Experiências das empresas em melhoramento florestal fecham o 4º Workshop Apre/Embrapa
Experiências das empresas em melhoramento florestal fecham o 4º Workshop Apre/Embrapa
Na manhã do dia 15/09, o workshop "Manejo para Uso Múltiplo – A Árvore de Pinus do Futuro", promovido pela Apre e Embrapa Florestas, abordou o tema "Pesquisa – o estado da arte do melhoramento florestal". Nesse bloco, sete palestrantes apresentaram o atual estágio do material genético de pinus dentro das suas empresas.
A primeira a falar foi Gisela Anbdrejow, da West Rock. De acordo com ela, a evolução nos ganhos de produtividade da empresa aconteceu graças ao melhoramento genético. Gisela contou que a West Rock começou com sementes importadas dos Estados Unidos. "Nossa floresta plantada em 2015 vai ter um ganho estimado de 55 metros cúbicos, enquanto que a nossa floresta de 2010, inventariada aos seis anos, apontava produtividade média de 51 metros cúbicos. Esperamos que em 2023, com nosso material de terceira geração, possamos chegar aos 60 metros cúbicos", destacou.
Mas Gisela também ressaltou que todo esse ganho não é simplesmente material genético; existe também relação com o fator ambiental. Ela lembrou que a West Rock utiliza técnicas silviculturais para garantir esses resultados.
"O melhoramento genético é uma ciência utilizada em plantas visando aumentar a frequência de alelos favoráveis em uma produção. Ou seja, aumenta a eficiência produtiva das plantas, utilizando as técnicas de seleção e cruzamento. O desempenho vegetal é função do ambiente e genética. Essa interação entre a genética e o ambiente é que vai garantir resultados melhores ou piores ao material", explicou.
Na base genética da West Rock, hoje, estão 812 famílias, e a empresa está caminhando para a terceira geração, podendo chegar em muitas outras. Segundo Gisela, a base genética ampla possibilita obter ganhos genéticos ao longo dos anos, e todas as introduções feitas garantiram à West Rock uma ampla base genética.
"Nosso primeiro pomar de sementes entrou em produção em 1978, com material vindo do IPEF. A partir de então, começamos a construir base genética dentro de um ciclo de melhoramento: estabelecer progênies, selecionar indivíduos, cruzar, plantar os descendentes, selecionar e levar para banco de conservação. Tudo isso leva tempo. Só temos essa produtividade na West Rock porque estamos há muito tempo trabalhando nisso. É importante ter em mente que um programa de melhoramento não consegue resultados a curto prazo", disse.
Toda a experimentação é feita nas áreas da própria empresa, que está presente em 18 municípios, espalhados por Santa Catarina e Paraná. "Esse mercado de sementes nos mostrou que temos que acompanhar a produtividade do Pinus taeda nos nossos clientes, comparando nossas sementes com outras fontes que esses clientes porventura tenham adquirido, sempre buscando uniformidade, ausência de bifurcação, vigor e sanidade geral. Hoje, o que temos de ponta é o nosso trabalho com técnica de polinização massal controlada (MCP) para maximizar os ganhos genéticos através do cruzamento", finalizou.
ArborGen
Vinicius Santos, da ArborGen, foi o segundo palestrante da manhã, e destacou que a empresa acumula 100 anos de experiência em tecnologia florestal, por conta das empresas que formaram a ArborGen. Hoje, a marca mantém equipes especializadas nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Brasil, o que garante uma troca de informações frequente. Nos EUA, a empresa detém 30% do mercado de mudas florestais, o equivalente a 280 milhões de mudas por ano, principalmente Pinus taeda. Na Nova Zelândia e Austrália, a ArborGen conta com 40% e 20% dos mercados, respectivamente, o que equivale a 22 milhões de mudas por ano nesses dois países. No Brasil, a empresa iniciou a operação comercial de eucalipto em 2013 e a de pinus em 2014. As vendas por aqui atingiram 30 milhões em 2015 e a expectativa para 2016 é chegar a 50 milhões.
