Reeducando de Hortolândia envia carta pedindo acesso a tecnologias de apicultura
30/11/16
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Agricultura familiar
Reeducando de Hortolândia envia carta pedindo acesso a tecnologias de apicultura
Foto: Ana Maio
Abelha flagrada no Pantanal brasileiro: matéria sobre atividade fascinou o reeducando
Quando as equipes de comunicação da Embrapa se esforçam para divulgar as tecnologias desenvolvidas pelos pesquisadores elas não imaginam quais públicos podem estar, de fato, atingindo e sensibilizando. Um exemplo inusitado aconteceu entre o final de setembro e início de outubro na penitenciária 2 do Complexo Campinas-Hortolândia, no interior de São Paulo. Um reeducando daquele presídio leu uma matéria publicada na revista Globo Rural sobre a apicultura no Pantanal e decidiu escrever uma carta endereçada "ao senhor (a) pesquisador do setor apícola" da Embrapa Pantanal.
Postada em 5 de outubro de 2016, a carta escrita por Márcio Marcelino Leite começa com a descrição de sua confiança em Deus, prossegue com elogios à Embrapa e termina com um pedido: ele gostaria de receber material impresso sobre as tecnologias estudadas pela Embrapa na apicultura. A previsão é que ele deixe a prisão em meados de dezembro.
"Sabedor de que a Embrapa Pantanal tem se destacado no cenário nacional e internacional institucionalmente em sua área de atuação, em pesquisa/suporte técnico e orientação ao agronegócio, eu, respeitosamente e com humildade, peço a Vossa Senhoria, por favor, se possível, me enviem por correio alguma matéria, revistas, publicações ou catálogo pertinente à "apicultura comercial" na propriedade rural", escreveu.
A carta foi entregue ainda em outubro ao pesquisador Vanderlei Doniseti Acassio dos Reis, que atua com apicultura no Pantanal. Foi a primeira carta manuscrita de SAC (Serviço de Atendimento ao Cidadão) recebida por ele em 14 anos de trabalho na Embrapa. "No primeiro momento fiquei surpreso e achei que poderia se tratar de algum conhecido meu, já que estudei e morei naquela região. Não imaginava que seria uma demanda de SAC", afirmou.
A segunda surpresa surgiu com a leitura. Escrita em papel almaço, com alternância de canetas azul e vermelha e com letras arredondadas, a carta tem um conteúdo muito bem formulado. "Está muito bem escrita. Ele começa contando que encontrou Deus, fala de sua conversão e eu acredito que as pessoas erram, mas que podem mudar", afirmou.
O pesquisador estava aguardando o retorno de Márcio à entrevista feita pela Unidade e agora está finalizando a resposta ao reeducando. Disse que estará à disposição para recebê-lo, caso visite a Embrapa Pantanal – vontade que relata na entrevista abaixo. De acordo com Vanderlei, a apicultura é recomendável para pessoas na situação de Márcio Leite pelo alto potencial de terapia ocupacional. "Ela ocupa a cabeça, as pessoas esquecem os problemas, desligam. É uma atividade encantadora", falou.
Apesar das vantagens, o pesquisador alerta para as dificuldades que também envolvem a obtenção de produtos apícolas. "O primeiro passo é acompanhar quem já produz e participar de capacitação presencial. Temos um protocolo em que oriento os interessados a trabalhar com segurança, usando EPIs (equipamentos de proteção individual), fazer a capacitação e se preparar para o negócio. O ideal é procurar alguma associação ou apicultor na região onde está." Márcio Leite informa, na carta, que já possui uma propriedade rural onde pretende desenvolver a apicultura.
Vanderlei diz ainda que, como qualquer atividade agropecuária, a apicultura está sujeita ao imponderável. "Como outras atividades econômicas, tem custos, exige investimentos e o retorno pode demorar um pouco." De acordo com ele, não há garantias de produção todos os anos porque a colheita é incerta. Em uma das fazendas acompanhadas na região do Pantanal, por exemplo, será realizada uma colheita nos próximos dias, a primeira desde 2013.
O pesquisador comentou ainda que a maioria de suas demandas de SAC costuma vir de fora de Corumbá (MS), onde fica a Embrapa Pantanal, e até de outros Estados. Apenas neste ano, já foram registrados pelo sistema oito atendimentos prestados por ele (a carta ainda não foi incluída).
Veja, abaixo, a entrevista concedida pelo reeducando Márcio Leite ao NCO (Núcleo de Comunicação Organizacional) da Embrapa Pantanal em 25 de novembro de 2016, após autorização da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo e do próprio autor da carta.
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Embrapa Pantanal: De onde veio a ideia de entrar em contato com a Embrapa Pantanal e pedir apoio para virar apicultor após deixar o presídio?
Márcio Marcelino Leite: Obtive a ideia de entrar em contato com a Embrapa Pantanal após ler uma matéria publicada na revista Globo Rural, a qual me despertou interesse por ser a apicultura uma atividade rentável. E por gerar diferentes produtos saudáveis e de valor agregado, tais como geleia real, própolis, pólen e cera apícola.
Tendo em vista que são produtos com grande apelo comercial, dada a importância que têm para a saúde do ser humano, além de outros usos nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos, ou até no polimento de pedras ornamentais, com aplicação de cera apícola!
