Preocupada com o monitoramento agroambiental e socioeconômico de médio e longo prazo da pequena agricultura na Amazônia, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite), iniciou um projeto de acompanhamento, por 100 anos, de pequenas propriedades no estado de Rondônia. A pesquisa teve início há 28 anos em assentamentos na região de Machadinho d'Oeste, no nordeste do estado, com o objetivo de caracterizar e monitorar o uso e a ocupação das terras e os sistemas de produção e de gestão social dos recursos naturais praticados pelos pequenos agricultores (Figura 1). Cerca de 450 pequenas propriedades rurais têm sido acompanhadas anualmente por imagens de satélite, com diferentes sensores e diferentes resoluções espaciais e temporais e, a cada três anos são realizados levantamentos de 350 variáveis no campo. Nestes 28 anos a região por si transformou-se: o antigo projeto de colonização agrícola foi emancipado, tornou-se um município, e grandes transformações urbanas e rurais ocorreram. Nestes anos de trabalho, a pesquisa deu origem a muitos dados que foram e estão sendo utilizados em seminários, congressos, publicações e em diversos programas internacionais de pesquisa. Também suscitou novas pesquisas científicas, além de servir de base para cinco doutorados. Para que a sociedade tenha acesso a algumas das ações realizadas e seus dados, palestras abertas ao público estão disponibilizadas no site: http://www.evaristodemiranda.com.br/palestras-tecnicas. No mês de agosto deste ano, a equipe do Gite, liderada pelo pesquisador da Embrapa, Evaristo Eduardo de Miranda, sob orientação técnica do pesquisador João Mangabeira e com a participação dos analistas da Empresa Carlos Alberto de Carvalho, Jaudete Daltio, Lucíola Alves Magalhães e Paulo Martinho, realizou mais uma vez levantamentos de campo junto aos agricultores e contaram com o apoio dos técnicos da Embrapa Rondônia em Machadinho d'Oeste e de diversas instituições públicas do estado de Rondônia. O pesquisador francês Michel Launois, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), pela terceira vez participou dos trabalhos de campo em Machadinho d'Oeste. Nesta edição, a pesquisa de campo ganhou um reforço tecnológico na captação e tratamento da informação. A equipe disponibilizou para os entrevistadores de campo um conjunto de tablets nos quais o questionário original da pesquisa, até então preenchido em papel, foi customizado e expandido, utilizando-se um aplicativo gratuito. A solução permitiu, além da coleta dos dados textuais, a captura de gravações de áudio, fotos e coordenadas geográficas a partir da câmera e do GPS integrados ao dispositivo. Imagens de satélite de alta resolução com os limites espaciais de cada lote também foram disponibilizadas nos tablets para anotação, com o intuito de melhor detalhar in loco o uso e ocupação das áreas, a partir das declarações dos produtores. A adoção dessa tecnologia aumentou significativamente a eficiência dos trabalhos, uma vez que os dados foram coletados em formato digital, passíveis de backups, e o risco de perda de informações foi praticamente eliminado. Os pesquisadores Francisco das Chagas Leônidas e Rogério Sebastião Corrêa da Costa, representantes da Embrapa Rondônia no projeto, acompanharam o andamento da pesquisa e participaram de reuniões com a presença de representantes da prefeitura de Machadinho, Emater, Idaron, Sedam, Incra e de produtores rurais. De acordo com o pesquisador João Mangabeira, essas reuniões fortalecem essas tradicionais parcerias institucionais e vão ajudar, por meio de seminários, a divulgar os resultados dessa pesquisa para a sociedade local, como um subsídio adicional para as políticas públicas locais e regionais. Para o pesquisador Rogério Costa, um dos participantes do primeiro levantamento de campo realizado em 1986, "É uma grande satisfação participar de uma pesquisa tão relevante em meio real, tanto por seus métodos como por seus resultados para a sustentabilidade da pequena agricultura na região Amazônica", destaca. O pesquisador Francisco Leônidas destaca que o monitoramento colabora no conhecimento e uso dos solos, ajuda na percepção do grau de satisfação do produtor e fornece subsídios para o melhor uso e manejo dos recursos naturais renováveis.