"Somos uma empresa diferente, que tem a proposta de desenvolver material genético para o mercado. Todos os nichos de mercado florestal existentes nós buscamos atender. Queremos entregar material genético que vai proporcionar maior volume de madeira e com qualidade superior. Fazemos parte das mais importantes cooperativas de melhoramento florestal", declarou.
Santos lembrou, ainda, que o foco da ArborGen é fornecer materiais para o mercado. Por isso, a empresa não tem plantios florestais. Para chegar às sementes que os produtores procuram, os materiais são testados em todas as regiões de interesse das espécies, por conta da diversidade de clima e solo e também porque a interação entre o genótipo e o ambiente realmente existe, conforme ele explicou durante a palestra.
Com relação à árvore de pinus do futuro – tema principal do Workshop – avaliou que ela será altamente produtiva e terá a maioria das características desejadas pela empresa, proporcionando plantios florestais mais uniformes. "Outra coisa importante é se adaptar às características edafoclimáticas de cada região. Além disso, terá que ser adequadamente manejada. Também temos que estar preparados para pragas, doenças e mudanças climáticas", analisou.
Ele comentou que todos os trabalhos na ArborGen, hoje, partem de pomar clonal, e garantiu que os testes de progênie não são iguais para todas as empresas, pois levam em conta a região e o uso. "Também fazemos testes com os melhores cruzamentos, para ter informação das melhores famílias e dos melhores cruzamentos entre essas famílias. Já temos 25 mil cepas instaladas e expansão para esse ano é de mais 20 mil cepas. Temos potencial para produzir um milhão de mudas até 2017", salientou.
Por fim, ele defendeu o melhoramento genético para chegar mais próximo à arvore do futuro. "Além do ganho de produtividade, que é muito importante, o melhoramento também vai no sentido de reduzir os defeitos. Aumenta a uniformidade de plantio, maior quantidade de árvores com alto valor agregado (toras), economia nas operações florestais (menos capinas). Isso quer dizer que sem melhoramento, teremos árvores com defeito e heterogênea. Já com a genética mais avançada, alcançaremos árvores homogêneas e com melhor forma", afirmou.
Mobasa
Outra empresa que apresentou seus trabalhos de melhoramento florestal foi a Mobasa. Helena Pereira salientou, logo no início, que o principal ponto que deve ser levado em conta quanto ao melhoramento genético é que o trabalho leva tempo para proporcionar um bom material.
"Sempre temos que ter em vista que o objetivo dessa ferramenta é produzir sementes de qualidade, que vão gerar populações com qualidade. Melhoramento são ciclos repetitivos de seleção e recombinação", disse.
Para ter sucesso, Helena explicou que é preciso fazer a escolha de uma boa população base. Essa população deve ter variabilidade genética para permitir vários ciclos de seleção e recombinação. Assim, em cada etapa completa a empresa terá ganhos e permanecerá com a possibilidade de ter ainda mais ganhos futuros, com várias combinações.
No primeiro momento da Mobasa nesse assunto, a empresa teve destaque de três populações bases: um material da Georgia, um material da Louisiana e um da Flórida, todos dos Estados Unidos, e cada um em uma fazenda. Para a instalação do programa, foram selecionadas três Áreas de Produção de Sementes (APS) para compor o pomar.
Em 1984, a Mobasa instalou seu pomar clonal de sementes de 1ª geração, com 120 matrizes. O objetivo era chegar a 35 metros cúbicos de hectare por ano, e esse objetivo foi alcançado. Mas era preciso dar sequência ao programa, e, naquele momento, a empresa teve destaque também para uma APS que não estava no programa, com material que veio do Zimbábue.
"No momento que estabelecemos os testes de progênie, resolvemos colocar mais uma população base. Em 1997, usamos as 120 famílias do pomar clonal de primeira geração e ainda incluímos uma população do Zimbábue. Escolhemos quatro fazendas com comportamentos diferentes de solo, clima etc. para avaliar o desempenho. Essa avaliação é sempre importante. Como esses testes, modificamos a forma de avaliar as nossas variáveis com as novas preocupações, com objetivo de produção de árvores com máxima produtividade e qualidade, otimizando o uso da terra e proporcionando maior rentabilidade à floresta", comentou.
