Cultivo de mandacaru garante forragem para os rebanhos nos períodos mais críticos de seca
Cultivo de mandacaru garante forragem para os rebanhos nos períodos mais críticos de seca
Na seca, nos momentos mais graves da falta de água e de alimentos para os rebanhos, é inevitável ao pequeno agricultor do semiárido, de poucos recursos técnicos e financeiros, adentrar a caatinga em busca de uma das poucas plantas a se conservar verde: o mandacaru. A espécie, que tem folhas na forma de espinhos, é quase sempre a única fonte de comida disponível na vegetação nativa para os animais.
Por estas características de resistência às altas temperaturas e às chuvas irregulares da região, que o técnico Nilton de Brito Cavalcante, da Embrapa Semiárido, recomenda aos agricultores o cultivo dessa cactácea nas suas propriedades, a exemplo do que fazem com a palma, os capins ou o milho.
Há dez anos, ele avalia o plantio de mandacaru em uma área experimental do centro de pesquisa. Para ele, os resultados são "animadores", a começar pela produção.
Estratégia – No primeiro ano de plantio, com espaçamento de 1m x 1,5 m – o que equivale a mais de 6.660 plantas/ha, o agricultor consegue colher cerca de 30 t/ha com o corte dos brotos que nascem no período. Convertida para massa seca, que é a medida de referência para indicar o impacto sobre o ganho de peso dos animais, essa quantidade equivale a 5,1 toneladas/ha.
No décimo ano do plantio, a produção pode alcançar 285,17 ton/ha de massa verde e 48,47 ton/ha de matéria seca.
Trata-se de volume de alimento muito bom, que fica disponível para ser ofertado aos animais quando a seca alcança o seu pico de maior intensidade na região, revela Nilton de Brito.
Segundo ele, trata-se de planta "excelente" para o pecuarista formar uma reserva forrageira estratégica na sua propriedade. No semiárido, de maneira geral, este papel cabe a outra cactácea já muito difundida que é a palma.
Contudo, o mandacaru tem evidentes vantagens: possui maior teor de proteína, resiste melhor à falta de chuvas e o primeiro corte acontece no primeiro ano.
O plantio em áreas cercadas é uma alternativa de exploração e que aumenta a capacidade de suporte das propriedades. Além disso, é um modo de substituir o extrativismo da espécie durante a estiagem, por um aproveitamento mais sustentável da espécie.
O intenso corte que costuma acontecer nesses períodos tem levado à diminuição acentuada de pés de mandacarus na caatinga. Em alguns locais da região, a população de plantas diminuiu tanto que muitos agricultores precisam se deslocar mais de 50 km distantes da sua comunidade para encontrar a cactácea na vegetação nativa.
Manejo – Do tempo que realiza testes com a espécie em uma área de 4 ha da Embrapa Semiárido, Nilton chegou à conclusão que o plantio e manejo do mandacaru são simples. Fazer muda, por exemplo, é muito fácil: basta cortar um pedaço de 20 a 30 cm dos cladódios ou galhos, deixar secar durante dois a cinco dias na sombra e, então, pôr em uma cova com profundidade de 15 a 20 cm, adubada com esterco de caprinos ou bovinos.
O plantio pode ser feito antes das primeiras trovoadas no semiárido. Contudo, se acontecer durante o período de chuva, o cultivo deve ser em terreno bem drenado. Se houver encharcamento, é possível a morte de grande quantidade de mudas, alerta o técnico da Embrapa.
Durante o crescimento o agricultor vai precisar apenas roçar o local do plantio uma vez por ano.
Outra informação importante para garantir a sobrevivência do mandacaru é não cortar a planta no tronco principal. De acordo com as avaliações na área experimental, Nilton afirma que isto pode representar a morte da planta. Por outro lado, se são cortados apenas os galhos, a vida útil da planta aumenta e ela fica produtiva por muito mais tempo.
Para ele, não há dúvida que o mandacaru é uma alternativa forrageira interessante que os criadores do semiárido podem ter nas suas propriedades.
Marcelino Ribeiro (MTb/BA 1127)
Embrapa Semiárido
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