Novas variedades de mandioca para o Cerrado são apresentadas em Dia de Campo
Novas variedades de mandioca para o Cerrado são apresentadas em Dia de Campo
Seis novos clones de mandioca de mesa foram apresentados por pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) durante Dia de Campo realizado na Fazenda Boa Esperança, em Sobradinho (DF) na última sexta-feira (1). Resultado de um trabalho de melhoramento genético participativo com 18 produtores do Distrito Federal e Entorno e em parceria com a Emater-DF e a Fundação Banco do Brasil, os materiais são mais produtivos e resistentes à bacteriose, principal limitante da mandiocultura no Cerrado. Também foram apresentadas alternativas de uso da planta na alimentação animal.
O evento foi organizado pela Embrapa Cerrados, Emater-DF, Ceasa-DF, Secretaria de Estado de Agricultura e Desenvolvimento Rural do DF e Associação dos Produtores e Agricultores Familiares de Sobradinho (Aspraf), e contou com a presença do secretário de agricultura do DF, Lúcio Valadão, e o presidente da Emater-DF, Marcelo Piccin.
Os pesquisadores Eduardo Alano e Josefino Fialho e o engenheiro agrônomo Laércio de Júlio mostraram a mais de 80 produtores e técnicos os resultados finais do trabalho desenvolvido com a participação de agricultores, que foram acompanhados em todas as etapas da produção e fizeram o ranqueamento dos materiais. Foram selecionados três clones amarelos, dois rosados e um de cor creme que estão sendo registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Segundo Fialho, o que se preconiza no melhoramento genético da mandioca de mesa são materiais resistentes à bacteriose, com baixos níveis de ácido cianídrico (HCN), alta produtividade, qualidades culinárias, arquitetura de planta favorável aos tratos culturais e coloração amarelada da polpa das raízes, o que corresponde a elevados teores do nutriente beta caroteno. "Os materiais mais amarelados terão melhor aceitação pelo mercado", acrescentou Laércio de Júlio. Hoje aposentado da Emater-DF, ele atuou na identificação dos produtores que participaram do programa de melhoramento genético participativo.
Eduardo Alano ressaltou a interação entre pesquisadores, extensionistas e agricultores no processo de pesquisa participativa. "É fundamental estarmos juntos desde a implantação da lavoura, no acompanhamento e na avaliação final. São momentos de troca de experiências. A cada três meses, no máximo, visitávamos todos os produtores", afirmou. Ele explicou que todos os caracteres testados foram medidos com os produtores. "E no final, os produtores ranquearam os materiais de acordo com a preferência deles".
O pesquisador mostrou os resultados das avaliações das mandiocas amarelas e rosadas, apontando as melhores classificadas pelos 18 produtores. Entre as 13 amarelas avaliadas, o clone 497/08 foi o melhor colocado. O material obteve média de produtividade de raízes de 40,9 ton/ha, bem superior à Japonesinha (BGMC 753), variedade mais plantada no DF e Entorno, com 30,1 ton/ha, e que serviu de testemunha. O teor de carotenoides nas raízes também foi maior: 10,88 µg/gms contra 6,40 µg/gms.
Os outros destaques foram os clones 272/08 e 446/08 (creme), respectivamente com produtividades médias de raízes de 35,8 ton/ha e 31,5 ton/ha, e teores de carotenoides nas raízes de 11,53 µg/gms e 7,73 µg/gms. Entre as oito mandiocas rosadas avaliadas, foram destaques os clones 341/08 e 390/08, que obtiveram, respectivamente, produtividade média de raízes de 28,5 ton/ha e 29,1 ton/ha, e teor de carotenoides nas raízes de 35,37 µg/gms e 22,5 µg/gms. O pesquisador chamou a atenção quanto ao tempo de cozimento dos materiais, que ficou um pouco maior em relação à variedade Japonesinha. "Apesar de produzirem mais, eles também exigem mais tecnologia", observou.
