21/07/14 |   Biotecnologia e biossegurança

Patente de feromônio vai acelerar pesquisas de controle biológico no Brasil

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Foto: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra -

Uma patente concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) à Embrapa vai auxiliar os produtores de soja brasileiros no controle das piores pragas dessa cultura no País: os percevejos. A patente permite o uso do princípio ativo do metil 2,6,10 trimetiltridecanoato, feromônio responsável pela atração de várias espécies de percevejos do complexo da soja, incluindo o percevejo-marrom da soja, o Euschistus heros.

O mercado de inseticidas para a cultura da soja no País gira em torno de US$ 112,70 milhões. Atualmente, são utilizados mais de 4,5 milhões de litros de inseticidas químicos por safra para o controle de percevejos-praga, ao custo aproximado de R$ 20,00 por hectare. Por isso, investir em tecnologias de controle biológico de pragas da soja é uma prioridade para o Brasil hoje, como explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Miguel Borges.

A patente, intitulada "Composição de atração, armadilhamento e/ou extermínio do percevejo da soja Piezodorus guildinii", é resultado de mais de 15 anos de pesquisas desenvolvidas pelas equipes da Embrapa e de instituições parceiras. Ela tem foco na utilização de semioquímicos para controle biológico do complexo de percevejos que atuam como pragas nas lavouras de soja no Brasil. Semioquímicos são substâncias químicas utilizadas na comunicação entre os seres vivos na natureza. Quando ocorrem dentro da mesma espécie são chamadas de feromônios.

A patente é um ativo mensurável e, por isso, estimula a realização de investimentos em pesquisa, o que deve ocorrer agora, com a concessão do Inpi. Os contratos de transferência de tecnologia que envolvem direito de propriedade e patente garantem às empresas envolvidas mais segurança na cooperação, ao mesmo tempo em que resultam em agregação de valor aos produtos ou serviços gerados.

O Brasil é o segundo maior produtor e exportador mundial de soja, participando com 23,8% da produção mundial e 19 % do total exportado. A produção nacional é de cerca de 68 milhões de toneladas, envolvendo 16 estados e área superior a 23 milhões de hectares.

Os feromônios são utilizados pelos insetos para vários fins, como alimentação, demarcação de território, presença de predadores, reprodução, entre outros. Mas, independente do uso, o fato é que os percevejos utilizam esses sinais químicos para se comunicarem, o que despertou a atenção do pesquisador Miguel Borges e sua equipe na década de 1990. Observando o comportamento dos insetos na natureza, Borges decidiu usar os feromônios para monitorar e reduzir as populações de percevejos nas lavouras de soja no Brasil. Começou, então, a criá-los em laboratório para reproduzir as condições existentes na natureza e extrair o feromônio.

O percevejomarrom (Euschistus heros), o percevejo-pequeno-verde-da-soja (Piezodorus guildinii) e o percevejo-verde (Nezara viridula)  constituem o complexo de pragas de maior risco para a cultura da soja no Brasil, causando danos desde a fase de formação das vagens até o final do desenvolvimento das sementes. Quando se alimentam, os percevejos atingem diretamente os grãos em formação e, por isso, representam um perigo na reta final do cultivo, quando se definem o rendimento e a qualidade da semente.

Os feromônios isolados em laboratório são colocados em armadilhas que, por sua vez, são distribuídas pelas lavouras em várias regiões produtoras de soja no Brasil com o objetivo de monitorar e controlar as populações dos percevejos-praga e, consequentemente, reduzir os danos às plantações.

Experimentos em campo com esse feromônio resultaram na captura de fêmeas de Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Edessa meditabunda (conhecido popularmente como percevejo-asa-preta-da-soja). Apesar do feromônio não ser produzido por todas essas espécies, pode ocorrer atração cruzada. Explica o pesquisador Miguel Borges: "uma espécie utiliza o feromônio da outra porque sabe que encontrará sítio de oviposição e alimentação".

Os estudos com feromônios estão sendo estendidos a diversas culturas agrícolas. As unidades da Embrapa pesquisam, por exemplo, controle da broca-do-cupuaçu (Embrapa Amazônia Ocidental) e o monitoramento do percevejo-do-colmo-do-arroz (Embrapa Arroz e Feijão).

Miguel Borges explica que os semioquímicos ocupam hoje cerca de 30% do mercado de biopesticidas no mundo, perdendo apenas para os inseticidas bacterianos e os botânicos.  No Brasil, o mercado de semioquímicos está em franca expansão, com mais de 15 produtos registrados e outros em fase de registro.

