Numa região onde predomina a plantação de fumo, alguns agricultores buscam alternativas para diversificar a lavoura. Entre as culturas preferidas, estão aquelas que vão direto à mesa do consumidor. Aproximadamente 150 produtores se reuniram na Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), na quarta-feira (27), para participar de um Dia de Campo sobre Alternativas para a Agricultura Familiar. O evento busca apresentar aos produtores o rendimento e a característica de algumas culturas, para que eles possam conhecer e escolher aquela que se adapta melhor, de maneira a diversificar a cultura do fumo em suas propriedades. O Dia de Campo faz parte da chamada pública de número seis do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa) que tem como objetivo a diversificação da produção de fumo. O projeto abrange sete cidades: Pelotas, Canguçu, Turuçu, Amaral Ferrador, São Lourenço do Sul Cristal e Arroio do Padre; onde 1,2 mil produtores são assistidos por 15 técnicos especializados. "A maioria dos agricultores presentes no Dia de Campo, além de produtores de fumo, são também feirantes", complementa o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, José Ernani Schwengber. As alternativas apresentadas pelo Capa para que os produtores diversifiquem a produção tem como base a relação do agricultor com a feira. Por isso, a maioria das opções são plantas frutíferas e produtos tradicionais da agricultura familiar. Seu Lomar Helwig, de Canguçu, produz fumo há mais de 20 anos. Busca no Dia de Campo alternativas de frutas e legumes para conseguir diversificar sua produção. "Eu quero sair do ramo do veneno. Por isso vim aqui para aprender, quero saber sobre quais frutas plantar", comenta. Opções ao produtor Dentre as alternativas apresentadas aos produtores, algumas receberam destaque. A goiaba já é cultivada na região como alternativa à cultura do pêssego. E no Dia de Campo, também foi apresentada como opção para o produtor substituir, aos poucos, a produção de fumo. A colheita da fruta começa em fevereiro e se entende por três meses. E a melhor opção de comercialização é diretamente para a indústria. Outra fruta com espaço no mercado, mas baixa produção na região é o figo. Na última safra o quilo chegou a R$ 2,50. E com o manejo correto a produção pode chegar a 8 toneladas. De acordo com o extensionista da Emater/RS, Luiz Carlos Migliorini, uma das melhores dicas para que o produtor tenha sucesso é o uso correto da água. "A irrigação deve ser feita da maneira certa, pois isso fortalece a produção", afirmou. Alimento tradicional na agricultura familiar, a mandioca também pode deixar de ser apenas um produto usado para o sustento das famílias e passar a complementar a renda do produtor. "Como a mandioca é muito perecível, o agricultor deve produzir em maio, junho, julho e depois colher, processar e congelar o material. Assim, ele terá mandioca armazenada o ano inteiro, podendo consumir e comercializar o alimento", completou Schwengber. Produção agroecológica A diversificação é uma iniciativa dos produtores, que buscam novas fontes de renda. Mas os motivos para substituir o fumo não são apenas econômicos. A decisão também tem relação a prática de uma agricultura mais ecológica. Pai de um menino de 7 anos, o produtor Edmilson Einhardt não queria que o filho tivesse contato com os agrotóxicos. "Se tu não deixas teu filho comer, como vais vender aquele produto? Com essa consciência, automaticamente tu te encaminhas a um sistema agroecológico", comenta. Além disso, nos últimos anos, a seca estava afetando a produção de fumo de Seu Edmilson. O endividamento só aumentava e ele plantava para pagar a dívida da safra anterior. "Eu tinha duas opções, ou diversificava a produção, ou me mudava para a cidade e encontrava um trabalho lá, como muitos estão fazendo. Eu escolhi diversificar", finaliza o produtor. Confira reportagem do Programa Terra Sul sobre o tema: Colaboração: Raphaela Suzin