Embrapa Pantanal: Além da revista Globo Rural citada na carta, leu mais alguma reportagem sobre a Embrapa ou viu algo na TV?
Márcio: Além de eu saber da existência da Embrapa Pantanal, através da Revista Globo Rural, também eu conheci que a Embrapa é uma renomada instituição de fomento tecnológico ao agronegócio nacional e internacional, por meio do glorioso programa de televisão da Rede Globo apresentado aos domingos de manhã intitulado "Globo Rural". E também reportagem publicada na Revista Veja, a qual dava destaque da significativa importância do suporte técnico oferecido pela Embrapa em favor da agricultura/agronegócio nacional, atuando como "provedora de tecnologia agrícola" para vários países, em especial os países do continente africano.
Todavia, sendo eu um filho da nação brasileira, eu me orgulho em saber que nosso país não é mais um simples ator coadjuvante no cenário internacional, mas um protagonista distinto e requisitado, considerado o celeiro do mundo, representado através da excelsa provedora de agrotecnologia nacional, chamada Embrapa.
Embrapa Pantanal: O que espera da Embrapa Pantanal?
Márcio: Eu sou uma pessoa dedicada à leitura, sendo assim resolvi unir o útil ao agradável. Agradável é para mim ler para estar informado e ativado intelectualmente. E útil é para mim se autoprojetar para os dias futuros em alguma atividade e empreendimento de negócio próprio, considerando que a apicultura é um negócio de baixo risco, e o custo para implantação é pequeno e o retorno é rápido quando comparado com outros sistemas produtivos do meio rural. Sendo assim, eu "espero" da Embrapa Pantanal que, se for possível, me enviem para mim: publicações, material impresso autoexplicativo e vídeo curso/DVD.
E quando eu sair egresso deste cárcere, pretendo ir visitar as dependências institucionais da Embrapa Pantanal/MS pessoalmente para finalidade de obtenção de informação, instrução e suporte técnico. Visando-se me tornar parceiro desta instituição no sentido de me tornar uma "célula local" na região metropolitana de Campinas/SP, provedora do fomento da atividade apícola regional formando cooperativas apícolas no âmbito da agricultura familiar regional, onde cujo público alvo preliminar será também os egressos do sistema prisional desta região.
E assim me sentirei lisonjeado por uma justa ação pessoal, em face da minha própria consciência pessoal, cumprindo-se, assim, minha parcela da contribuição e responsabilidade social.
Embrapa Pantanal: Durante o tempo em que ficou preso, teve algum contato com tecnologias agrícolas?
Márcio: Informo à Vossa Senhoria que durante todo o período de reclusão no estabelecimento prisional a única forma de acesso à instrução técnico-agropecuária foi somente através da mídia impressa publicada na revista Globo Rural, Revista Veja.
Embrapa Pantanal: Qual a imagem que você tem da Embrapa Pantanal e como ela se formou?
Márcio: A Embrapa é para mim uma das instituições de grande importância e relevância para a agricultura nacional, progenitora do excelso status do celeiro do mundo do gênero agrícola, o qual nosso País ostenta, fazendo-se merecedora do título de renomada instituição deste País, dentro outras do gênero no Brasil.
A qual dia após dia agrega progressivo desenvolvimento e notório sucesso ao agronegócio brasileiro e à agricultura internacional. Esta opinião pessoal se formou em mim após vislumbrar as excelentes matérias publicadas na revista Globo Rural, através de doutos pesquisadores da Embrapa dos estados da federação.
Embrapa Pantanal: Outros reeducandos com quem teve contato também pensam em trabalhar com atividades agrícolas quando saírem?
Márcio: Eu me surpreendi e até me emocionei ao ver que os demais reeducandos que convivem comigo se interessar pela apicultura. Ao interpretarem que esta iniciativa da Embrapa Pantanal [resposta incompleta por falha na digitalização].
Embrapa Pantanal: Quanto tempo ficou detido? O tempo todo pensou em ser apicultor ou essa vontade surgiu recentemente?
Márcio: Eu me encontro recluso desde a data de: 16/03/2015, a exatos 1 um ano e 8 oito meses, e 8 oito dias [resposta escrita em 25/11/2016]. Durante este período decorrido, após o 2º semestre do ano de 2015, no início do ano de 2016 eu comecei idealizar empreendimentos de negócio próprio, com perfil de baixo risco e rentabilidade atraente, e custo de implantação baixo. Dentre outras e variadas opções, a apicultura foi a alternativa escolhida por mim devido à matéria que eu pesquisei ter o respaldo e embasamento tecnológico da Embrapa Pantanal/MS.
Mesmo tendo interesse no período anterior à prisão, o interesse pleno pela apicultura renasceu no período mais atual, ocasião em que um dia, ao ler a matéria sobre Apis mellifera (abelha africanizada) Xylocopa ssp. (mamangavas) e Meliponíneos (abelhas sem ferrão) me fascinou! E o que me fascinou causou expressiva repercussão neste cárcere, o que me outorgou o título de promotor de ‘Boas Ideias"! 2016.
Ana Maio (Mtb: 21.928)
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