Resultado da 1ª. Prova de Leite a Pasto da Embrapa Cerrados é divulgado na PecBrasília 2016
Resultado da 1ª. Prova de Leite a Pasto da Embrapa Cerrados é divulgado na PecBrasília 2016
A Embrapa Cerrados promoveu, no dia 26 de outubro, durante a 2ª Mostra Tecnológica da Pecuária do Distrito Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) (PecBrasília 2016), a divulgação dos resultados finais da Primeira Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro no Centro de Tecnologias para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Unidade.
Cerca de 40 produtores, técnicos e pesquisadores estiveram presentes no Parque de Exposições Agropecuárias Granja do Torto, em Brasília (DF) para acompanhar a apresentação dos dados da prova zootécnica que avaliou a produção de leite a pasto de 20 novilhas da raça Gir Leiteiro provenientes de 13 criatórios do Distrito Federal e Entorno.
Realizada em parceria com a Associação de Criadores do Zebu do Planalto (ACZP), a prova tem como objetivo identificar matrizes Gir leiteiro adaptadas às condições do Cerrado brasileiro com potencial genético para a produção de leite a pasto. Para isso, foi avaliada a primeira lactação de novilhas buscando animais melhoradores. A ideia agora é multiplicá-los para disponibilização ao mercado.
O chefe geral da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia, destacou a parceria da Unidade com a ACZP e com a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) para a realização da prova e agradeceu aos produtores que participaram com animais e à equipe do CTZL. "Precisamos encontrar genética que se adapte ao nosso sistema de produção a pasto. Não é comprar genética e depois inventarmos um sistema que não temos condições de manter", afirmou.
Marcelo Toledo, superintendente técnico da ACZP, revelou a satisfação da entidade em realizar a prova com a Embrapa. "Foi uma felicidade muito grande. Sempre tivemos vontade de desenvolver esse projeto junto com o CTZL e deu tudo certo. Tudo foi feito para que o produtor se beneficie com as informações geradas", disse, acrescentando que o novo desafio é a segunda prova, que está recebendo inscrições e vai contemplar as raças Gir leiteiro, Guzerá e Sindi.
Avaliações
Os pesquisadores Carlos Frederico Martins e Isabel Cristina Ferreira apresentaram os trabalhos de pesquisa e transferência de conhecimento realizados no CTZL da Embrapa Cerrados e os resultados da prova, que tem o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília e das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu).
"Sem essas parcerias não seria possível realizar a prova. Todos os recursos investidos são transformados em produtos que vão contribuir para a sua melhoria. E com a experiência da primeira prova, com certeza a segunda será um sucesso", apostou Martins, coordenador técnico da avaliação.
A realização da prova tem como premissas a seleção genética confiável, com no mínimo cinco meses de mensuração de leite; o sistema de produção pecuária característico do Brasil, que tem o pasto como base alimentar sustentável; e a produção do leite seguro e saudável, sem qualquer aditivo.
Todas as novilhas da prova são genotipadas para beta caseína A2 no leite, que segundo estudos médicos, é menos alergênica que a beta caseína A1, além de representar menores incidências de doenças cardiovasculares, diabetes. "É uma característica que agrega valor ao zebuíno leiteiro. 80% dos zebuínos carrega essa característica", explicou Martins.
As 20 novilhas contemporâneas foram mantidas por 14 meses em pasto rotacionado com suplementação, sendo dois meses de adaptação e 12 meses de lactação. A área de avaliação foi de 12 hectares divididos em 16 piquetes com pasto de braquiária Brizanta BRS Piatã. Os partos ocorreram entre 10 de outubro e 29 de dezembro de 2015. As ordenhas foram realizadas mecanicamente duas vezes ao dia, com a presença do bezerro ao pé, sem indutores de lactação.
Os animais foram avaliados durante 305 dias de lactação quanto à produção de leite (com peso ponderado de 40% na avaliação), intervalo do parto à concepção (15%), porcentagem de gordura no leite (5%), contagem de células somáticas no leite (5%), porcentagem de proteína no leite (10%), persistência de lactação (10%) e conformação da morfologia racial (15%).
Os atributos compõem o índice fenotípico que classifica os animais na prova. Cada atributo foi expresso considerando-se a média do grupo avaliado com o valor de 100% – ou seja, os animais acima da média receberam valores superiores a 100% e os abaixo da média, valores inferiores a 100%. "Assim, o animal primeiro colocado não é o que produz mais leite, mas é o mais equilibrado nesses fatores avaliados", afirmou Martins. Outros fatores avaliados, mas que não compõem o índice fenotípico foram os sólidos totais e a lactose presentes no leite.
