, inseminação precoce, redução de custos com a silagem de grão úmido e aumento e diversificação do faturamento. Nesse sentido, ele mostrou dados de ganho de peso dos animais (à desmama, no período 210-365 dias e aos 365 dias) após a adoção do sistema de integração, sempre superiores quando comparados à criação na pastagem solteira. "Eliminamos a compra de ração, e isso na hora mais crítica da recria, na época seca. Podemos trabalhar só com os nossos pastos de inverno e, se precisar, com a silagem de milho", comentou.
A pastagem de qualidade no inverno obtida com a ILP também está contribuindo para aumentar a precocidade do rebanho, que obteve peso médio de 300 kg a um ano de vida. Todas as bezerras com 10 a 14 meses de idade foram submetidas à estação de monta. O índice de prenhez estimado para o primeiro ano é de 60%, o que representará cerca de 400 crias a mais para o ano que vem. "A figura da novilha está desaparecendo. Estamos ganhando um ano em precocidade graças ao sistema de integração. E as filhas de bezerras precoces têm 80% de chances de serem precoces também", comemorou.
Além da redução de custos, garantida pela pastagem de inverno e a silagem de grão úmido na propriedade, Viacava destacou o crescimento e a diversificação do faturamento, que cresceu 60% nos três últimos anos, com crescente participação da soja no total e o aumento do rebanho. "Se o boi está ruim e a soja está boa (de preço), ou vice-versa, você tem sempre uma compensação", observou.
Viacava defendeu que a pecuária brasileira pode contribuir para a preservação ambiental e atenuar as mudanças climáticas. Ele lembrou que pastos bem manejados, com maior lotação, contribuem para a preservação dos solos e o sequestro de carbono; solos com cobertura permanente promovem o aumento da matéria orgânica, a retenção de umidade e redução da temperatura; significativa redução das emissões de metano; e o melhoramento genético animal aliado aos sistemas de integração aumentam a taxa de desfrute e a rentabilidade do produtor.
Eduardo Manjabosco, proprietário da Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), relatou a experiência com safrinha de boi em sistema ILP, que para ele é um aprendizado ano após ano. Ao falar sobre as características climáticas do Oeste baiano, marcado por veranicos e baixa temperatura noturna, e da evolução das principais culturas agrícolas da região, ele destacou a pouca produção de palhada para SPD devido à pequena produção de milho.
A fazenda mantém lavouras de soja e milho em rotação – atualmente, a soja ocupa 75% da área e o milho 25%, sendo três anos de soja e um de milho consorciado com braquiária. Na safra atual, o período chuvoso foi de apenas 75 dias. "Colhemos a soja 15 dias antes do normal e devemos fechar em 40 sacas/ha. Na nossa conta (de custos), vai ficar no zero a zero. Por causa do veranico, as produtividades de milho não são constantes. Neste ano, vamos colher de 140 sacas/ha a 150 sacas/ha de milho. Como o preço está bom, vai ser a salvação do ano", disse.
Ao adquirir, em 2009, a fazenda Novale, situada no vale do Rio São Francisco, para manter vacas de cria, a família de Manjabosco passou a fazer safrinha de boi e assim diluiu os riscos do negócio. Na Fazenda Triunfo, o milho é consorciado com braquiárias (B. brizantha cv. Piatã e B. ruziziensis). Na safra 2013/14, as áreas de milho consorciadas com o capim obtiveram 4 sacas/ha a mais que as cultivadas com o milho solteiro. Com a colheita do milho, os garrotes de 18 meses nascidos das vacas de cria na Fazenda Novale se alimentam do capim, ganham peso de carcaça e são abatidos com no máximo 24 meses de idade.
