03/04/13 |   Agricultura familiar  Transferência de Tecnologia

Experiência piloto no nordeste paraense alia ensino, pesquisa e extensão na agricultura familiar

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"Eu vejo um leque de oportunidades com esse curso... Com ele a gente pode desenvolver a agricultura sustentável na nossa família, na nossa comunidade, pode fortalecer a agricultura no nosso País, e também compreender o ciclo de natureza, para preservar e acima de tudo produzir". Com essas palavras o agricultor e recém-formado técnico agrícola, Waldeci Trindade da Silva, 24 anos, resumiu a importância da formação técnica em agropecuária promovida pela Embrapa Amazônia Oriental, Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Inovação (IFPA), e Biopalma Vale, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

As duas primeiras turmas, formadas exclusivamente por filhos de agricultores familiares da mesorregião Nordeste Paraense, foram diplomadas na última semana de março, no município de Tomé-Açu (PA). 

O professor Aldrin Mário Benjamim, coordenador do Pólo Tomé-Açu do IFPA Campus Castanhal, explica que a ideia do curso surgiu a partir da necessidade de fortalecer o ensino técnico público do meio rural, aliando o trabalho no campo à pesquisa e tecnologia, com foco na agricultura familiar da região, tradicionalmente voltada à fruticultura. As condições fundamentais para concorrer a uma das 80 vagas era ter o ensino médio completo e ser filho de agricultor familiar. Quase 550 jovens e adultos dos municípios de Igarapé-mirim, Abaetetuba, Moju, Acará, São Domingos do Capim, Concórdia do Pará e Tomé-Açu se inscreveram no processo seletivo e somente 80 foram selecionados para compor duas turmas.

Os alunos ficaram durante um ano e meio no alojamento do campo experimental da Embrapa Amazônia Oriental em Tomé-Açu em regime de alternância: 15 dias em aulas na base física da instituição e 15 dias em atividades práticas nos lotes das famílias e das comunidades. A formação foi baseada nos princípios do trabalho e da pesquisa, com aulas ministradas por professores do IFPA e pesquisadores da Embrapa.

A agricultora Edvânia Souza de Souza, 37 anos, mãe de família, abdicou da convivência dos filhos, deixou seu lote com os irmãos durante todos os períodos que esteve alojada no campo experimental e diz que não vai parar por aí "quero mais conhecimento, melhorar cada vez mais meu lote, minha comunidade e passar o conhecimento adiante". Ela conta que já produz a roça sem fogo e está implantando a pimenta do reino sem fusariose no lote. "Já plantamos o nim para combater a doença na pimenta", explica. No lote da família do Waldeci os sistemas agroflorestais e o plantio de frutíferas ganharam um aliado: a BRS Carimbó, cultivar de cupuaçu desenvolvida pela Embrapa.

O curso durou um ano e meio, mas as lições permanecerão. "São agricultores, pessoas que trazem na sua bagagem uma experiência de vida enorme, experiência de trabalho, que associado ao conhecimento técnico e à pesquisa aplicada fizeram dessa experiência algo transformador", conta emocionado o professor Aldrin.

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amazônia Oriental, Michell Costa, ressaltou o caráter inovador da experiência que passa a ser piloto dentro do sistema Embrapa. "O mais importante pra gente é a possibilidade de multiplicar conhecimentos e promover a produção sustentável no campo, especialmente no fortalecimento da agricultura familiar. Nós, da Embrapa, só temos a agradecer aos professores e alunos por nos darem oportunidade de trocar essas experiências", conclui.

Para o diretor-geral do IFPA Campus Castanhal, Ednaldo Feitosa, o grande desafio do ensino público de qualidade é ir além das ferramentas e técnicas. "A liga da pesquisa, ensino e extensão, culmina com a formação cidadã, com o empoderamento dos jovens e adultos do campo, seja em termos de tecnologia, seja em educação. A transformação da sociedade só se passa pela formação cidadã", ressalta o diretor. Ele anuncia ainda que a Embrapa e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica estão fortalecendo a cooperação técnica para que a experiência do nordeste paraense seja replicada em todo o Brasil.

Já o recém-formado Waldeci Trindade da Silva encerrou seu discurso como orador da turma dizendo que o curso foi uma grande oportunidade de compartilhar conhecimentos e experiências, de pensar e trabalhar pela coletividade.

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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