Cultivar de soja IPRO para o Matopiba é lançada na Bahia Farm Show
Cultivar de soja IPRO para o Matopiba é lançada na Bahia Farm Show
Foto: Breno Lobato
Cultivar de soja BRS 9180IPRO foi lançada na Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães
Rusticidade e elevado potencial produtivo, com os benefícios das proteínas Bt e RR para o controle das principais lagartas que atacam a cultura da soja e a resistência ao herbicida glifosato, favorecendo o manejo de plantas daninhas, além de sistema radicular que explora o perfil do solo e da adaptabilidade à região do Matopiba, formada pelos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Esses são os destaques da cultivar Intacta BRS 9180IPRO, lançada pela Embrapa e a Fundação Bahia no dia 26 de maio, durante a Bahia Farm Show, feira de tecnologias realizada em Luís Eduardo Magalhães (BA) pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e pelo Instituto Aiba (IAiba).
A solenidade de lançamento do material contou com a participação do secretário de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) da Bahia, Vitor Bonfim, representando o governador Rui Costa; do prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Humberto Santa Cruz; e do presidente da Aiba e da Bahia Farm Show, Júlio Cézar Busato. O presidente da Fundação Bahia, Ademar Marçal, destacou a força da parceria com a Embrapa. "Nosso objetivo é trazer tecnologia para o desenvolvimento do Matopiba como um todo, o que vai ao encontro da necessidade do produtor", afirmou.
Marçal também salientou a importância da Embrapa no desenvolvimento do agronegócio brasileiro e o papel da pesquisa e da tecnologia: "Pesquisa e tecnologia geram mais recursos para a comunidade, mais impostos para o Estado, sacos a mais em nosso galpão, levam ao sucesso e nos ajudam a superar as dificuldades e a crise. Precisamos investir muito mais em pesquisa e queremos que os produtores participem mais", afirmou.
Para o secretário Vitor Bonfim, o lançamento da cultivar BRS 9180IPRO é um resultado prático da contribuição do Fundo para o Desenvolvimento da Agropecuária da Bahia (Prodeagro), fundo gerido pelo governo estadual que aporta recursos para ações de desenvolvimento do agronegócio baiano, como as pesquisas realizadas pela Fundação Bahia em parceria com a Embrapa.
Ele lembrou que na década de 1980 a produtividade média na região era de 20 sacas por hectare, sendo que atualmente é de 60 a 65 sacas por hectare em anos com boa quantidade de chuvas. "Esperamos alcançar 90 a 100 sacas por hectare nos próximos anos. Precisamos aumentar a produtividade para não termos que aumentar a área plantada. Queremos produzir com eficiência e tecnologia. Tenho certeza de que se aprofundarmos a parceria com a Embrapa, teremos no Oeste da Bahia um grande celeiro de produção de alimentos", finalizou.
O presidente da Aiba, Júlio Cézar Busato, elogiou o trabalho das associações e demais entidades de produtores da Bahia e agradeceu o apoio do governo estadual. "As associações têm feito a diferença e o trabalho ao longo do tempo tem mostrado os avanços. Precisamos avançar mais e vocês (produtores e técnicos) têm que acreditar mais. E que a Embrapa lance mais tecnologias que façam sobrar algum dinheiro no bolso dos produtores", comentou.
O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, agradeceu à Fundação Bahia, ao Prodeagro e ao governo baiano pela parceria. "Acreditamos que a parceria público-privada é a solução para os problemas que enfrentamos e esta parceria é hoje uma referência para as demais parcerias da Embrapa. Os resultados têm melhorado a cada ano, e isso se deve ao bom entendimento, maturidade, tranquilidade e positividade para resolver os problemas que surgem".
Para ilustrar o sucesso do trabalho da Embrapa com os parceiros, Sebastião revelou que o levantamento de uma empresa privada mostra que a cultivar BRS 7980, também fruto dessa parceria, alcançou 3% do mercado nacional de cultivares de soja convencional na safra 2015/16. "É um material com apenas dois anos de lançamento e que vai fazer sucesso. Isso é só o começo", declarou.
