Organizar para crescer
Organizar para crescer
É crescente o número de prefeitos que procura a Embrapa com o desejo de que a empresa instale uma unidade de pesquisa agrícola em seu município para alavancar o desenvolvimento agrícola local. O gesto, legítimo, é bastante revelador. De um lado, mostra que o Brasil sabe que o desenvolvimento, para ser sustentado, depende de conhecimentos. De outro, revela que os prefeitos imaginam que lhes faltem conhecimentos e tecnologias.
Não faltam informação e tecnologias para uma agricultura bem-sucedida no Brasil. Espalhados por todos os biomas e regiões, há 500 mil produtores usando a tecnologia tropical e realizando uma agricultura de altíssimas eficiência e produtividade, comparáveis às melhores do mundo. Por exemplo, eles conseguem que cada vaca produza em média 25 litros de leite por dia e que cada hectare de terra renda 12 toneladas de milho.
No entanto, a média nacional de produtividade, na pecuária leiteira, não chega a 5 litros de leite por vaca e, no milho, oscila entre 4 e 5 toneladas por hectare. Isto significa que há milhares de produtores que não conseguem usar a tecnologia hoje disponível sequer para alcançar essas médias.
Não culpem os produtores. Eles conhecem o seu negócio. Sabem que adotar novas tecnologias e aumentar a produção não é simples: envolve custos e muitos riscos. Primeiro, é preciso organizar a propriedade para a produção com novas práticas. E isto, pelos custos e novos conhecimentos envolvidos, requer assistência técnica contínua e frequente, que o produtor normalmente não tem.
Sabem também que pouco adianta organizar as propriedades se o entorno delas não estiver organizado para facilitar a produção e sua distribuição. O entorno são os negócios que existem antes e depois da produção para viabilizar o trânsito dos conhecimentos, o acesso do produtor a insumos, máquinas, equipamentos e serviços, e para absorver a produção ampliada, remunerando o esforço de inovação dos produtores.
Se o entorno não está organizado para ajudar a inovação, ele facilita o florescimento das "imperfeições de mercado": isto é, o mercado pratica preços diferentes para o grande e para o pequeno produtor. É uma realidade normalmente associada à escala de produção e ao tamanho dos riscos envolvidos.
É mais fácil, mais seguro e mais barato para o comerciante entregar 200 sacos de adubo em uma única fazenda do que distribuí-los em dez fazendas. O mesmo é verdade na hora de comprar a safra. Então, por falta de escala, o pequeno produtor paga mais caro pelo insumo ou serviço que compra e recebe menos pelo produto que vende. Gasta mais, recebe menos. Isso simplesmente invalida qualquer tentativa de adotar tecnologias para aumentar a produção.
Por isso, o governo federal investe em melhorar a organização das fazendas e de seu entorno e reduzir as imperfeições do mercado. É esse o propósito de programas como o de pesquisa, zoneamento de riscos e seguro agrícolas, defesa agropecuária, crédito para pequena produção, mecanização agrícola, aquisição de alimentos e assistência técnica e extensão rural.
Mas o entorno mora nos municípios. As prefeituras podem fazer muito para organizá-lo de modo a aproveitar os investimentos federais e superar esses problemas. Equipes de assistência técnica, patrulhas mecanizadas, centrais de compras de insumos e estímulos ao cooperativismo são algumas das iniciativas de grande sucesso em muitos municípios do Sul e do Sudeste. Não por acaso são esses municípios que melhor aproveitam os recursos do crédito rural e de outros programas federais.
Com a Anater, o governo federal vai investir uma soma considerável em disseminação de conhecimentos e tecnologias. Então, o investimento mais urgente das prefeituras é numa boa equipe de assistência técnica, residente no município. Ela vai ajudar a desenhar os projetos para captar recursos, a definir as políticas públicas necessárias e as estratégias de organização das fazendas para aumentar a produção. Maior produção vai atrair o comércio de insumos e máquinas, compradores de safra e tudo mais.
Os prefeitos sempre sonharam em atrair indústrias para desenvolver seus municípios. A agricultura é nossa "indústria" mais moderna e mais rentável. Qualquer ganho na produção agrícola induz crescimento no comércio e na indústria. Investir em agricultura é o caminho mais fácil para o desenvolvimento. E o retorno mais rápido: demora uma safra. Organizem a produção agrícola e as outras indústrias virão.
Maurício Antônio Lopes - Presidente da Embrapa
Brasilia
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/