27/06/16 |   Biodiversidade  Florestas e silvicultura  Mudanças climáticas

Bosque Modelo de Caçador conhece experiência espanhola

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Foto: Katia Pichelli

Katia Pichelli -

Pesquisadores que trabalham no Bosque Modelo Urbión, na Espanha, estiveram em Caçador/SC, em abril, onde participaram de atividades de intercâmbio com o Bosque Modelo Caçador. Durante uma semana aconteceram visitas a produtores rurais e empresas; dia de campo na Estação Experimental da Embrapa e palestras para intercâmbio de conhecimentos e formas de atuação.

"Bosque Modelo" (BM) é um termo em espanhol que designa o processo voluntário de gestão participativa de um território ou paisagem onde a floresta desempenha um papel importante. O BM Caçador tem 98 mil hectares e abrange todo o município, englobando, inclusive, a Estação Experimental da Embrapa em Caçador (EEEC). A criação de um BM implica no desenvolvimento de um processo dinâmico de organização e gestão conjunta do território, envolvendo instituições públicas, indivíduos, comunidades, cooperativas, associações, empresas privadas, ONGs, setor acadêmico, pesquisa e extensão, entre outros. Segundo a pesquisadora Yeda Malheiros de Oliveira, "tais alianças voluntárias têm como foco o desenvolvimento sustentável dos ecossistemas florestais, de forma a elevar o nível e a qualidade de vida de todos os envolvidos no uso e manejo dos recursos naturais de uma região".

A região de Caçador mostrou-se bastante propícia à criação de um BM. "A presença significativa da Floresta com Araucária e do parque industrial vinculado a produtos madeireiros mostram que a floresta é um elemento-chave no município", explica Maria Augusta Rosot, pesquisadora da Embrapa Florestas. Ou seja, um Bosque Modelo inclui não apenas áreas cobertas por florestas nativas e plantadas mas, também, áreas de lavoura e pecuária, campos naturais, áreas industriais e urbanizadas, entre outras. Esse é o terceiro bosque modelo brasileiro reconhecido pela Rede Iberoamericana de Bosques Modelo (RIABM).

Durante a troca de experiências com os pesquisadores espanhóis, foram discutidas ações realizadas em Urbión que garantem o uso sustentável das florestas nativas da região, que são manejadas de forma a garantir o abastecimento de matéria prima para as indústrias sem impactar no meio ambiente. Jose Antonio Lucas Santolaya, chefe do Serviço Territorial de Meio Ambiente de Soria (Espanha), contou que "a região também trabalha com a rastreabilidade dos produtos madeireiros como forma de garantir que os produtos são feitos com matéria prima de manejo florestal. Assim, o BM cumpre uma de suas funções, que é de aliar geração de benefícios econômicos com preservação ambiental".

Um ponto que chamou atenção é o uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs) na gestão do BM Urbión. Bases de dados, software e aplicativos diversos são desenvolvidos e utilizados para auxiliar na gestão e uso sustentável do BM. Moradores, visitantes e empresários da região têm acesso a estas TICs para diversos temas: conhecer a região, rastreabilidade de madeira, autorizações e compra de licenças para caça. Segundo Rodrigo Gómez Conejo, da Fundação CESEFOR (Espanha), "é muito importante transformarmos informação em conhecimento efetivo".

Criado em junho de 2013, o BM Caçador é um dos três bosques estabelecidos no Brasil. Os demais estão em Minas Gerais. Um Conselho gestor formado por organizações públicas, privadas e pessoas físicas discute estratégias e políticas públicas para a região.

 

Estação Experimental da Embrapa em Caçador

Uma das áreas mais importantes de estudo com florestas no BM é a Estação Experimental da Embrapa em Caçador. Até 2012, a Estação estava sob a coordenação da Epagri, via comodato, mas, naquele ano, a empresa catarinense devolveu a área de mais de mil hectares à Embrapa.

A partir de então, houve uma ampliação dos trabalhos que a equipe do Laboratório de Monitoramento Ambiental já vinha realizando na área desde 2002. Em pauta, pesquisas ligadas à área de silvicultura e manejo para a conservação e uso sustentável da Floresta com Araucária: a Estação Experimental é considerada a área mais conservada desse ecossistema na região, um verdadeiro laboratório ao ar livre.

Atualmente, são 18 experimentos, em especial com araucária, erva-mate, bracatinga, taquara e sistemas agroflorestais com fruteiras nativas, entre outros. A área também abriga parcelas permanentes, inclusive do Inventário Florestal Nacional (IFN-BR). "Gerenciar esta área é um grande desafio, mas também uma oportunidade de pesquisa ímpar pelo volume de informações que podemos obter dos experimentos", explica André Biscaia, pesquisador da Embrapa Florestas que gerencia a EEEC.

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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