Pesquisador participa de audiência pública sobre queima de cana-de-açúcar
Pesquisador participa de audiência pública sobre queima de cana-de-açúcar
Foto: Agência de Notícias - Embrapa
Pesquisador participa de audiência pública sobre queima de cana-de-açúcar
O pesquisador Robert Boddey, da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), participará, na próxima segunda-feira, 22, de audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre queimadas em canaviais, convocada pelo ministro Luiz Fux após recurso do Estado de São Paulo contra uma lei do município de Paulínia, que proíbe a prática para a colheita da cana-de-açúcar.
De acordo com Fux, a audiência foi convocada porque a questão ultrapassa os limites jurídicos e demanda uma abordagem técnica e interdisciplinar. Ao todo, participarão 25 expositores, entre representantes do poder público, de produtores e de usinas de açúcar e álcool, além de autoridades na área de saúde e meio ambiente.
Boddey é o único pesquisador da Embrapa elencado no rol de expositores, e falará sobre vantagens e desvantagens dos dois tipos de colheita de cana – mecanizada ou manual, a partir da queima –, abordando especialmente os impactos que têm no aquecimento global. "É muito importante avaliar o impacto da mudança de manejo da cana nas emissões dos gases do efeito estufa", afirma o pesquisador, ressaltando que seu papel é apenas o de mostrar os prós e os contras de cada tipo de colheita, sem apontar de fato se há uma alternativa preferencial.
Colheita mecanizada x queima da cana – O pesquisador explica que, ao mesmo tempo em que pode haver uma diminuição na emissão de gases com a ausência da queima, também pode haver uma elevação pelo uso de maquinário e outros fatores. "A palha acumulada na superfície do solo é normalmente da ordem de 8 a 15 toneladas (peso seco). Quase tudo é convertido em dióxido de carbono na hora da queima. Mas, se não for queimada, a palha se decompõe gradualmente durante o ano, emitindo quase a mesma quantidade de CO2", aponta. "A queima emite metano, mas essa emissão é parcialmente compensada pelo óleo diesel utilizado pelas colhedoras", completa.
Por outro lado, ele destaca que a presença da palha na superfície do solo protege contra o impacto da chuva e do vento, diminuindo os riscos de erosão e favorecendo a conservação de água – apesar de também estimular a permanência na cultura de pragas como a cigarrinha. A preservação da palha também pode promover sequestro do carbono do solo, embora este benefício seja restrito a apenas uma ou duas décadas. No entanto, diz, "o uso de máquinas colhedoras pesadas pode promover a compactação do solo e se contrapor a todas as vantagens de redução de erosão e emissões de gases de efeito estufa ganhos pela manutenção da palha". Além disso, a compactação do solo resulta na redução da quantidade de raízes, que são as principais responsáveis pelo sequestro de carbono.
Boddey também aborda outros aspectos. "Perdas do solo via erosão ocorrem principalmente quando o canavial é renovado, devido ao intenso revolvimento do solo. Se o uso de colhedoras pesadas compacta o solo, e se for necessário renovar o canavial mais frequentemente, a erosão ao longo do tempo se torna mais severa. Como a maior parte das emissões ocorre na renovação do canavial – como óleo diesel para trator, subsolador e fertilizantes -, a renovação mais frequente também vai aumentar a emissão de gases de efeito estufa", aponta.
Durante a audiência também serão abordadas por outros especialistas questões referentes à requalificação dos trabalhadores que atuam na queima e no corte da cana, aos impactos da queima da palha para a saúde dos trabalhadores, aos custos econômicos e à impossibilidade de mecanização em áreas com topografia acentuada e alta declividade, entre outras.
Entenda o impasse – Para a Câmara Municipal de Paulínia, que proibiu as queimadas, essa prática gera danos à economia local, ao meio ambiente e à saúde da população e dos trabalhadores rurais. Já o Estado de São Paulo alega que a proibição prejudica as colheitas e contraria a Constituição Estadual. O Sindicato da Indústria da Fabricação do Álcool do Estado de São Paulo (Sifaesp) também se manifestou contrariamente à lei, uma vez que, com a mecanização, há a redução na contratação de mão de obra para a colheita do produto.
Texto: Liliane Bello (MTb 01766/GO)
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