01/11/13 |   Produção vegetal

O ataque da lagarta

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Foto: Paulo Vitale/Andef

Paulo Vitale/Andef - Helicoverpa armigera

Helicoverpa armigera

Desde a última safra, a lagarta Helicoverpa armigera tem sido a grande vilã de muitas lavouras de importância econômica para o País. Sem discriminação e insaciável, a praga ataca com severidade culturas como soja, feijão, milho, algodão e hortaliças, já sendo confirmada nos cultivos de solanáceas como tomate e pimentão. Estima-se que, desde sua entrada no território nacional, provavelmente pelas áreas de algodoeiro no oeste da Bahia, os prejuízos causados aos agricultores ultrapassam R$ 10 bilhões.

Atualmente, a lagarta já foi detectada em todas as regiões do Brasil e dissemina-se rapidamente devido a facilidade de migração das mariposas (fase adulta), que apresentam movimento de longo alcance e podem chegar a mil quilômetros de distância. Práticas de cultivo inapropriadas, como grandes extensões de monocultura, e o uso indiscriminado de agrotóxicos contribuem para o rápido avanço da praga. Assim, para conter a expansão nas áreas produtoras e minimizar os danos ocasionados pela lagarta, a Embrapa mobiliza esforços de pesquisadores, técnicos e parceiros em uma força-tarefa que tem a missão de mapear e gerar tecnologias para o controle da praga no campo.

Polifagia é o termo utilizado para designar fome excessiva e insaciável. Essa é a palavra mais adequada para caracterizar a lagarta Helicoverpa armigera, que desde a última safra, quando foi registrada sua presença no Brasil, vem devorando lavouras de mais de 100 espécies, entre elas: milho, algodão, soja, leguminosas, tomate, citros, ornamentais e pimentão. Como ela não faz distinção de alimento, mesmo com a rotação de culturas, a praga quarentenária consegue sobreviver e mais: tem sua disseminação facilitada pela alta fecundidade (a fêmea pode colocar até 1500 ovos) e pela capacidade de migração da mariposa que possui movimento de longo alcance (até 1000 quilômetros de distância).

Outro fator propício para a expansão da lagarta nas lavouras brasileiras é a falta de conhecimento do agricultor que, muitas vezes, não consegue fazer a identificação correta da praga no campo, já que atualmente duas espécies do gênero Helicoverpa atacam cultivos País afora. A Helicoverpa zea, também designada por lagarta-da-espiga-do-milho ou broca-grande-do-tomate, é uma praga detectada há algum tempo que já sob controle. Como ela se assemelha à Helicoverpa armigera, recém-introduzida no Brasil, o produtor encontra dificuldade para distinguir os insetos.

O adulto do gênero Helicoverpa é uma mariposa com comportamento noturno, de coloração amarelo-amarronzada e com pequenas pontuações nas asas. A lagarta das duas espécies são bastante parecidas, com tamanho de até 1,5 centímetros e coloração que varia entre o verde e o rosado, de acordo com a alimentação. Contudo, há uma característica peculiar da Helicoverpa armigera em relação à Helicoverpa zea: a presença de pequenas pontuações salientes que possuem, em seu centro, a saída de um pequeno pelo escuro.

De acordo com o entomologista Miguel Michereff Filho, da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF), outros fatores também contribuíram para a maior ocorrência da praga. "Uma pequena alteração climática, com períodos de veranicos e secas, e o uso intensivo de determinadas culturas em grandes áreas são situações favoráveis. Há ainda o uso abusivo de agrotóxicos que, certamente, levaram a eliminação de alguns inimigos naturais que condicionavam essa praga a uma população menos preocupante", observa o pesquisador.

A partir da análise, pode-se notar que o sistema agrícola tornou-se desequilibrado e, por isso, suscetível aos insetos-praga em virtude da disponibilidade de alimentos, locais de reprodução e abrigo durante quase todo o ano. Com isso, a praga atinge níveis populacionais acima da capacidade de atuação dos defensivos, o que compromete a eficiência de controle.

Uma vez instalada em todas as regiões do País, a lagarta Helicoverpa armigera torna-se uma grande preocupação não somente por se alimentar de brotos, frutos e vagens, justamente as partes da planta que são comercializadas, causando grande prejuízo para os agricultores, como também por incidir em lavouras de destacada importância econômica para o País. Por isso, a Embrapa reuniu esforços de diversos pesquisadores e parceiros para produzir o documento "Ações emergenciais propostas pela Embrapa para o manejo integrado de Helicoverpa spp. em áreas agrícolas", que discorre sobre o estabelecimento de um consórcio para o manejo da praga, o planejamento da área de cultivo, o monitoramento contínuo de pragas, a utilização do controle biológico e o registro emergencial de inseticidas químicos e bioinseticidas.

A literatura científica já registrou que, na Espanha, a Helicoverpa armigera está entre as pragas mais nocivas para o cultivo de tomate para processamento industrial, por isso, cientes da relevância da cultura para a região do Cerrado brasileiro e do fato de hortaliças serem alimentos, por vezes, consumidos in natura, faz-se importante considerar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), no qual está contido o controle biológico, bem como prevê o documento da Embrapa.

"Propomos o MIP, ou seja, a utilização de dois ou mais métodos que visam à efetividade do controle da lagarta. A primeira prática deve ser a correta identificação da praga no campo, baseado no monitoramento da lavoura. Segundo, há a possibilidade do controle biológico, com bioinseticidas à base de bactérias ou vírus que eliminam lagartas, ou ainda a utilização da vespa Trichogramma pretiosum, que parasita os ovos da mariposa", enumera o pesquisador Michereff, para quem o controle químico deve ser realizado de maneira racional a partir de produtos seletivos, que não prejudicam a ocorrência de inimigos naturais nas áreas agrícolas.

Vale lembrar que para se utilizar determinado produto químico, é preciso que haja registro de liberação para uso em certa cultura e, neste caso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), órgão responsável por declarar estado de emergência fitossanitária nas regiões agrícolas, deve atuar em prol da extensão de uso de produtos ou, então, da importação de agrotóxicos específicos para a praga.

Além dos métodos de controle relacionados acima, os tratos culturais como época do plantio e isolamento da cultura são boas práticas agrícolas que contribuem para o sucesso no combate à praga, bem como o respeito ao vazio sanitário, medida que prevê a ausência de plantas vivas nas plantações por um dado período de tempo. A destruição de restos culturais, o uso de materiais genéticos resistentes e a utilização de armadilhas iscadas com feromônio sexual também são opções para o melhor controle da Helicoverpa armigera.

Diante de uma praga muito nociva, a parceria em novas pesquisas científicas tem sido o caminho trilhado pela Embrapa, universidades, empresas privadas e órgãos de assistência técnica e extensão rural. "Essa nova praga exótica exige uma ação integrada e um esforço concentrado para a coleta de informações sobre a biologia e ecologia da praga, bem como para o desenvolvimento de tecnologias que acarretem em benefícios para o controle da lagarta", conclui o entomologista.

Serviço

Para esclarecer dúvidas de técnicos e agricultores, a Embrapa lançou o hotsite "Alerta Helicoverpa", que reúne informações, documentos oficiais, vídeos e reportagens relacionados à lagarta Helicoverpa armigera. confira os conteúdos disponibilizados em www.embrapa.br/alerta-helicoverpa.

 

 

Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças

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