13/05/16 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Embrapa tem propostas aprovadas no Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

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A Embrapa teve seis propostas aprovadas na Chamada do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia - INCT - MCTI/CNPq/CAPES/FAPs. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira, 12. As propostas foram inscritas em 2014 e selecionadas entre as 345 submetidas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A captação de recursos para os projetos é estimada em R$ 51,5 milhões, valor que ainda precisa ser confirmado durante as negociações individuais com cada coordenador. 

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, avalia como "uma notícia extremamente positiva. A Embrapa não tinha a liderança de nenhum INCT e recebe a aprovação das propostas com muita alegria. É uma conquista que reflete a qualificação e o engajamento dos pesquisadores na busca de soluções na fronteira do conhecimento para desafios da agricultura brasileira".

A Chamada do CNPq teve por objetivo apoiar atividades de pesquisa de alto impacto científico em áreas estratégicas e na fronteira do conhecimento que busquem solução de grandes problemas nacionais. Ela busca também promover a consolidação os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) que ocupam "posição estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação", além da formação de novas redes de cooperação científica de caráter nacional e internacional.

Os Institutos Nacionais são liderados por grupos de excelência. Eles caracterizam-se como estruturas de pesquisa que desenvolvem articuladamente projetos em rede, com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis. O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia é coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A gestão operacional é feita pelo CNPq, em articulação com outras entidades que aportam recursos financeiros ao programa.

A Diretoria de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa, em conjunto com o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), priorizou quatro áreas: Agricultura de Baixo Carbono; Automação; Biotecnologia e uso sustentável da biodiversidade; e Agroenergia. O diretor de P&D, Ladislau Martin Neto, explica que a Embrapa até o momento não liderava nenhum INCT e por isso foi articulado um grande esforço de mobilização das equipes para apresentação de propostas de alta densidade "pela importância que o programa possui, não apenas como fonte de recursos para suporte a pesquisa e inovação na fronteira do conhecimento, mas pela capacidade de contribuir com soluções para a agricultura brasileira".

Os projetos da Embrapa

As propostas selecionadas são coordenadas por Carlos Manoel Pedro Vaz, da Embrapa Instrumentação (proposta na área de Automação); Elíbio Leopoldo Rech Filho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (na área de Biotecnologia); Mariangela Hungria da Cunha, da Embrapa Soja (no tema Agricultura de Baixo Carbono); Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária (em Mudanças Climáticas e agricultura sustentável); Maria Fátima Grossi de Sá, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Marco Aurelio Delmondes Bomfim, da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Eduardo Assad coordena o projeto INCT "Mudança no clima e agricultura sustentável", linha estratégica "Tecnologias ambientais e mitigação mudanças climáticas". Os recursos originalmente solicitados são de R$ 9,9 milhões e o projeto reúne 404 pesquisadores de 19 instituições nacionais e internacionais. O conjunto de ações prevê pesquisas relacionadas a 40 sistemas de produção, envolvendo, por exemplo, 92 unidades de referência tecnologias (URTs).

Um dos primeiros benefícios é "mostrar como podemos avançar na definição nos fatores de emissão nacionais por bioma, o que vai ter um impacto muito forte no cumprimento das INDCs negociados na Conferência da ONU para a Mudança do Clima (COP-21), que ocorreu em Paris no ano passado", explica Eduardo Assad. As INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas) são os compromissos do País para reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). O conhecimento dos fatores de emissão permitirá a melhoria dos fatores de emissão agrícola que fazem parte do inventário nacional dos gases de efeito estufa. Outra contribuição deve ser a introdução, em larga escala da chamada análise de ciclo de vida, que é o consumo dos gases de efeito estufa ao longo da produção agrícola, "fundamental no comércio dos produtos com certificação", diz Assad. Com o andamento do projeto também é esperado avanço substancial a partir do uso de imagens de satélite com resolução de cinco metros para caracterização da degradação dos solos. Cada gradação possui um determinado nível de emissão.  

Todos os resultados vão dar suporte ao desenvolvimento dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e seus impactos no desenvolvimento de uma agropecuária de baixo carbono no país. Uma das características é a existência de um comitê gestor e decisões tomadas em colegiado composto pelos líderes da linha de pesquisa assessorados por comitês científicos e de tecnologia de informação e comunicação. Uma outra é a ênfase em comunicação científica e transferência de tecnologia com o uso de meios digitais avançados. O projeto deve ter quatro anos de duração. 

O projeto INCT Synthetic Biology, apresentado pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Elíbio Leopoldo Rech Filho, foi uma das propostas aprovadas. O objetivo é formar uma rede de pesquisas interdisciplinares em biotecnologia aplicada à agregação de valor à biodiversidade, por meio da colaboração de institutos de pesquisa e empresas em diferentes regiões do País e no exterior. De acordo com Elíbio Rech, o INCT-BioSyn contará com o apoio e será incluído no consórcio de biologia sintética "OpenPlant" (do inglês Open Technologies for Plant Synthetic Biology), formado pelas mais importantes universidades, empresas e institutos de pesquisa do Brasil e do mundo que trabalham com o tema biologia sintética. A proposta prevê recursos ao redor de R$ 10 milhões.

