Pesquisadores e analistas da Embrapa (unidades Cerrados, Trigo e Produtos e Mercado) percorreram polos agrícolas do Cerrado mineiro, goiano e do DF entre os dias 18 e 22 de agosto. Eles avaliaram os ensaios com a nova cultivar de trigo melhorador precoce BRS 394, que está em processo de registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.O material está sendo testado em 12 pontos no Brasil Central e tem se destacado pela produtividade e precocidade, além da qualidade industrial. A partir de 2015, a Embrapa vai disponibilizar, por meio de edital, as sementes para os produtores para multiplicação. No ano seguinte, os agricultores poderão adquirir as sementes. O grupo participou de dias de campo e visitas técnicas em Iraí de Minas, Santa Juliana e São Gotardo (MG); Cristalina (GO) e no PAD-DF, no Distrito Federal. As apresentações ficaram por conta dos pesquisadores Júlio Albrecht (Embrapa Cerrados), que falou sobre as principais características da cultivar; Jorge Chagas (Embrapa Trigo), que abordou as questões de manejo e ajuste fitotécnico; e de Maria Imaculada Lima (Embrapa Trigo) sobre fitopatologia, destacando as diferenças entre a giberela e a brusone, doenças causadas por fungos. Em Cristalina, foi realizado um dia de campo em parceria com a Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cocari - Regional Cristalina) na Fazenda Santa Amélia (Arena Sementes), no dia 20. O evento contou com a presença de cerca de 20 técnicos de empresas de revenda de insumos que atuam na região. Eles puderam comparar o desempenho da BRS 394 com o das cultivares BRS 264 e BRS 254 da Embrapa (indicadas para a região) e o de uma linhagem em validação. O chefe-geral em exercício da Embrapa Trigo, Sérgio Dotto, destacou o potencial do Brasil Central para a produção de trigo. "A colheita na entressafra, a entrada mais cedo do produto no mercado e o clima favorável são fatores que diferenciam esta região, que está próxima do Sudeste, principal consumidor. O trigo produzido aqui é de excelente qualidade, das classes trigo-pão, com alta força de glúten, e trigo melhorador. Ambas são as mais consumidas no Brasil", disse. Dotto também lembrou que o produtor da região é tecnificado e aberto à adoção de novas tecnologias. O coordenador técnico da Cocari em Cristalina, Leandro Luiz da Silva, explicou como foram feitos o plantio dos materiais, a aplicação de herbicidas, a nutrição das plantas, o uso do redutor de crescimento e as entradas com fungicidas e inseticidas. Precoce e produtiva O pesquisador Júlio Albrecht falou sobre as características da cultivar BRS 394, um trigo melhorador com precocidade maior que a da BRS 254 e menor que a da BRS 264 – o ciclo de emergência-maturação do material é de 115 dias, sendo o período de emergência ao espigamento de 50 dias. "Para esta região, a precocidade é de extrema importância, assim como a qualidade", observou. A nova cultivar é adaptada ao Cerrado do Brasil Central, com indicação de plantio em altitude superior a 500 metros em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, e maior que 600 metros no Mato Grosso e no Oeste da Bahia. A produtividade média obtida em ensaios em Cristalina, Planaltina (DF), Unaí e Coromandel (MG) foi superior a 7 mil ton/ha, sendo 10% mais produtiva que a BRS 254. "Em condições ótimas, pode-se chegar a 8 ton/ha. A planta tem uma espiga bem robusta, com porte ideal para uma boa produtividade", explicou o pesquisador. Albrecht também salientou a qualidade industrial do material, que é um trigo melhorador com força de glúten média de 350 W e estabilidade média de 20 minutos. "A força de glúten e a estabilidade estão sobrando (na cultivar). Os moinhos facilmente vão comprar o trigo", apostou. Outras características destacadas são a tolerância ao acamamento, importante devido aos ventos intensos da região, e o grão duro e de coloração vermelha, que tolera melhor chuvas durante os períodos de colheita e de maturação. A época de semeadura recomendada é a primeira quinzena de maio, quando há menor possibilidade de chuvas e da ocorrência de brusone, que junto com a mancha amarela e a mancha marrom é a principal doença da cultura tritícola na região. Para essas doenças, a recomendação é fazer o controle preventivo. "O momento da aplicação é muito importante. A primeira tem que ser no emborrachamento do trigo", disse Albrecht. O pesquisador alertou para os cuidados que o produtor deve ter na condução da lavoura, desde o plantio até a colheita do trigo. "Não adianta ter semente de qualidade se você não fizer a irrigação adequada, o manejo de pragas e o controle de doenças e de qualquer outro estresse, pois poderá comprometer essa qualidade", afirmou.