22/08/16 |   Agricultura familiar  Transferência de Tecnologia  Convivência com a Seca

Agricultores paraibanos participam de dia de campo sobre cultura do sisal

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Foto: Sérgio Cobel

Sérgio Cobel - Os assentados puderam observar de perto como é feito o manejo do sisal, a colheita e a operação da máquina para desfibrar a planta, e aprenderam como separar a fibra, a bucha e a mucilagem

Os assentados puderam observar de perto como é feito o manejo do sisal, a colheita e a operação da máquina para desfibrar a planta, e aprenderam como separar a fibra, a bucha e a mucilagem

O sisal integrado à pecuária como alternativa de renda na agricultura familiar do Semiárido foi tema de dia de campo realizado na última quinta-feira (18), no assentamento da reforma agrária Venâncio Tomé de Araújo, em Campina Grande, a aproximadamente 120 quilômetros da capital paraibana, João Pessoa.

O evento reuniu 65 participantes entre técnicos, agricultores de outros três assentamentos, representantes de entidades parceiras como Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater/PB) e Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Autopromoção (Coonap), entidade contratada pelo Incra para executar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em assentamentos da região.

Os assentados puderam observar de perto como é feito o manejo do sisal, a colheita e a operação da máquina para desfibrar a planta, e aprenderam como separar a fibra, a bucha e a mucilagem, que tem 7% de proteína, e pode ser utilizada como ração animal in natura, na forma de feno ou silagem, ou misturada com outros alimentos, como torta de algodão, milho moído e palma forrageira.

O Assentamento Venâncio Tomé de Araújo conta com uma Unidade de Teste e Demonstração (UTD), também chamada de Escola de Campo, implantada em 2011 pela Embrapa em uma área coletiva do assentamento com 3,5 hectares, em parceria com o Banco do Nordeste (BNB), a Cooperativa Rural do Assentamento Venâncio Tomé de Araújo (Cravta) e Coonap. Após o início das atividades de assistência técnica, a Coonap adquiriu a máquina usada no beneficiamento do sisal com recursos do Incra, em um investimento de aproximadamente R$ 7,5 mil. Nesta primeira colheita, que deve durar 30 dias, a estimativa é de que sejam obtidas quatro toneladas de fibra seca.

O dia de campo foi realizado pela Embrapa Algodão em parceria com o Incra/PB, o BNB, a Cravta, a Emater/PB, a Cooperativa Agropecuária Mista de Pocinhos (Campol), a Prefeitura de Campina Grande e a Coonap.

Vantagens do sisal

O pesquisador da Embrapa Algodão Odilon Reny Ribeiro da Silva ressaltou as vantagens da cultura do sisal, como alternativa de renda e segurança alimentar animal de rebanhos de ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos) para agricultores familiares do Semiárido. "Além disso, a fibra do sisal tem mercado garantido, pois é cada vez maior a demanda por materiais sustentáveis e de baixo impacto ambiental e o sisal é 100% biodegradável", afirmou.

O analista Embrapa Algodão Waltemilton Cartaxo destacou o papel das UTDs/Escolas de Campo na organização e ampliação da cadeia produtiva do sisal na agricultura familiar do Semiárido paraibano por meio da produção de mudas para assentamentos da região. "Muitos assentamentos paraibanos estão localizados em uma região muito seca, mas quem plantou sisal está produzindo apesar da estiagem prolongada dos últimos anos", afirmou Cartaxo.

O sucesso da experiência na área coletiva de Venâncio Tomé tem levado agricultores assentados a investir na cultura do sisal, como Antônio Otílio, agricultor do assentamento, que destinou dois hectares de seu lote ao plantio do agave e espera beneficiar as primeiras folhas em no máximo dois anos.  

Comercialização garantida

Após o beneficiamento do sisal, cerca de 5% do material obtido tem valor comercial (a fibra). O que sobra é utilizado como ração animal (mucilagem), como defensivo natural (suco) e na construção civil (bucha). O quilo da fibra, utilizada pelas indústrias na fabricação de tapetes, carpetes, cordas e fios, é vendido por aproximadamente R$ 2,70 e o quilo da bucha a R$ 1,00.

"Muitos agricultores assentados manifestaram interesse em iniciar o plantio do sisal porque ficaram muito empolgados com tudo que ouviram no dia de campo. Alguns pensam até em substituir o plantio de palma pelo sisal", disse o diretor técnico da Coonap, o engenheiro agrícola José Diniz das Neves. "A maior dificuldade no plantio do sisal é a mão de obra, porque é uma cultura que não pode ser mecanizada. Mas isto eles têm de sobra."

Segundo ele, a cultura do sisal, que inicia sua produção entre três ou quatro anos do plantio, tem várias vantagens sobre a cultura da palma forrageira, como o reduzido número de pragas, o valor comercial e o uso múltiplo da planta, que também é utilizada na fabricação de peças artesanais. Ele explicou que a colheita é feita a cada ano, pois o sisal produz de forma satisfatória com pouca chuva, gerando renda e segurança alimentar para os rebanhos, através do uso da mucilagem fenada ou ensilada, viabilizada pela peneira rotativa desenvolvida pela Embrapa.

"O sisal é bastante resistente à aridez e ao sol intenso do Semiárido e precisa de pouquíssima água. Além disso, a cultura pode ser consorciada com o milho, o feijão e o amendoim, por exemplo", afirmou Diniz, acrescentando que o volume de chuvas na região do Assentamento Venâncio Tomé alcançou apenas cerca de 270 milímetros no último ano. 

Durante o dia de campo, os assentados também receberam informações do presidente da Campol, do município de Pocinhos (PB), Antônio de Pádua Chaves, sobre cooperativismo e sobre a organização da produção e da comercialização do sisal no estado. Pádua garantiu que toda a fibra de sisal produzida na Paraíba já tem comprador certo porque, atualmente, a indústria de fiação e tecelagem Companhia Sisal do Brasil (Cosibra), localizada em Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa, precisa comprar a produção de agricultores baianos para atender a demanda.


Conheça aqui o sistema de produção do sisal.

 

Edna Santos (MTB-CE 01700)
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