A pesquisadora Maria Fátima Grossi de Sá, também da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, aprovou o projeto "Ativos biotecnológicos aplicados à seca e pragas das culturas relevantes para o agronegócio". A perspectiva é contar com recursos de 8 milhões. A proposta busca integrar grupos de pesquisa e do exterior para gerar ativos biotecnológicos aplicáveis às culturas de milho, soja e algodão, visando a tolerância à seca e ao controle de pragas. A proposta inclui a utilização de diferentes abordagens focadas na prospecção, isolamento, caracterização e validação funcional de genes/moléculas, envolvidos com a resistência/defesa às pragas e com a tolerância ao déficit hídrico. Participam equipes de Unidades da Embrapa (Recursos Genéticos e Biotecnologia, Milho e Sorgo, Soja, Algodão, Cerrados, Clima Temperado e Arroz e Feijão), além de UnB, UFC, UFRJ, Ufrgs, Ufpel e Epamig. Os participantes do setor privado são o IMAmt (Instituto Matogrossense do Algodão) e FuturaGene. No exterior participam pesquisadores do INRA-Sophie Antipolis e IRD- Montpellier na França.
 
Além da obtenção de ativos de inovação, há previsão de desenvolvimento de produtos biotecnológicos como bioinseticidas, bionematicidas e PGMs, além da construção de banco de dados, banco de caracteres e coleções in vivo. As ações de pesquisa e desenvolvimento abordarão três grandes problemas da agricultura: seca, meloidoginose e lagartas-praga - em soja, milho e algodão.
 
A pesquisadora Fatima Grossi prevê a geração de novos ativos biotecnológicos, criação novas tecnologias e desenvolvimento de novos produtos. "Os ativos biotecnológicos gerados serão utilizados para o desenvolvimento de produtos como bioinseticidas e plantas geneticamente modificadas de soja, algodão e milho com tolerância e resistência múltipla aos estresses em estudo", explica. O conhecimento dos fatores moleculares e fisiológicos relacionados à tolerância a seca e sua interação com as pragas e demais estresses ambientais deverá contribuir para prevenção, mitigação e adaptação a impactos previstos pelas mudanças climáticas.
 

"Vamos pesquisar processos e biomoléculas de origem microbiana visando maximizar a nutrição das plantas e o rendimento das culturas com menor aporte de fertilizantes químicos e menor impacto ambiental", destaca Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, que também teve projeto selecionado. Ele resultou do trabalho de 89 pesquisadores especialistas em mais de 40 temas, sediados em 12 estados e no Distrito Federal.  Ela conta que estão previstos resultados como o lançamento de pelo menos 35 ativos biotecnológicos, 150 artigos científicos e a capacitação de recursos humanos. Estima-se que o pacote tecnológico gerado possa ser valorado em mais de US$ 25 bilhões anuais, considerando a redução no uso de fertilizantes químicos, além da mitigação de 30 milhões de toneladas de equivalentes de CO².  

"A formação desse INCT trará grande contribuição para a sustentabilidade agrícola, abrindo oportunidades para aquilo que pode ser definido como uma verdadeira ‘microrrevolução verde', com impacto na produtividade, mas com responsabilidade ambiental", explica Mariangela Hungria. A previsão é de recursos de R$ 8,8 milhões.

Um dos projetos aprovados foi a formação de uma rede multidisciplinar de pesquisa envolvendo seis Unidades da Embrapa (Embrapa Instrumentação, Embrapa Pecuária Sudeste, Embrapa Informática Agropecuária, Embrapa Semiárido, Embrapa Cerrados e Embrapa Gado de Leite) e dez Universidades e Instituições de pesquisa técnico-científica (USP, UNESP, UFSCar, UNIVASF, UEM, UFBA, UFG, SENAI e IMA-MT) com o objetivo de desenvolver tecnologias e inovações em automação e computação para o aumento da eficiência dos processos de produção, processamento e rastreabilidade dos produtos nas diversas cadeias da agropecuária nacional. O valor previsto é R$ 9,9 mihões. Neste caso, como nos outros, ainda haverá uma fase em que os valores previstos serão negociados.

"A aprovação do mérito técnico da proposta pelo CNPq é um reconhecimento da relevância do tema para o país e da excelência da equipe, que congrega centros de temas básicos, ecorregionais e de produtos da Embrapa, Universidades e Centros de Pesquisa de reconhecida competência no Brasil e no mundo", avalia o coordenador do projeto, Carlos Vaz, da Embrapa Instrumentação. 