Em 2006, foi implantado o pomar clonal de sementes de 1,5º geração ou testado. Esse pomar foi avaliado a partir dos testes de progênie. No mesmo ano a empresa implantou o pomar de 2ª geração, que foi resultado de 50 melhores matrizes. Dessa forma, completou o ciclo do melhoramento genético, escolhendo a espécie, o local e as procedências e realizando testes. As sementes começaram a ser comercializadas em 2015.
"Apresentei toda essa evolução do melhoramento genético da empresa para dar uma ideia do tempo que isso levou. Foram 41 anos para começarmos a ter retorno. É complicado trabalhar com o futuro, cria-se uma expectativa daquela semente. A cada passo que damos e a cada crise ou mudança do mercado, essa expectativa está ainda maior na semente. Sempre vem a pergunta: onde queremos chegar? Que árvore queremos ter? Foram 41 anos de investimento. Hoje, a Mobasa está entrando no mercado com uma quantidade de clientes consideráveis. Queremos apresentar uma forma diferenciada de trabalhar com nossas sementes. Queremos fazer semente customizada para cada cliente. Nosso objetivo é sempre atender à expectativa futura", finalizou.
Embrapa Florestas
Dentro do painel de Melhoramento Florestal, o consultor Jarbas Shimizu e pesquisadora da Embrapa Florestas, Ananda Aguiar, apresentaram o programa de melhoramento de Pinus da Embrapa.
Shimizu falou sobre o material genético disponível na instituição e citou que a Embrapa, com o programa, tem por objetivo aumentar a capacidade de adaptação às condições climáticas e pedológicas locais ao longo das gerações (mudanças climáticas); aumentar a produtividade de madeira para usos múltiplos; melhorar a qualidade da madeira para fins específicos; aumentar a produtividade de resina; formar e manter a base genética para uso em programas de melhoramento; e viabilizar tecnologias para utilização de genótipos especiais em grande escala.
O pesquisador também destacou que a Embrapa não é usuária de produto florestal e, por isso, todas as ações são pensadas em benefício de toda a sociedade. Dessa forma, disponibiliza material genético de alto potencial para setores específicos, além de recursos intelectuais e institucionais disponíveis e a possibilidade de ações integradas com setores específicos para melhoramento genético.
"Sem a relação entre a Embrapa e as empresas, nada evolui. Somente com essa dinâmica vai ser possível produzir sementes ou clones melhorados que servirão para cada uma das empresas que estão no circuito. São as empresas que vão contribuir com informações necessárias, porque elas têm demandas específicas. E essas sementes ou clones melhorados é que vão realimentar a operação de cada empresa. É uma dinâmica essencial. Se não tivermos isso, as empresas estão perdendo uma grande oportunidade de customizar o material genético mais apropriado para cada uma delas. Estamos propondo um projeto cooperativo para melhoramento de pinus, para fazer todo esse potencial intelectual sair dessa ‘caixinha' e servir para todo o setor florestal", garantiu.
Em seguida, Ananda Aguiar falou sobre a segunda fase do programa de melhoramento da Embrapa e seus parceiros. Nessa segunda fase, o objetivo foi dar continuidade à caracterização genética e ao desbaste seletivo dos ensaios de segunda geração estabelecidas de algumas espécies de pínus. Segundo ela, como a Embrapa e seus parceiros detém uma ampla rede de ensaios, é importante estabelecer uma melhor caracterização genética para manutenção e andamento do programa de melhoramento.
Dentre os objetivos específicos da segunda etapa, Ananda citou que a Embrapa pretender resgatar, enriquecer e conservar germoplasma de pinus e estabelecer populações base de melhoramento genético para atender às demandas nacionais de sementes melhorada de pinus; desenvolver programas de melhoramento para aumentar a produção e a qualidade de madeira e resina e a qualidade do fuste para diversos sítios de plantios; desenvolver novas metodologias mais eficientes de fenotipagem de características de madeira e resina que podem ser utilizados em escala com a finalidade de explorar e avaliar a diversidade genética das populações de melhoramento e contribuir para seleção de árvores superiores para diversos fins; entre outros.
Maureen Bertol - Interact Comunicação (MTb 8330/PR)
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