Histórico
Até a década de 1990, a mandiocultura na região era de baixa produtividade. Os materiais utilizados pelos agricultores não tinham boa qualidade culinária, além de conter elevados teores de ácido cianídrico, que é tóxico. "Precisávamos melhorar as variedades, o que não é um trabalho rápido, demora 10 anos", lembra Fialho.
Um trabalho conjunto entre a Embrapa e a Emater-DF promoveu testes de materiais de outras instituições junto com os produtores, levando à recomendação de uso das primeiras variedades amarelas – Pioneira (IAPAR 19) , do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Japonesinha (IAC 576-70), do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP). "E a história da mandioca no DF começou a mudar", diz o pesquisador.
A partir de 2006, a Embrapa Cerrados iniciou o programa de melhoramento genético em parceria com a Fundação Banco do Brasil. O objetivo é desenvolver materiais de mesa, para indústria e açucarados. Os clones são validados nos campos experimentais da Embrapa Cerrados, propriedades rurais do Distrito Federal, Entorno do DF e Patos de Minas (MG), Unaí (MG), Cuiabá (MT), Paraná, Santa Catarina, Sinop (MT), Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Gerados pelo programa e testados conjuntamente pelos pesquisadores, extensionistas e produtores de mandioca acompanhados pela Emater-DF, os novos clones apresentados no Dia de Campo são os primeiros resultados do trabalho para o DF e Entorno.
Alimentação animal
Também pesquisador da Embrapa Cerrados, Francisco Duarte apresentou possibilidades de uso da mandioca na alimentação animal, trabalho que teve a participação de Karina Guimarães (Emater-DF), Roberto Guimarães Jr. (Embrapa Cerrados) e Ana Paula da Silva (Copas-DF). Diversas espécies animais, como bovinos, caprinos, suínos, ovinos e aves podem ser alimentados com as raízes e a parte aérea da planta, da qual 80% costuma ser deixada de lado no campo.
Segundo o pesquisador, toda a planta pode ser aproveitada para alimentar os animais de criação, sendo que o terço superior é a parte mais nutritiva. "O aproveitamento da raiz e da parte aérea da mandioca é uma alternativa viável para reduzir os custos de produção. É uma planta completa em nutrientes se comparada a outras", explicou.
Duarte explicou as formas de utilização das raízes e da parte área. As raízes podem ser oferecidas em raspas ou como silagem. A parte aérea pode ser consumida sob as formas de feno ou de silagem. Em todos os casos, o produtor deve estar atento à presença, nas plantas, do ácido cianídrico, que é tóxico para os animais. "A mandioca brava deve secar ao sol ou à sombra por 24 horas para retirar o HCN. Na quebra das raízes, a substância começa a sair", disse.
Além de mostrar exemplos de formulações de rações para vacas em lactação e ruminantes em geral, o pesquisador falou sobre a pesquisa de avaliação e caracterização nutricional dos novos clones que a Embrapa apresentou, destacando o potencial das plantas como fonte de alimento para os animais. "Há variedade que deixa até 78 ton/ha de matéria verde (parte aérea) no campo", observou.
O Dia de Campo também contou com as apresentações de Sandra Evangelista e Eleutéria Pacheco (Emater-DF) sobre aproveitamento da mandioca na alimentação humana e normas para instalação de agroindústrias e miniagroindústrias; do casal Flávio e Elma Reinehr, proprietários da fazenda, e Otávio Nóbrega (Emater-DF) sobre a implantação da cultura da mandioca na propriedade; e de Revan Soares (Emater-DF) e Rogério Laguardia (Aspraf) sobre máquinas e implementos para plantio e colheita da cultura.
As ramas das cultivares podem ser encomendadas à Clona-Gen, empresa licenciada pela Embrapa para produção e comercialização das cultivares.
Contatos: (47) 3439-6607 e comercial@clona-gen.com.br.
Veja informações no site da empresa: http://www.clona-gen.com.br/mandiocas-brs/
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados
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