Variedade é um diamante para a região
Ao apresentar as características da cultivar de soja BRS 9180IPRO e as recomendações para o plantio, o pesquisador André Pereira, também da Embrapa Cerrados, explicou que são pelo menos oito anos de trabalho, desde o cruzamento inicial, até o lançamento oficial de um material e a disponibilização das sementes para os produtores. "A BRS 9180IPRO é um diamante que estamos oferecendo, com grande potencial de expansão na região, sistema radicular que busca perfil de solo e facilidade no manejo do complexo de lagartas e plantas daninhas", disse, salientando que a capilaridade da parceria com a Fundação Bahia constitui uma via de mão dupla, possibilitando que os problemas do produtor sejam solucionados pela pesquisa. "O material que hoje estamos lançando é parte desse processo", completou.
Além de agregar a tolerância ao herbicida glifosato, o que representa vantagem no manejo de plantas daninhas, a cultivar BRS 9180IPRO expressa a proteína Bt, oferecendo proteção contra as principais lagartas da cultura da soja: lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta falsa medideira (Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu), lagarta das maçãs (Heliothis virescens) e broca das axilas ou broca dos ponteiros (Crocidosema aporema), além de supressão às lagartas do tipo Elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e Helicoverpa (H. zea e H. armigera).
A cultivar tem hábito de crescimento determinado, com ciclo de 119 a 139 dias (fechando em torno dos 135 dias no Oeste baiano), bastante adaptado à região do Matopiba, com aplicação também em Roraima e algumas regiões do Pará. Tem ampla capacidade de crescimento nas diversas épocas de semeadura, comportando-se bem desde a abertura até o fechamento do plantio. O sistema radicular é bastante agressivo, capaz de explorar o perfil do solo para buscar nutrientes e água em profundidade diante de cenários de veranicos. "É um excelente material para a inserção da soja nos sistemas de produção dessas regiões", disse.
O material é moderadamente resistente ao acamamento, exigindo cuidado quanto à população de plantas. No Oeste da Bahia, ela deve ser de 8,5 a 10 plantas por metro de fileira de plantas, considerando uma população de 160 mil e 180 mil plantas por hectare. Outro quesito a ser considerado é a altitude. Em áreas mais baixas, a população pode chegar a 12 plantas por metro e 240 mil plantas por hectare. Em áreas de alta fertilidade no Oeste baiano, podem ser trabalhadas oito plantas por metro, considerando altitudes próximas ou acima de 700 metros.
Pereira ressaltou a importância do plantio da área de refúgio para materiais Intacta. "Precisamos preservar a tecnologia IPRO. Temos perdido muito rapidamente a expressão das proteínas Bt, como ocorreu no milho", apontou. O pesquisador apresentou as características da cultivar BRS 9280RR, posicionada pela Embrapa e pela Fundação Bahia como refúgio para a BRS 9180IPRO.
O material apresenta ciclo parecido (117 a 139 dias), hábito de crescimento semiereto e outras características semelhantes à da BRS 9180IPRO, além de baixo fator de reprodução ao nematoide Pratylenchus brachiurus e da recomendação para as mesmas áreas de produção. A população de plantas deve ser entre 10% e 15% maior que a da cultivar Intacta.
Para comprovar o potencial da cultivar BRS 9180IPRO, o coordenador de pesquisas da Ide Consultoria, Márcio Ribeiro, apresentou resultados de um ensaio de competição conduzido em uma propriedade do Grupo Busato, em São Desidério (BA), com 30 variedades de soja Intacta disponíveis no mercado. Todas as cultivares foram plantadas em 19 de novembro de 2015, com emergência em 24 de novembro, e foram submetidas ao mesmo manejo. A fazenda tem latossolo vermelho e altitude de 830 metros.
A produtividade média foi a maior, alcançando 55,9 sacas por hectare contra 51,68 sacas por hectare do material segundo colocado. O peso médio de mil sementes (PMS) também foi superior aos das demais cultivares: 131,2 gramas, contra 122,6 gramas do segundo colocado.
