Governança da água em debate. Os desafios e dilemas para o campo dos Recursos Hídricos marcaram presença em Aracaju entre os dias 8 e 11 de novembro. A cidade recebeu pela primeira vez o Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste (SRHNE), que teve sua décima terceira edição e contou com quase 600 pesquisadores, professores, estudantes, gestores públicos e entidades da sociedade civil.

Com o tema "Governança da Água - Desafio para a Integração do Nordeste no Presente e Futuro", o evento foi organizado pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), juntamente com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Sergipe (Semarh), Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), Universidade Federal de Sergipe (UFS), dentre uma série de entidades do poder público.

O XIII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste recebeu 114 apresentações orais de resultados de estudos e trabalhos, divididas em 12 sessões técnicas, e seis "mesas redondas" que discutiram gestão participativa, a crise hídrica na região do Nordeste Setentrional, segurança hídrica na Bacia do São Francisco, meio ambiente e sustentabilidade na agricultura. Participaram das sessões 28 especialistas convidados de diversas regiões do país.

O evento também contou com atividades culturais no Museu da Gente Sergipana e no Centro de Cultura e Arte J. Inácio, com lançamento de livros, apresentação de grupos tradicionais da cultura popular sergipana e shows musicais, além de atividades de educação ambiental com escolas públicas e privadas no Oceanário de Aracaju.

Os pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros Marcus Cruz e Júlio Amorim participaram da Comissão Organizadora e Técnico-Científica do XIII Simpósio. Marcus coordenou a sessão técnica com o tema "Hidrologia e Hidrogeologia", além de expor trabalho sobre aplicação do modelo LAWS para avaliação da eficiência de irrigação no Distrito de Irrigação do Platô de Neópolis, em Sergipe. Júlio Amorim participou da oficina "Marcos Regulatórios em Sistemas Hídricos no Semiárido Brasileiro". Os pesquisadores Jorge Werneck e Lineu Neiva, da Embrapa Cerrados, participaram da Mesa Redonda nº6, com o tema "Água e Sustentabilidade na Agricultura".

Impressões
"É preciso trazer e construir conhecimento para que possamos fazer o bom uso da água, além da integração para evitar conflitos e possibilitar o desenvolvimento local, tanto do espaço rural quanto das cidades, para que tenhamos alimentos de boa qualidade e sem maiores prejuízos", ressaltou Werneck.

Para Ailton Francisco da Rocha, superintendente de Recursos Hídricos da Semarh e presidente da Comissão Organizadora do XIII Simpósio, o saldo do evento foi bastante positivo no tocante às experiências de gestão hídrica para o Nordeste e o Brasil. "Tivemos participantes de 20 Estados do país discutindo, propondo e avaliando soluções e alternativas para a segurança hídrica para o país. Estamos muito satisfeitos com a participação e o rendimento do evento", frisou Ailton.

Arthur Lira e Altair de Barros são engenheiros ambiental e civil, respectivamente, e analistas da Secretaria do estado do meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh). Eles se impressionaram com a diversidade de vozes e contribuições de setores da sociedade civil, sobretudo na formação de políticas públicas que promovam gestão participativa. "Os debates foram muito importantes para o fortalecimento do nosso trabalho, lidar com a complexidade de interesses em relação às bacias hidrográficas não é nada fácil", argumentou Arthur. "Os Comitês de Bacia são instrumentos de suma importância no nosso trabalho. A troca de experiência entre os Comitês presentes no Nordeste e em outras regiões do país nos trouxe muitas expectativas", completou Altair.

Os participantes do simpósio também contaram com uma palestra especial ministrada pelo hidrólogo Diego Berger, sobre a gestão da água no Estado de Israel. Diego é diretor da Mekorot, empresa de abastecimento de água em Israel com 77 anos de atuação e uma das 10 maiores empresas de água do mundo, referência internacional em sistema de aquedutos, cuja diminuição de perdas hídricas está abaixo do estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).  "A palestra do Diego foi fundamental. A experiência da Merkorot serve de inspiração para todos os participantes do evento, e ficamos muito satisfeitos com sua palestra", reforçou o presidente da Comissão Organizadora.

A professora Nélia Henrique Callado, do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ressaltou a necessidade de implementação das propostas e ações previstas na legislação que versa o setor de recursos hídricos. "Temos uma Lei de Recursos Hídricos que não é integralmente aplicada, temos os Planos de Saneamento Básico, temos as ações de revitalização da Bacia do São Francisco, dentre uma gama de ações e políticas públicas que devemos garantir para uma boa governança das águas, e espaços como este contribuem para pressionar as instituições a darem celeridade a estas políticas", ressaltou Nélia.  

O evento contou com a "Sessão Painel", que apresentou 176 banners de trabalhos científicos produzidos em diversos Estados e instituições espalhadas pelo Nordeste. Ao todo foram 290 trabalhos apresentados, dentre exposições de banner e apresentações orais nas sessões técnicas. O simpósio também recebeu quatro oficinas paralelas à programação oficial e a reunião ordinária do Comitê da Bahia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), órgão que completa 15 anos de funcionamento em 2016.

No encerramento do simpósio foi conferida uma homenagem ao ex-governador do Estado de Sergipe, Albano Franco, gestor responsável pela implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos, criando assim o Sistema Estadual de Gerenciamento em Recursos Hídricos em Sergipe.

Colaboração: Henrique Maynart - Estagiário em Jornalismo