29/05/14 |   Mecanização e Automação

Colheita e pós-colheita do café: qualidade e tecnologias acessíveis aos cafeicultores

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Foto: Renata Silva

Renata Silva - Um dos destaques do curso foi o terreiro secador com cobertura móvel

Um dos destaques do curso foi o terreiro secador com cobertura móvel

O processo de colheita e pós-colheita do café, com foco na qualidade,  foi tema de treinamento realizado pela Embrapa e parceiros em Ouro Preto do Oeste, a 330 quilômetros de Porto Velho (RO), nos dias 28 e 29 de maio. O evento reuniu 40 técnicos extensionistas, assim como produtores e estudantes,  que estarão preparados para levarem aos cafeicultores da região as inovações e tecnologias viáveis e voltadas para a agricultura familiar. Durante o evento foram abordados temas como: Produção Integrada do Café (PIC); Desafios e perspectivas da cafeicultura no estado; Colheita semi-mecanizada; Despolpamento e secagem do café; Terreiro secador de cobertura móvel; Classificação do café; Tecnologias de colheita e pós-colheita; entre outros assuntos que, além da parte teórica, foram apresentados na prática.

O curso recebeu participantes de diversas regiões de Rondônia e também do Acre. O técnico da Emater-RO, Mário Neuman, percorreu cerca de 500 quilômetros para participar do treinamento. Segundo ele, valeu a pena o aprendizado adquirido. "Estamos em busca de mais informações e tecnologias para melhorarmos as lavouras de Ponta do Abunã (distrito de Porto Velho) e estou comprovando aqui que precisamos melhorar e muito na qualidade e vamos levar isso aos produtores da nossa região.Um conhecimento muito valioso que precisamos repassar", afirma Mário. Assim como ele, outros participantes vieram de longe.

O coordenador do Programa do Café da Secretaria de Estado de Pequenos Negócios do Acre, Rômulo Ribeiro, por exemplo, juntamente com outros técnicos e produtores do estado, vieram ao treinamento em busca de inovações e práticas que possam ser adotadas pelos cafeicultores acreanos. "Estamos começando o programa do café no Acre e queremos agregar conhecimentos e tecnologias já existentes aqui em Rondônia. O curso está sendo muito proveitoso e, com certeza, vamos levar muitas novidades aos cafeicultores do Acre e também a experiência de que precisamos estar atentos à qualidade em todo o processo", diz Ribeiro.

Foco na qualidade

A cafeicultura em Rondônia é uma das principais atividades agrícolas, destacando o estado como o sexto maior produtor de café do país, além de ser o segundo da espécie Coffea Canephora. No entanto, ainda há muito a fazer quanto a qualidade do café. "É preciso aproveitar o potencial de Rondônia para a cafeicultura e investir em qualidade para que a atividade se torne mais competitiva no mercado", destaca o diretor comercial da Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua (Coocaran) de Rondônia, Leandro Dias. Ele complementa dizendo que a classificação do café do estado está  entre 500 a 600 defeitos, quando a tabela vai até 360, ou seja, o café não é classificado e perde muito por falta de qualidade. "Os defeitos são decorrentes de uma colheita e pós-colheita mal feitas, sem a devida atenção para a qualidade. E os cafeicultores precisam e tem condições de reverter este quadro com tecnologias e práticas acessíveis, ou perderão cada vez mais mercado. É  necessário que os produtores comecem a fazer as contas, colocar 'na ponta do lápis' os custos e as perdas por não investirem em qualidade. Para se ter uma ideia, quando o cafeicultor opta por colher o grão verde ao invés do maduro, ele tem uma perda de cerda de 30%", explica Leandro.

O pesquisador da Embrapa Café, Júlio César Santos, apresentou aos participantes a Produção Integrada do Café, que tem por objetivo tornar a produção de café mais sustentável, por meio da adoção das Boas Práticas Agrícolas, rastreabilidade e sustentabilidade econômica, social e ambiental. Esta ação atende também as exigências do mercado, que cobra e valoriza condições apropriadas de produção e certificação do produto. As notas técnicas do PIC estão na Instrução Normativa nº 49, publicada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em setembro de 2013. "O PIC é importante para que o pequeno produtor possa adequar sua propriedade para que ela seja sustentável. Este Programa é nacional  e é importante enfatizar a adoção de tecnologias mais eficientes, de baixo impacto ambiental e favorecendo a rastreabilidade do produto, desde a instalação da lavoura até a comercialização", conclui o pesquisador.

Tecnologia: terreiro secador de cobertura móvel

Durante o evento os participantes conheceram práticas e tecnologias que podem ser adotadas pelos produtores. Um dos destaques que chamou a atenção foi o terreiro secador de cobertura móvel, que foi desenvolvido e está em fase de teste pela Embrapa Rondônia. Trata-se de um terreiro de alvenaria tipo barcaça, que tem uma cobertura móvel e com telha transparente, possibilitando a secagem do café mesmo durante a chuva. Este sistema proporciona ainda uma secagem homogênea e com temperatura perto da ideal, que vai de 35°C a 45°C.

Ao contrário de secadores convencionais (lenha e carvão), em que muitas vezes, para secar o café em menor tempo, o grão é levado a temperaturas que chegam a 300°C, modificando suas propriedades físicas e químicas, o que provoca perda da qualidade. O tempo de secagem no terreiro de cobertura móvel é em média de três a quatro dias, bem equiparado aos secadores convencionais que atendem ao processo de secagem com qualidade. "Este terreiro de cimento de cobertura móvel é uma tecnologia viável para o produtor, pois diminui mão-de-obra, uma vez que não será necessário fazer a amontoa do café nos períodos de chuva, ou mesmo durante a noite. Além de ser um processo de secagem que pode ser considerado de baixo custo e ecologicamente sustentável, pois utiliza energia solar", argumenta o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves.

Colheita semi-mecanizada do café conilon

A cafeicultura em Rondônia é conduzida em pequenas propriedades e baseadas na agricultura familiar. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade média dos cafezais em Rondônia é baixa, média de 16 sacas por hectare, cultivados por cerca de 21 mil produtores, que têm no café a principal fonte de renda e responsável pela manutenção destas famílias no campo. No entanto, um dos principais gargalos enfrentados por estes produtores é a falta de mão-de-obra, que limita o desenvolvimento da produção, tanto em quantidade como em qualidade. E, com o intuito de minimizar este problema, durante o treinamento foi apresentada também a colheita semi-mecanizada do café Canephora, que pode ser uma alternativa viável. "A Embrapa Rondônia está realizando testes e o objetivo é avaliar o desempenho e a viabilidade da colheita semi-mecanizada. Também será estudado o efeito dessa alternativa à colheita manual sobre a produção e qualidade do café, assim como a longevidade das plantas", explica o pesquisador Enrique Alves.

Realização e parcerias

O treinamento foi organizado pela Embrapa Rondônia e Embrapa Café e contou com apoio do Consórcio Pesquisa Café, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Conilon Brasil e Emater Rondônia.

Renata Silva (MTb 12361/MG)
Embrapa Rondônia

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