O pesquisador Marco Aurelio Delmondes Bomfim, da Embrapa Caprinos e Ovinos também teve sua proposta aprovada. O valor estimado é de R$ 7 milhões. O INCT - Sustentabilidade e eficiência alimentar na pecuária de pequenos ruminantes em ambiente semiárido será sediado na Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CE). Marco A. D. Bomfim explica que "o projeto foi desenhado para desenvolver soluções tecnológicas para importantes demandas para o semiárido brasileiro, usando, em vários níveis, tecnologias com alta densidade científica". São três pilares de desenvolvimento: sistema de assessoramento e alerta precoce; tecnologias para produção sustentável em regiões semiáridas e conhecimentos e tecnologias para mitigação do impacto de mudanças climáticas. O pesquisador da Embrapa explica que o ambiente de pesquisa será utilizado para amplo programa de formação de recursos humanos para a pesquisa na região. O programa vai envolver estudantes de graduação e pós, além de treinamento de pesquisadores em técnicas experimentais inovadoras aplicadas às condições da região semiárida. Ele avalia que a iniciativa vai "ampliar a capacidade de solução de problemas complexos neste tipo de ecossistema".

O INCT está articulado com dois ambientes produtivos onde se desenvolvem políticas públicas voltadas à produção de pequenos ruminantes no semiárido (Programa Rota do Cordeiro do Ministério da Integração, no Ceará e Programa de Aquisição de Alimentos – PAA do Ministério do Desenvolvimento Agrário, na Paraíba). Estes ambientes produtivos serão utilizados em parceria com as instituições de assistência técnica e extensão rural para promover a inovação, treinando profissionais da extensão e viabilizando o uso das tecnologias geradas durante o projeto na rede de fazendas de referência monitoradas por estes agentes. Entre as instituições envolvidas no projeto selecionado, além da Embrapa Caprinos e Ovinos e Embrapa Semiárido, estão as universidades federais da Bahia, do Piauí, do Vale do São Francisco, de Minas Gerais, do Ceará, de Sergipe, Rural de Pernambuco e Paraíba. Também participam institutos federais do Maranhão, Ceará e Instituto Nacional do Semiárido. O valor orginalmente previsto é de R$ 5,9 milhões.

Importância da conquista

O chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), Celso Moretti, comenta que é uma conquista importante, "principalmente em um momento de restrições orçamentárias". Além disso, é um reconhecimento aos pesquisadores da Embrapa: "são projetos de grande envergadura, em áreas de alta competitividade e importância".

Os quatro INCTs liderados pela Embrapa organizarão um conjunto de iniciativas de relevância em determinada área do conhecimento e com grande capacidade de promover inovações para a transformação do País. O nível de exigência faz com que o processo de seleção seja bastante longo e envolva cientistas de diferentes instituições de vários países, com diferentes formações. Ladislau Neto diz que "os coordenadores dos projetos não apenas fizeram propostas muito consistentes como tiveram a capacidade de demonstrar como elas podem ser significativas para impactar a agricultura". 

Cada uma das 345 propostas inscritas foi avaliada por, no mínimo, três consultores ad hoc internacionais. Depois, passaram pelo Comitê Julgador composto por 35 cientistas brasileiros e estrangeiros de diferentes áreas do conhecimento. Elas, necessariamente, deveriam "responder a demandas de políticas públicas ou situar-se em área de fronteira do conhecimento que resulte em avanço do conhecimento científico ou em desenvolvimento tecnológico inovador". Até 11 de julho o MCTI, por intermédio do CNPq, negocia com as instituições parceiras o financiamento das propostas.

Saiba mais sobre o Programa INCT

O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia busca mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégias para o desenvolvimento sustentável do País. Ele também parte da necessidade de impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental para ser competitiva internacionalmente. O Programa se responsabiliza pela formação de jovens pesquisadores e apoia a instalação e o funcionamento de laboratórios em instituições de ensino e pesquisa e empresas, proporcionando a melhor distribuição nacional da pesquisa científico-tecnológica, e a qualificação do país em áreas prioritárias para o seu desenvolvimento regional e nacional.

A criação dos institutos contou com parceria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) e as Fundações de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Pará (Fapespa), de São Paulo (Fapesp), Minas Gerais (Fapemig), Rio de Janeiro (Faperj) e Santa Catarina (Fapesc), Ministério da Saúde e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os Institutos Nacionais de C&T ocupam posição considerada estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, tanto pelo alto nível de excelência e qualidade de pesquisa, como pela maior complexidade de sua organização e porte do financiamento. Liderados por grupos de excelência, caracterizam-se como estruturas de pesquisa que desenvolvem articuladamente projetos em rede, com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis, com foco de atuação em politicas públicas de Estado e/ou em pesquisas na fronteira do conhecimento. Os INCT devem abranger preferencialmente quatro vertentes: pesquisa, formação de recursos humanos, internacionalização e transferência do conhecimento para o Setor Empresarial e para o Setor Público. Todos os INCT devem prever ações de difusão e disseminação do conhecimento para a sociedade.

Jorge Duarte
Secretaria de Comunicação da Embrapa - Secom

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