Artigo - Da inovação aberta à descoberta de medicamentos
Artigo - Da inovação aberta à descoberta de medicamentos
Por Opher Gileadi e Natalia Verza
A conclusão do projeto genoma humano trouxe à comunidade científica um crescente consenso sobre o fato de que sequências de genes e outras informações genéticas não podem – e não devem – ser objeto de patentes. Argumenta-se que as drogas, ao contrário dos genes, sendo invenções de grande valor comercial, são o material adequado para a proteção intelectual, permitindo que empresas farmacêuticas e biotecnológicas, bem como o meio acadêmico, beneficiem-se de suas invenções e possam recuperar o investimento feito em pesquisa e desenvolvimento.
A realidade é que as empresas farmacêuticas mantêm suas descobertas como ativos muito bem guardados, sob forma de patentes ou, muito comumente, como conhecimento interno. Da mesma forma, as instituições acadêmicas protegem a saída de seus cientistas com acordos de transferência de materiais (MTAs) e pedidos de patentes na esperança de que algum deles leve a novos produtos ou acordos de licenciamento lucrativos.
Há uma preocupação generalizada relacionada ao fato de que o processo de desenvolvimento de novos medicamentos seja altamente ineficiente: apenas um em cada 50 compostos testados é desenvolvido em uma droga aprovada. As razões são inúmeras, mas as mais preocupantes são relacionadas com a hipótese terapêutica. Não temos conhecimento suficiente sobre a biologia da doença que possa prever com confiança as consequências de uma intervenção. Nenhuma empresa ou laboratório acadêmico pode realizar essa pesquisa por conta própria.
O Structural Genomics Consortium (SGC) ou "Consórcio do Genoma Estrutural" é uma parceria entre financiadores públicos (agências de fomento e órgãos governamentais) e empresas farmacêuticas e tem como objetivo promover o desenvolvimento de novos medicamentos por meio de pesquisa de inovação aberta. O SGC estuda proteínas humanas que não tenham sido extensivamente pesquisadas e que são alvos potenciais para novas drogas. Todo o conhecimento gerado pelo SGC – de dados a reagentes – é disponibilizado ao público, sem restrições. O consórcio nunca deposita patentes sobre seus resultados. Dessa forma, tem promovido o desenvolvimento de medicamentos inovadores em áreas de risco, tais como a epigenética, estudo das características herdadas que não envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o SGC lançaram o novo Centro de Biologia de Kinases, SGC-Unicamp, coordenado pelo professor Paulo Arruda. Os laboratórios em Campinas estão totalmente operacionais e, tal como os outros laboratórios em Oxford, Toronto, Chapel Hill e Estocolmo, os resultados de suas pesquisas serão abertos à comunidade.
O SGC-Unicamp terá ainda uma linha de pesquisa, baseada na conservação das proteínas quinases, enzimas que transferem fosfato de uma molécula para outra, como reguladores-chave em todos os seres vivos superiores, incluindo plantas. O papel dessas enzimas nas respostas de plantas a condições de estresses bióticos e abióticos é bem documentado na literatura científica. No entanto, nosso conhecimento sobre os mecanismos de sinalização ainda são superficiais. Em Campinas, avançaremos nos estudos de proteínas quinases humanas e seus ortólogos (similares) em plantas, especialmente de pequenas moléculas inibidoras, para modular a resposta de plantas de interesse agronômico.
Esta será uma das primeiras tentativas em grande escala para aplicar resultados de pesquisas químicas em seres humanos para a investigação da biologia vegetal e certamente promoverá uma nova compreensão de respostas a estresses em plantas e novos caminhos para melhorar a produtividade das culturas no campo.
Campo de atuação
Bioquímica
* Natalia Verza é pesquisadora da SGC-Unicamp.
Campos de atuação
Biologia Molecular e Genética Molecular
SGC-Unicamp
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/