Gotejamento e fertirrigação fazem agricultores ampliarem áreas cultivadas com melão, melancia e cebola
Gotejamento e fertirrigação fazem agricultores ampliarem áreas cultivadas com melão, melancia e cebola
Foto: Marcelino Ribeiro
Gotejamento e fertirrigação fazem agricultores ampliar áreas cultivadas com melão, melancia e cebola
Aumentar a área de cultivo. Eis aí uma decisão que parece combinada entre os agricultores que aceitaram avaliar, em suas propriedades, nos municípios da borda do lago formado pela Barragem de Sobradinho, algumas tecnologias de irrigação e de manejo de melão, melancia e cebola, pesquisadas na Embrapa Semiárido. Uma das razões para escolha tão semelhante está nos resultados das colheitas: quase o dobro de frutos que costumavam obter com as práticas convencionais de plantio.
A decisão tem sido tomada até por quem experimentou, pela primeira vez, o cultivo irrigado, sob a orientação dos pesquisadores da Embrapa. Comerciante e pecuarista no município de Pilão Arcado – BA, Gildécio Borges Lopes não esperou nem terminar a colheita de melancia, em 2,5 ha de sua propriedade, para anunciar a ampliação em mais 2,5 ha a área irrigada das suas terras para, quando janeiro chegar, plantar cebola.
Durante um evento de transferência de tecnologia, organizado na sua propriedade, por profissionais da Embrapa Semiárido, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) e da prefeitura, o comerciante brincava, entre as mais de 100 pessoas presentes, atribuindo para si o título de maior produtor de melancia de Pilão Arcado. Mais do que isso, ele era o primeiro agricultor, em cerca de 50 km de margem de rio, que se estende nos limites geográficos do município, a empregar tecnologia de irrigação num cultivo.
Passeando na área de plantio, dentre as muitas melancias próximas ao ponto de colheita, Gildécio não tinha dúvida: "me dei bem". Apoiado por estimativa dos pesquisadores da Embrapa, fazia sua própria previsão de colher em torno de 50 t de frutos. A venda, já tinha acertado com o comércio local, com o de Remanso e de Morro Cabeça no Tempo, município do Piauí. Principiante na agricultura irrigada, os resultados do plantio experimental, orientado pelos pesquisadores, deram uma certeza a ele: "o negócio é bom".
É uma opinião parecida com a que tem agricultores bem mais experientes. Seu Edvaldo Barbosa da Silva, com propriedade em Novo São Gonsalo, na zona rural de Sobradinho, tem mais de 20 anos que planta cebola e melão. Há pouco mais de 3, depois de contínuos insucessos com as culturas, esteve a ponto de largar o trabalho na roça e procurar outro meio de vida.
A participação no trabalho proposto pela Embrapa e a CHESF, no projeto "Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários e pescadores do território do entorno da Barragem de Sobradinho-BA", fez com que retomasse o ânimo para o plantio. Em 1 hectare, passou a experimentar o plantio de melão com o recurso de irrigação por gotejamento, agregado a equipamento que permite a aplicação de fertilizantes e adubos misturados à água de irrigação e a adoção de manejos voltados para melhorar o espaçamento entre plantas e racionalizar a aplicação de defensivos.
Na primeira colheita, em meses mais quentes do segundo semestre, viu saltar a quantidade de frutos de 18 mil t/ha para cerca de 40 mil t/ha. Numa segunda, agora nos meses mais frios, a retirada saltou de 15 t/ha para quase 30 t/ha. Com resultados assim, seu Edvaldo, que começou com a área de teste de 1 ha, já expandiu o sistema de irrigação por gotejamento para mais 2,5 ha e, até o final do ano, junto com o filho, quer chegar a 10 ha. Nos seus planos não está mais abandonar a agricultura.
No Sítio Chapadinha, também em Sobradinho, Damião Edmilson Gomes vai pelo mesmo caminho. Plantador de cebola, comemorava quando conseguia colher na sua propriedade 500 sacos da cultura por hectare. No primeiro ano de trabalho, junto com a Embrapa e a CHESF, ele viu sair da sua pequena terra 1.500 sacos. A boa safra ficou um pouco frustrada por causa do preço do mercado. No entanto, foi o bastante para, num segundo plantio, já com recursos próprios, cultivar melão. Depois, repetir no terceiro cultivo e, no quarto, mudar para tomate e pimentão.
Segundo ele, até então, nunca tinha "aliviado nada, era só ‘pêa'". "Esse negócio do gotejamento é bom demais, não é neguinha?", diz ao lado da esposa com quem divide os trabalhos na roça.
Damião, seu Edvaldo e Gildécio conseguem esses bons resultados reduzindo despesas com água e insumos. Seu Edvaldo, por exemplo, diz que reduziu em quase 50% a quantidade de água usada no plantio do melão. Da mesma forma, viu cair a despesa com insumos, ao passar a usa apenas 9 sacos de fertilizantes, ao invés dos 20/22 sacos que costumava usar.
Sucesso – Gestor do Convênio firmado com a Embrapa, Rodolfo de Sá Cavalcanti, da CHESF, considera que o sucesso das ações de transferência de tecnologias para as culturas irrigadas não cabe apenas ao empenho da equipe da Embrapa Semiárido. "É preciso destacar a força de vontade de aprender dos produtores. A qualidade e a produção do que se colhe nos campos experimentais gera orgulho no seu melhor sentido, não só do produtor, mas todos nós que fazemos o Convênio acontecer", afirma.
O Assessor de Gestão de Projetos Sociais para as Comunidades, da CHESF, Ivaldo de Oliveira e Silva, explica que esses trabalhos realizados em áreas experimentais mostram aos pequenos agricultores que existem técnicas mais modernas e fáceis de operar, podendo promover o aumento da produção. Mais que isso, a operação eficiente da irrigação por gotejamento fará os agricultores colher safra maior e com menor custo. "Vão melhorar o fruto do trabalho", diz.
O pesquisador Rebert Coelho Correia, da Embrapa Semiárido, diz que, a produção maior de frutos é um resultado significativo obtido pelos agricultores apoiados nesse projeto. Contudo, ele destaca o fato dessa colheita maior ser alcançada com uso menor de água e de agrotóxicos. Este é um dado importante para reduzir os impactos ambientais da atividade agropecuária sobre os recursos naturais.
Marcelino Ribeiro (MTb/BA 1127)
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