Agricultura sustentável ultrapassa as fronteiras amazônicas
Agricultura sustentável ultrapassa as fronteiras amazônicas
Na 9ª edição do Curso Internacional de Capacitação em Sistemas de Tecnologia Agroflorestal, vinte e oito participantes do Brasil, Colômbia, Equador e Peru trazem das suas regiões e dos seus países experiências em Agroecologia com a implantação e o desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais (SAFs). O curso, promovido pela Embrapa e Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), acontece até sexta-feira (03), no estado do Pará.
O modelo de cultivo conhecido como SAFs representa, basicamente, a junção de espécies florestais e de culturas agrícolas em um mesmo sistema de cultivo. Além de promoverem a conservação ambiental, tornam possível melhorar a qualidade de vida das comunidades rurais, com segurança alimentar e geração de trabalho e renda o ano todo.
Para o biólogo e mestre em Agroecologia, Márcio Armando, instrutor do curso e analista da Embrapa, essa modalidade de capacitação é enriquecedora tanto para instrutores quanto para alunos, pois como se trata de um assunto novo, é um conhecimento que vem sendo construído coletivamente. "Não existe pacote nessa área. São soluções locais a partir de uma agricultura que atenda as famílias no campo e produza serviços ambientais", conta o instrutor. Serviços ambientais como a conservação da água, a manutenção das espécies de polinizadores, a incorporação de carbono ao solo, e a manutenção de um microclima local mais favorável com reflexos no clima global.
Experiências - Em nove edições do curso, mais de 200 técnicos da pan-Amazônia já conheceram as experiências de agricultores do Pará, os quais a pesquisa chama de agricultores experimentadores ou inovadores, e que a partir do conhecimento tradicional e da observação da floresta desenvolvem sistemas com viabilidade ambiental, econômica e social.
Um deles é Pedro Araújo Ferreira, de 46 anos, o "Seu Pedreco", que em São Domingos do Capim, região nordeste paraense, dá aula para pesquisadores e técnicos extensionistas. O agricultor é uma referência em Sistemas Agroflorestais na Comunidade Monte Sião, à beira do Rio Capim. Em sua propriedade de 66 hectares, ele maneja apenas 18 hectares, de onde tira o sustento da família – esposa e cinco filhos – com a produção de açaí, cacau, banana e espécies arbóreas nativas da Amazônia. A história de Seu Pedreco é pautada pela vontade de entender a floresta, experimentar e inovar. Não é à toa que sua área tornou-se referência em Agroecologia.
"Geralmente as pessoas estão acostumadas a ver plantios de uma cultura somente, alinhados em fileiras, com adubação química e defensivos agrícolas. Aqui não. A disposição das espécies é aleatória, apenas com uma certa distância entre elas para que não haja competição. Uma completa a outra, dá sombra e alimento a outra. Eu tento imitar a floresta e 100% da minha produção é orgânica sem o uso do fogo", explica o agricultor.
O pesquisador Delman Gonçalves, da Embrapa Amazônia Oriental, diz que o Pará já tem agricultores que avançaram bastante nos sistemas agroflorestais e é com eles que a pesquisa vem aprendendo e ensinando. "O pesquisador não é a origem das coisas, quando ele está antenado percebe que é facilitador de um conhecimento gerado no campo e aprimora esse conhecimento a partir da interação com o produtor", afirma.
O agrônomo Jonatas Villazamar, da cidade de Calamar, região de Guaviare, na Colômbia, diz que a experiência que leva desse curso é a possibilidade de replicar o conhecimento em sua região. Ele trabalha com assistência técnica privada junto a 120 agricultores colombianos, que produzem cacau, mandioca, juta, milho, banana e seringa. "O que observamos aqui é que podemos implantar consórcios entre espécies que temos na nossa região, sempre levando em consideração as peculiaridades locais e o conhecimento dos agricultores", completa.
Novas experiências trazem também o casal Juliana Duarte e José Ubiratan Santana, com o pequeno Caetano de apenas 1 ano e 10 meses. Ela, alagoana e técnica da Funai, e ele, sergipano e técnico do Incra. Moram no Pará há dois anos trabalhando com comunidades indígenas e assentados, respectivamente. Juliana diz que vê nos Sistemas Agroflorestais uma importante alternativa para a produção sustentável nas comunidades indígenas, tradicionalmente marcadas pela roça de mandioca e o uso do fogo na agricultura. "Vejo nos SAFs uma boa saída para essas comunidades, que vivem num território limitado e sem a disponibilidade de recursos naturais que tinham anteriormente", completa a bióloga.
Essa modalidade de capacitação em tecnologias agroflorestais é uma parceria da Embrapa com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), por meio da Agência Brasileira de Cooperação. No Pará, a ação faz parte ainda do projeto "Rede de Intercâmbio e Transferência de Conhecimentos e Tecnologias Agroflorestais na Amazônia - RETAF", coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, de Belém (PA), que tem como objetivo contribuir para o fortalecimento e crescimento dos níveis de adoção das tecnologias agroflorestais entre os produtores amazônicos. Durante 18 dias, os participantes tiveram aulas teóricas em Belém e Castanhal, e práticas em áreas de produtores nos municípios de Santa Bárbara, Igarapé-Açu, São Domingos do Capim e Tomé-Açu, no nordeste paraense.
Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental
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