Na comparação com as seis cultivares mais plantadas na região e de grupos de maturação próximos, a BRS 9180IPRO foi a que apresentou maior rusticidade, tendo encerrado o ciclo aos 133 dias (quatro a menos que o ciclo normal) – durante todo o ciclo, os materiais receberam 752 mm de chuvas mal distribuídas, sendo que em fevereiro, período de enchimento de grãos, foram apenas 46 mm. As demais variedades encurtaram o ciclo entre sete e 18 dias em relação aos ciclos normais devido ao déficit hídrico. "Dá para ver a diferença, a rusticidade do material. Ele realmente aguenta a seca", observou Ribeiro.
A produtora Cristiane Morinaga falou sobre o desempenho da BRS 9180IPRO nas fazendas da empresa Sementes Morinaga, em Correntina (BA). O material foi plantado experimentalmente na safra 2014/15, e se destacou por ter suportado bem o período de seca. A produtora conseguiu então multiplicar as sementes no inverno e plantou 250 hectares do material na safra seguinte.
"O que nos chamou a atenção foi a tolerância ao período de estiagem. O material não se entregou. Todos que o viam comentavam que ele não apresentava sintomas da seca. E foram dois períodos de 30 dias, sendo o primeiro em fevereiro e o segundo a partir de 26 de março, quando houve a última chuva", disse, acrescentando que a cultivar fechou o ciclo com exatos 139 dias, enquanto os materiais vizinhos encerraram o ciclo com média de 10 a 12 dias de antecedência.
Outro fator destacado por Morinaga foi a sanidade das plantas. "Neste ano, se comparada aos materiais Intacta de ciclo mais curto, o material teve o mesmo número de aplicação de fungicidas e menos ataques de mosca branca", afirmou. A produtora acredita que a BRS 9180IPRO é um material que chega no momento certo. "Ela foi testada num ano em que tinha tudo para provar e provou que tem um encaixe bem adequado para nossa região. Já está disponível para os produtores testarem e eu indico", disse.
Saiba onde encontrar sementes da BRS 9180IPRO e da BRS 9280RR nesta notícia.
Ministro quer mais produtividade e redução de custos
Recém-empossado como Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o ministro Blairo Maggi visitou a Bahia Farm Show no dia 27 de maio. Acompanhado de autoridades regionais, ele anunciou, em discurso aos visitantes da feira, suas pretensões à frente da pasta, destacando a busca de soluções para os problemas apontados pelos produtores das diferentes regiões brasileiras e a diminuição de entraves burocráticos.
"O Ministério da Agricultura é a casa dos agricultores, é o lugar onde eles devem buscar as soluções e dar as sugestões para que possamos implementá-las", disse, apontando que as portas do órgão estarão abertas aos produtores por meio das Câmaras Setoriais e Temáticas.
"Quero levar nossa experiência como agricultor para que a atividade se transforme naquilo que sempre sonhamos: um negócio altamente rentável, sustentável e que não dependa o tempo todo do governo. Precisamos olhar para aqueles que nos ajudam e criam as condições para que a economia brasileira ande e prospere. São vocês, os agricultores", completou.
Em entrevista coletiva, Maggi disse aos jornalistas que o MAPA deverá ser mais propositivo na liberação de produtos agroquímicos para os produtores, além de buscar baixar preços e derrubar cartéis e oligopólios do setor.
Perguntando sobre o que espera da pesquisa agropecuária, o ministro foi direto: aumento da produtividade e menos custos para o agricultor. "É isso o que se busca e é um conjunto", disse, citando questões como o uso de agrotóxicos, a eliminação ou diminuição de determinadas práticas, a eficiência nas máquinas e a biotecnologia.
"São coisas que os próprios produtores estão buscando hoje. É tentar trazer de volta a harmonia para o campo. Quando você usa muito produto transgênico, por exemplo. Você muda uma cadeia natural de insetos, de pragas que eram secundárias e passam a ser principais. A gente precisa entender um pouco isso porque as mudanças são bastante grandes. Em algumas regiões do Brasil, conseguimos verdadeiras pontes verdes, não deixamos de ter cultura em nenhum momento. Isso é alimento para fungos, bactérias e insetos que vão se perpetuando e criando dificuldades na gestão das propriedades. Então, tudo é um observar e tem que ter todo mundo olhando essas coisas", finalizou.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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