Pesquisa resgata alimentos regionais, técnicas de mercado e variedades naturalmente enriquecidas
21/10/16
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Segurança alimentar, nutrição e saúde
Pesquisa resgata alimentos regionais, técnicas de mercado e variedades naturalmente enriquecidas
Foto: Paulo Lanzetta
BRS EXpedito é encontrado com facilidade na região Sul do país e possui alto teor de zinco, apropriado para enriquecer dietas com carências nutricionais.
Durante a Semana Nacional da Alimentação, lembrada pela data do Dia Mundial da Alimentação em 16 de outubro, o trabalho da Embrapa está empenhada em levar conhecimento à população como uma forma de contribuição a uma alimentação mais adequada. Uma alimentação variada tem relação direta com o acesso aos produtos, com escolhas do consumidor e também com o hábito cultural de uma região. No Sul do país, a pesquisa resgatou algumas culturas agrícolas, as quais são alternativas de cor, sabor e saúde à mesa.
A Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) tem trabalhado com algumas fontes de consumo de alimentos diferenciados e que fazem parte do próprio bioma regional. Entre as opções trabalhadas estão as frutas nativas (pitanga, araçá e butiá), alguns alimentos biofortificados naturalmente (feijão e batata-doce), e ainda, o uso de tecnologias na manutenção da qualidade desses produtos ao agregar valor, como por exemplo, na cadeia da maçã.
As frutas nativas
A produção de frutas nativas são um bom exemplo como resgate aos hábitos culturais. E para isso, a Unidade de pesquisas mantém um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de fruteiras nativas do Sul do Brasil, com o objetivo de conservar um pouco de variabilidade genética destas fruteiras. O araçazeiro, a pitangueira e o butiazeiro se destacam com maior potencial de aproveitamento. Nos trabalhos que vem sendo executados, tem sido realizada a seleção de genótipos com características superiores ao observar principalmente qualidade das frutas e produtividade; a caracterização fitoquímica, determinando compostos químicos presentes nas frutas e suas possíveis funções nutracêuticas; aspectos de pós-colheita e processamento de frutas nativas, buscando produtos diferenciados com alto valor agregado. Desenvolver um sistema de produção para o cultivo destas espécies é uma das metas a serem alcançadas, com o objetivo de introduzi-las no sistema de produção de frutas da região.
Além da produção de frutas para consumo in natura, a fruticultura possibilita a agregação de valor por meio do processamento em diversas formas, que podem contribuir de modo significativo para o aumento da renda na propriedade.
As frutas nativas se adaptam bem a qualquer tipo de solo e clima e possuem baixo custo de produção. São culturas indicadas para pequenas propriedades familiares, com retorno econômico. Além disso, a colheita da maioria delas ocorre em épocas diferente de outras frutíferas importantes.
Quanto à sua composição química e funcional, a pesquisadora Márcia Vizzotto fala que os resultados de projetos tem apontado que a pitanga é uma fruta rica em carotenoides e tem grande potencial para inibitório da enzima alfa-glicosidase, sendo um indicativo de seu uso no controle de diabetes tipo 2. A mesma atividade foi observada nas folhas da pitangueira. Da mesma forma, o araçá também está sendo estudado como inibidor destas enzimas responsáveis pela quebra dos açúcares, e também pode, no futuro, ter um uso potencial no controle do diabetes tipo 2. Estudos de caracterização química destas espécies estão em andamento para tentar identificar quais os compostos bioativos são os responsáveis pelas ações biológicas encontradas. Em estudos anteriores, a pitanga já tinha sido apontada como uma fruta antioxidante e de ação antiproliferativa contra algumas linhagens cancerígenas.
O projeto Biofort
Em virtude da deficiência de micronutrientes como ferro e zinco e de vitamina A, constatados em sérios problemas de saúde pública como a anemia no Brasil, a dieta do brasileiro tem sido melhorada com a presença do projeto Biofort, em desenvolvimento há mais de 10 anos. O projeto é responsável pela biofortificação de alimentos no Brasil, coordenado pela Embrapa, a qual inclui 14 unidades de pesquisa, com foco no melhoramento genético convencional de alimentos básicos na dieta da população como arroz, feijão, feijão caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo.
O processo de biofortificação é feito com o cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivas, ou conhecido, como melhoramento genético convencional. Inclusive, ao longo do tempo, formou uma rede de pesquisadores no Brasil e no exterior, que estão investindo em conhecimento técnico-científico da agronomia e da saúde e estão obtendo alimentos mais nutritivos.
No campo, as cultivares são selecionadas e as mais promissoras seguem para a etapa de melhoramento. Nessa etapa, o objetivo é a obtenção de cultivares mais nutritivas, que também apresentem boas qualidades agronômicas (produtividade, resistência à seca, pragas e doenças), além de boa aceitação de mercado. Ao mesmo tempo, nos laboratórios da Embrapa e das universidades vinculadas ao projeto, estão sendo iniciados os estudos sobre biodisponibilidade para estimar se o organismo humano consegue absorver os micronutrientes presentes nas cultivares melhoradas.
O projeto se preocupa desde o momento em que o alimento é produzido até a mesa do consumidor. É importante que as novas cultivares, além dos ganhos nutricionais também apresentem vantagens agronômicas e comerciais. Já o consumidor é outro elemento importante no processo e é indispensável a sua aceitação aos alimentos biofortificados.
Cultivares enriquecidas
A Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) trabalha com duas cultivares no projeto de biofortificação. A variedade de batata-doce BRS Amélia e a cultivar de feijão BRS Expedito.
As batatas biofortificadas são aquelas que tem algum elemento a mais que favorece o metabolismo. As cultivares de polpa amarela tem betacaroteno, ou seja, pró vitamina A. Isso entra no metabolismo humano e atua em várias áreas do organismo, como é o caso da BRS Amelia. "Ela possui um alto índice de carotenóides, ou seja, estimula o sistema imunológico e auxilia na prevenção de doenças", afirma o pesquisador Luís Suita de Castro. Assista a entrevista em http://we.tl/3ceJ3C10KR
A grande característica que separa um alimento biofortificado de um alimento convencional é a presença de determinado nutriente. O projeto de biofortificação identificou que, no caso do feijão, os elementos que são mais carentes são o ferro e zinco. A cultivar de feijão desenvolvida pelo pesquisador Irajá Antunes é o BRS Expedito, que possui alto índice de zinco. Conhecido por diversos agricultores, o BRS Expedito é facilmente encontrado na região Sul do Rio Grande do Sul.
Mais vida de prateleira
A pesquisa dedica também espaço à manutenção da qualidade dos produtos ao agregar valor. A cadeia da maçã é alvo de estudo do pesquisador Rufino Fernando Cantillano. Ele está testando formulações chamadas de Coberturas Comestíveis. "Mergulha-se a fruta numa solução, a qual permite maior durabilidade, mantendo o frescor e um maior tempo de vida de prateleira", disse o pesquisador. O mais comum é o uso de produtos naturais como fécula de mandioca, amido, gelatinas e outros. O projeto será concluído em 2017.
Outra possibilidade é o uso de soluções que retardem a oxidação da fruta. "Ao se processar as maçãs é possível com essa solução antioxidante mantê-la clara, sem que fique escura e amarelada, entre oito a 10 dias na prateleira", contou Cantillano. Empresas do mercado da maçã no Estado do Rio Grande do Sul já estão interessadas em montar uma planta para processamento da fruta in natura.
Cristiane Betemps (MTb 7418-RS)
Embrapa Clima Temperado
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