Pesquisadores da Embrapa Cerrados participam do Agroecol 2016
Pesquisadores da Embrapa Cerrados participam do Agroecol 2016
A experiência de agrofloresta sucessional no Cerrado e a produção agroecológica e orgânica do leite no Brasil foram temas de palestras, na sexta-feira, 18 de novembro, por pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina- DF), durante programação do Agroecol 2016, em Dourados (MS).
O Agroecol 2016, que encerra no sábado, 19 de novembro, é promovido pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA Agroecologia), Comissão Estadual de Produção Orgânica em MS (CPorg-MS), Sistema de Informações de Sistemas Agroflorestais (Sisaf) e Fórum Nacional de Educação no Campo (Fonec). A realização do evento é responsabilidade da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Embrapa Agropecuária Oeste e Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer).
O pesquisador Luciano Mattos apresentou a análise financeira e ambiental de agrofloresta sucessional conduzida no Sítio Semente, no Núcleo Rural do Lago Oeste (DF). A agrofloresta sucessional integra hortaliças, frutas, café e madeira, além de espécies arbustivas e arbóreas nativas, dentro de uma lógica que assemelha os desenhos de sistemas de produção aos processos de sucessão ecológica de ambientes naturais. O sistema tem potencial de geração de renda para a agricultura familiar e médios produtores rurais, além de provisão potencial de serviços ambientais.
As análises ambientais no Sítio Semente apontaram que o sistema gerou um solo mais fértil, em consequência da sua maior cobertura. A biomassa de solo se manifestou superior às pastagens. "Quando a pastagem é bem manejada, ela protege o solo. Por isso, usamos a pastagem como parâmetro. Esperava-se que a biomassa de solo neste sistema fosse equivalente à da pastagem, mas ela superou", afirma Mattos.
Há também o ganho ecológico-econômico. Com o solo mais fértil é possível reduzir a adubação da safra seguinte e, com isso, o produtor tem uma diminuição de custos. Mattos explica que mesmo que a produtividade diminua um pouco, pode haver vantagens compensadas pela redução do custo total.
Os estudos econômicos demonstraram que é possível ter um ganho de R$ 300 mil/hectare, em quatros anos. A taxa interna de retorno (entendida como a taxa percentual do retorno do capital investido) é de 64% e o pay back (tempo de retorno do capital investido) se atinge em três meses devido à colheita de hortaliças. "Ou seja, usa-se uma estratégia de curto prazo para cobrir os custos de implantação de um sistema perene, que geralmente traz expectativas de lucro no médio e longo prazos. É importante saber escolher as culturas que irão compor o sistema. A primeira alternativa são as hortaliças, mas se o produtor tem pouco capital para investimento pode optar por milho, feijão ou mandioca", comenta Mattos.
De acordo com o pesquisador, o sistema de agrofloresta sucessional está em crescimento no campo, mas ainda faltam dados técnicos para a ampliação das concessões de crédito rural. As dificuldades, segundo ele, são causadas pelo empirismo dos produtores que variam os desenhos agronômicos e pela escassez de estudos que gerem coeficientes técnicos.
Pelos estudos, o sistema é viável se o produtor adquirir crédito do Pronaf Agroecologia (taxa de juros de 2,5% a.a), Pronaf (taxa de juros de 5,5% a.a) e Plano ABC (taxa de juros de 8% a.a). "À medida que vai pagando mais juros, vai diminuindo o lucro, mas mesmo assim continua viável", garante Mattos.
Produção agroecológica e orgânica do leite
O pesquisador João Paulo Soares apresentou as diferenças entre produção de base ecológica e orgânica do leite, as estimativas de produção de leite orgânico no Brasil, o potencial de mercado, e as tecnologias que podem auxiliar os produtores a alcançarem a certificação para produto orgânico.
O Brasil está na décima terceira posição em produção agroecológica e no quinto em área cultivada com orgânicos. Embora em crescimento – calcula-se que o mercado cresça 25% ao ano -, a produção orgânica de leite no Brasil ainda é pequena. Até 2005 era de 0,01% e cresceu para 0,02% (6,8 milhões de litros) da produção total de leite convencional produzida no Brasil (28 bilhões de litros) no ano de 2012.
De acordo com Soares, existe ainda um confundimento mercadológico entre agroecologia e sistemas orgânicos de produção. Ele explica que agroecologia é uma ciência em construção que disponibiliza práticas e processos sustentáveis para sistemas de produção de base ecológica. Os produtos advindos de sistemas orgânicos de produção têm normatização oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e os demais produtos alternativos não.
No Brasil, todo o produto ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológico é denominado produto orgânico e têm seus processos de produção, industrialização, armazenamento, transporte e comercialização regidos pela Lei 10831 de orgânicos. Nesse sentido existe, portanto, produção de leite de base ecológica, onde todas as práticas e processos agroecológicos devem ser empregados, contudo não tem certificação como aqueles de produção orgânica.
Para que o leite seja considerado orgânico e receba a certificação do Mapa, o produtor só pode utilizar insumos alternativos (pó de rocha, fosfatos de rocha natural, cama de frango ou resíduos orgânicos) nas pastagens e culturas, além do uso de fitoterápicos e homeopáticos no controle sanitário animal. Também não é permitido o uso de defensivos químicos, medicamentos químicos, hormônios sintéticos e transgênicos.
Para a produção de base ecológica e orgânica, o produtor deve utilizar as boas práticas agrícolas em todas as atividades desenvolvidas na propriedade. Com uso dessas práticas, o leite apresenta melhor qualidade, principalmente menor índice de contaminação por coliformes fecais e resíduos provocados por infecções. Segundo Soares, algumas cooperativas pagam melhor preço pelo leite de produção de base ecológica, e pelo orgânico, até 70% a mais do que o praticado para o leite convencional.
Entre as tecnologias que o pesquisador irá abordar está a Unidade de Pesquisa Participativa em Produção Orgânica de leite (UPPO) implantada no parque da Agrobrasília (DF), com o sistema agrossilvipastoril orgânico. Para implantação do sistema são utilizadas diferentes tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, entre elas pastagens com leguminosas adaptadas para a região do Cerrado, como guandu (BRS Mandarim), além do capim elefante BRS Canará. A parte agrícola é composta de mandioca, frutas nativas do Cerrado e recentemente o maracujá BRS Pérola do Cerrado.
Liliane Castelões (MTb 16613/RJ)
Embrapa Cerrados
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