Os animais também foram avaliados quanto ao custo operacional da produção de leite e à margem bruta em sistemas de produção do Bioma Cerrado – no caso, foi considerado o sistema de produção no CTZL, como mostrou Isabel Ferreira. A partir do preço base de R$ 1 o litro, foram acrescidas bonificações de gordura, de proteína e de contagem de células somáticas praticadas pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais. E em função da produção em 305 dias e do preço, foi calculada a remuneração bruta do leite. A margem bruta foi calculada a partir do valor da receita menos os custos operacionais.
A pesquisadora apresentou ainda as curvas de lactação das novilhas da prova, apontando as diferenças de comportamento da produção de leite em cada animal e a variação ao longo do tempo.
Premiação
Os produtores receberam um certificado de participação na prova, sendo que os proprietários dos cinco animais melhores colocados também ganharam um troféu. A novilha melhor colocada foi Janaúba F. Viena, com índice fenotípico 109,2%, de propriedade de José Maria dos Anjos, de Luziânia (GO). A segunda colocada foi PH Harmonia, do CTZL/Embrapa Cerrados, com índice fenotípico 104,5%; PH Frenética FIV, de Paulo Horta (Brasília, DF) foi a terceira, com 104,2%; Daura FIV Positiva, de José Mário Abdo (Alexânia, GO), a quarta, com 104,0%; e GZ União-I, de Marcelo Ricardo de Toledo (Brasília) a quinta, com 102,4%. Os animais foram expostos no pavilhão da Embrapa na PecBrasília 2016.
Para o criador José Maria dos Anjos, que disponibilizou duas novilhas para a prova – uma delas a melhor classificada –, a participação se deve principalmente à credibilidade do trabalho desenvolvido pela Embrapa, tanto no âmbito nacional como internacional e à confiabilidade das informações geradas pela avaliação.
"Para nós que trabalhamos com melhoramento genético, a preocupação é aprimorar as técnicas que levam à agregação de valor. A Embrapa traz essa agregação não apenas com a avaliação em termos absolutos da produção de leite, mas também com outros fatores elencados que passam a ser referência daqui para frente, como o ganho financeiro e a genotipagem para a beta caseína A2", afirmou o produtor, que já decidiu participar da segunda prova com animais das raças Gir Leiteiro e Sindi.
José Mário Abdo, dono da novilha quarta colocada, participou da prova para testar – e comprovar – o potencial genético e de produção do Gir Leiteiro, além de contribuir para as pesquisas da Embrapa Cerrados. Para o produtor, a prova possibilitou evidenciar e firmar a convicção de que a raça é, de fato, vocacionada para a produção de leite nos trópicos. "As cinco novilhas melhores colocadas produziram, a pasto, 3,5 mil ou mais quilos de leite durante os 305 dias de lactação, o que dá uma média de mais de 11,5 quilos por dia", observou.
Segundo o criador, a prova também permitiu derrubar alguns tabus, como o de que as novilhas não conseguiriam ficar prenhas antes do final da lactação, e mostrar que é possível produzir um leite saudável e sustentável. "A prova serviu também como baliza para o processo de seleção genética que fazemos nas propriedades. É uma sinalização para continuarmos no caminho que estamos seguindo, com a chancela da nossa Embrapa", finalizou.
Homenagem
O produtor Paulo Horta foi homenageado pela Embrapa. "Nós da Embrapa dependemos muito dos produtores rurais. No trabalho que desenvolvemos no CTZL, temos a felicidade de conviver com uma pessoa extraordinária. Devemos muito a ele tanto em relação ao que existe no CTZL, como à ideia da prova de produção de leite a pasto e à nossa genética (de bovinos leiteiros)", declarou Cláudio Karia.
Horta foi um dos idealizadores do CTZL da Embrapa Cerrados e tem trabalhado no fomento das raças zebuínas leiteiras na região há 37 anos, selecionando animais Gir leiteiro. "Ele está sempre apoiando a pesquisa na Embrapa Cerrados. Agradecemos por toda essa contribuição que o senhor tem dado", disse o pesquisador Carlos Frederico Martins, coordenador da prova.
"A parceria com a Embrapa é muito importante. Essa prova de produção de leite é um marco no Gir Leiteiro", disse Horta ao agradecer a homenagem. Para mostrar a importância da prova, ele citou um trabalho feito pelos pesquisadores Mário Martinez, Rui Verneque e Roberto Teodoro, da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), sobre avaliação e seleção de matrizes a partir do estágio de lactação, no qual foram avaliadas mais de 40 mil lactações, incluindo testes de progênie e o arquivo nacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O estudo demonstra estatisticamente que para decidir se uma matriz deve ou não ser descartada é necessário aguardar no mínimo seis meses de lactação. "No teste de progênie da prova de produção de leite, o controle leiteiro da lactação acima de seis meses é o que nos permite guardar ou desfazer de uma determinada matriz", explicou Horta.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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