14/04/14 |   Agricultura familiar

Forrageiras nativas ou adaptadas melhoram desempenho da criação caprina e ovina no Semiárido

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Foto: Marcelino Ribeiro

Marcelino Ribeiro - Caprinos são mais resistentes à seca

Caprinos são mais resistentes à seca

Na pior seca dos últimos 30 anos, iniciada em 2011 e que ainda manifesta seus efeitos até este início de 2014, a criação de caprinos e ovinos foi uma das atividades agrícolas menos vulnerável aos efeitos da estiagem no Semiárido. Uma razão é que essas espécies possuem hábitos alimentares menos seletivos e maior rusticidade que os bovinos. Os agricultores, porém, têm pela frente o desafio de recuperar a produtividade dos seus animais.

Segundo a pesquisadora Salete Moraes, da Embrapa Semiárido, esta recuperação precisa ser feita com base em novos arranjos tecnológicos que ampliem a capacidade de suporte das propriedades. "É possível estruturar os sistemas de produção, principalmente com a introdução de forrageiras perenes e adaptadas às  condições do clima característico de regiões semiáridas". Dessa forma, se consegue "reduzir as altas taxas de mortalidade de animais jovens e a melhorar os índices zootécnicos do rebanho".

Outra alternativa é  adotar  sistemas agroflorestais ou silvipastoris que, ao diversificar as espécies destinadas a produção de alimentos para os animais, reduz os riscos de perdas nas propriedades.

"A caprinovinocultura praticada pela grande maioria dos criadores das áreas dependentes de chuva ainda é predominantemente extensiva e baseada em pastagens nativas, no caso a caatinga". A maioria dos produtores não faz uso  dos recursos tecnológicos disponíveis, e o resultado disso é a baixa sustentabilidade dos sistemas de produção, explica a pesquisadora.

Em linhas gerais, esses sistemas dependem do  que se produz no período das águas e que não consegue conservar o excedente para a época seca em que as fontes de alimento se tornam escassas. "Isso é preocupante pois acarreta em graves prejuízos para atividade", afirma a pesquisadora.

A caprinovinocultura é uma atividade que tem impacto na economia das comunidades e na renda e melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares. Por isto a Embrapa Semiárido investe em pesquisa com espécies forrageiras nativas e adaptadas ao ambiente quente e seco. O objetivo é selecionar as que são capazes de aumentar a capacidade de suporte das propredades e reduzir a necessidade de aquisição de insumos externos.

Desta forma, oferece as bases para os criadores produzirem sua própria forragem e abandonar as práticas extensivas de baixo rendimento econômico e que afetam a vegetação nativa com o pastejo sem controle algum.

"Há um acervo de tecnologias e conhecimentos gerados na Embrapa capaz de fortalecer os sistemas de criação desses animais".  E, em eventos como a Feira Semiárido Show, o centro de pesquisa busca promover a sua apropriação por parte dos criadores da região. Entre as espécies trabalhadas pode-se destacar:

 

Palma

Forrageira de longa tradição na pecuária nordestina e representando suporte alimentar fundamental para rebanhos das regiões semiáridas. No Nordeste, se cultiva, principalmente, três variedades: Gigante, Redonda e Doce ou Miúda. Possui alta concentração de energia, excelente palatabilidade,  boa digestibilidade, é rica em minerais,  apresenta ótimo potencial de produção por área e o diferencial de estar disponível nos períodos mais críticos de oferta de alimentos. Apesar do alto custo na implantação, é o único volumoso que pode ser deixado no campo, sem precisar ser colhido, não apresentando perda do valor nutritivo, o que confere grande vantagem durante secas prolongadas.

 

Gliricídia

Leguminosa arbórea originária da América Central, de porte médio e crescimento rápido, cujo enraizamento profundo lhe assegura grande resistência à seca. É considerada uma planta de múltiplos usos: forragem, reflorestamento, adubação verde, cercas vivas, entre outros. Os estudos já realizados pela Embrapa, em diferentes locais da região Nordeste do Brasil, recomendam a sua utilização como um componente importante para a sustentabilidade dos agroecossistemas regionais.

 

Maniçoba

Planta nativa da caatinga. Possui grande resistência à seca devido ao acúmulo de reservas em seu sistema radicular. Desenvolve-se na maioria dos solos, podendo ser considerada um recurso forrageiro de boa qualidade. A maniçoba possui, em sua composição, quantidades variáveis de determinadas substâncias que dão origem ao ácido cianídrico; por isso, seu consumo deve ser, preferencialmente, na forma de feno. É encontrada em diversas áreas do semiárido do Nordeste brasileiro. Apresenta alta palatabilidade e boa qualidade como forrageira.

 

Capim Buffel

Gramínea forrageira que apresenta grande destaque em resistência à estiagem entre as pastagens cultivadas nas regiões semiáridas do Nordeste. O capim buffel foi trazido da África e introduzido no estado de São Paulo em 1953. Posteriormente, a fácil adaptação às regiões secas, com poucas e mal distribuídas chuvas, favoreceu sua introdução em várias áreas do Nordeste brasileiro, para a formação de pastagens.

 

Pornunça

Híbrido natural, formado a partir do cruzamento da mandioca com a maniçoba. Com isso, ela herda as qualidades forrageiras e de rusticidades de espécies bem adaptadas ao ambiente da caatinga. As raízes da pornunça são fibrosas e longas, consideradas excelentes reservas para períodos de estiagem. Como forrageira é semelhante à maniçoba e um pouco mais produtiva, visto que demora mais a perder as folhas com o início do período seco.

 

Melancia Forrageira

Também conhecida como melancia do mato, melancia de cavalo ou melancia de porco, é originária da África e se adaptou muito bem às condições climáticas das regiões secas do Nordeste do Brasil. Existem, espalhadas por todo o Nordeste brasileiro, variedades de melancias, chamadas pela população de nativas, que apresentam formas alongadas ou arredondadas e tamanhos variáveis. Por acumularem grande quantidade de água em sua polpa, além da facilidade de conervação no campo, podem servir como uma boa alternativa na complementação da ração fornecida aos animais. Geralmente, possuem a casca lisa e dura, de coloração creme e polpa branca, podendo algumas delas apresentar a casca rajada.

 

Leucena

Leguminosa arbustivo/arbórea perene, excelente para a alimentação de caprinos e ovinos. É uma das forrageiras mais promissoras para o semiárido, principalmente pela capacidade de rebrota, mesmo durante a época seca, pela ótima adaptação às condições de solo e clima do Nordeste e pela excelente aceitação pelos ruminantes.

 

Marcelino Ribeiro (MTb/BA 1127)
Embrapa Semiárido

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