Existe grande interesse de empresas privadas na tecnologia de controle e monitoramento de pragas a partir da tecnologia à base de feromônio desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. "A concessão desta patente vai facilitar e agilizar a sua transferência ao setor produtivo, já que representa uma segurança para o investidor e para a Empresa, como inventora", destaca Borges.

A transferência das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa ao setor produtivo é uma forma de  fazer com que cheguem mais rápido aos consumidores. O que no caso do controle biológico é ainda mais premente, pois representa saúde e nutrição na mesa da população. "Ou seja, quem lucra é o País e a sociedade brasileira, pois a criação de inovações que resultam em produtos que beneficiam a sociedade brasileira ajudam a trazer o progresso para o Brasil. Além disso, a comercialização de patentes gera recursos para futuras pesquisas", explica o pesquisador.

Parceria firmada em 2011 entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a empresa ISCA Tecnologias, de Ijuí (RS), levou ao desenvolvimento de vários  tipos de armadilhas produzidas a partir de feromônios para monitorar os percevejos nas lavouras de soja, que estão sendo testadas no campo.

A ISCA possui um grupo de pesquisa e desenvolvimento com capacidade de síntese, produção e formulação de feromônios, prototipação de armadilhas e desenvolvimento de metodologias de manejo integrado de pragas. O objetivo final da parceria é disponibilizar ao setor produtivo da soja metodologias de monitoramento dos percevejos da soja utilizando armadilhas iscadas com feromônios que auxiliem os produtores a adotarem técnicas de manejo que aumentem a eficiência do controle.

Armadilhas com feromônios

Em 2012, as armadilhas desenvolvidas em conjunto entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a ISCA Tecnologias foram testadas em campo pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso – Fundação MT em Rondonópolis (MT). Os experimentos mostraram que a utilização de armadilhas à base de feromônios sexuais em lavouras de soja é uma boa estratégia para monitorar e controlar as populações de percevejos que atacam essa cultura, especialmente o percevejo-marrom.

A iniciativa foi resultado do projeto "Rede Nacional de Ecologia Química (Repensa)", liderado pela Embrapa e reuniu instituições brasileiras e internacionais com o objetivo de estudar a comunicação química entre seres vivos (insetos, plantas e animais pecuários) e utilizar esses conhecimentos em prol do controle biológico de pragas agrícolas.

As armadilhas foram testadas pela Fundação Mato Grosso na Fazenda Guarita na localidade de Rondonópolis (MT) com bons resultados. Segundo a pesquisadora da Fundação, Lúcia Vivan, os testes de campo foram conduzidos em duas áreas de 25 hectares cada, sendo uma com as armadilhas à base de feromônios (oito armadilhas com distância de 200 metros entre elas) e a outra com a metodologia de amostragem chamada de "pano de batida".

O monitoramento realizado com as armadilhas de feromônios detectou população de percevejo-marrom mais precoce e em maior número do que as amostragens realizadas com "pano de batida". Isso é um bom resultado para o monitoramento e controle dessa praga, explicou Vivan. "Quanto antes detectarmos as populações de percevejos, mais cedo podemos iniciar o controle".

Os resultados obtidos pelos testes de campo mostraram que o controle mais precoce propiciado pela utilização de feromônios impacta diretamente a produtividade nas lavouras de soja, já que o percevejo-marrom é uma das piores pragas dessa cultura no Brasil. O inseto se alimenta diretamente nos grãos, causando sérios prejuízos no rendimento e na qualidade das sementes, como baixo vigor e menor teor de óleo.

Segundo a pesquisadora, a área com as armadilhas apresentou maior produtividade e menor quantidade de sementes danificadas. Em 2013, novos testes foram realizados em outras áreas no estado do Mato Grosso, comprovando o bom potencial da tecnologia.

As armadilhas desenvolvidas a partir de feromônios facilitam o monitoramento dos percevejos nas lavouras de soja, pois as capturas são especificas à praga-alvo, exigindo somente que o produtor conte o número de insetos. "O que se espera no futuro é que o produtor espalhe as armadilhas na área cultivada e faça inspeções semanais em busca de percevejos. Sempre que o número de insetos alcançar uma quantidade predeterminada, a aplicação de inseticida será recomendada, de forma a aumentar a efetividade do controle e, o mais importante, diminuir o número de aplicações de pesticidas, o que protege o bolso do agricultor e o meio ambiente", afirma o pesquisador Miguel Borges.

Segundo ele, a Embrapa e a ISCA Tecnologias vão investir em novos testes de campo na próxima safra da soja, visando não apenas ao monitoramento, como também ao controle da população de percevejos com a utilização de feromônios nas diferentes regiões produtoras. "O processo consistirá em concentrar a população de percevejos em uma determinada área, denominada "área ou cultura armadilha", na qual serão aplicadas medidas de controle", finaliza Borges.

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