Um ponto observado pelo produtor nas últimas três safras é que as áreas com capim pastejado pelos animais obtiveram produtividades de soja um pouco maiores em relação aos locais onde não houve pastejo, não chegando a haver diferença estatística. "Na nossa cabeça, onde entrou o boi seria para produzir menos soja", lembrou. Manjabosco está tentando buscar uma explicação: "Talvez porque a braquiária que é comida rebrota e produz mais um pouco de matéria seca e raízes. Pode ser porque os bois são suplementados, havendo o input da ração, agregando mais fertilidade ao solo. No pastejo, o boi come o excesso de forragem, facilitando a operação de plantio (da soja)".
O produtor salientou a importância da correção química e da palhada para a construção do solo. "Ainda há muitas lavouras com falta de calcário, gesso, fósforo etc. Estamos em um momento de produzir palhada para investir na vida no solo. A partir do momento em que a parte química é corrigida, o diferencial está na vida do solo e na reciclagem de nutrientes que a braquiária promove", apontou.
Há 15 anos, José Eduardo Soares Júnior, o Zecão, produtor em Lucas do Rio Verde (MT), estava preocupado com doenças de solo causadas por nematoides de lesões radiculares (P. brachyurus) e de galha (M. incognita) nas lavouras de soja e milho safrinha da fazenda. "Saí de um modelo de praticamente duas culturas para outro de 14 culturas integradas, aumentando a matéria orgânica e a bioatividade dos microrganismos do solo e diminuindo os custos de produção", lembrou. Foi assim que ele adotou a ILP, com a rotação de culturas e o plantio de plantas de cobertura entre os cultivos comerciais.
A medida possibilitou não apenas o controle da população de nematoides como também uma significativa melhoria na qualidade do solo. Ao todo, são cinco culturas comerciais (soja, feijão, milho, arroz e sorgo) e nove espécies de plantas de cobertura (crotalária ochroleuca, crotalária spectabilis, braquiária ruziziensis, nabo forrageiro, milheto, pé de galinha (E. coracana), capim sudão, sorgo forrageiro e trigo mourisco), rotacionadas em um ciclo de quatro anos. As plantas de cobertura aceleram a decomposição da massa de braquiária dessecada em outubro, fixam nitrogênio e ciclam nutrientes. "Com as plantas de cobertura, economizo em fertilizantes e alimento os microrganismos do solo. Estou investindo no meu solo", afirmou.
Zecão segue os princípios da agricultura com base no carbono, que visa proporcionar o aumento da biomassa e da biodiversidade dos microrganismos do solo; reconstruir o solo (matéria orgânica, fertilidade e perfil do solo); e melhorar a estrutura física do solo. Para ele, o produtor em solos tropicais deve ter em mente duas palavras-chaves: diversificação (de culturas plantadas para aumentar a exploração radicular do solo e a ciclagem de nutrientes) e proteção (do solo).
O produtor argumentou que com a diversificação de culturas, o produtor estará fazendo aporte de matéria orgânica ao sistema, protegendo o solo. "Temos que procurar aumentar ao máximo a diversificação de culturas e sempre buscar os consórcios. O solo fica sempre protegido com uma cultura ou com matéria orgânica em decomposição. Em solo tropical é difícil, mas é viável", garantiu.
Ele salientou ainda que a rotação de culturas é o principal requisito do SPD, mas ainda é feita por poucos produtores. "Temos que rever o conceito do plantio direto e trazer mais opções. Não podemos cair no simplismo da soja-milho safrinha ou da soja-milho com braquiária. Precisamos sair da monocultura da soja para cada vez produzir mais soja, que ainda deve ser o carro-chefe da agricultura do Cerrado por muitas décadas", recomendou.
Na safra 2014/15, Zecão foi o campeão mato-grossense do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja do CESB, com 96,45 sacas/ha. "Estamos conseguindo maiores produtividades com maior estabilidade de produção e maior lucratividade", observou. Com o sistema integrado de rotação de culturas, o produtor constatou o aumento dos teores de nutrientes no solo, como o potássio, ao longo do tempo. "Estamos realmente construindo solos e creio que vamos deixar bons solos para as próximas gerações", concluiu.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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