Embrapa inicia intercâmbio com pesquisadores do Reino Unido para pesquisas em alimentos bioativos
Embrapa inicia intercâmbio com pesquisadores do Reino Unido para pesquisas em alimentos bioativos
Foto: Maurício Vivas
Paul Kroon, , coordenador do Programa de Alimentação e Saúde do IFR - Institute of Food Research, um dos idealizadores do evento, em sua fala de abertura
Aliar a rica biodiversidade e as variedades desenvolvidas no Brasil para o clima tropical ao estudo de avaliação de impacto na saúde humana. Esse foi o principal desafio lançado aos 40 pesquisadores brasileiros e britânicos, durante o 1º Workshop sobre Alimentos Bioativos e Saúde, que aconteceu entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro, no Rio de Janeiro. Os projetos, decorrentes da parceria Brasil-UK, poderão integrar o Portifólio Alimentos, Nutrição e Saúde, recém-lançado pela Embrapa; ou receber financiamento de instituições europeias como o próprio Biotechnology and Biological Sciences Research Council - BBSRC, que apoiou o evento.
Os médicos orientam o consumo de frutas e hortaliças para a prevenção de doenças e a manutenção da saúde humana, devido à presença de substâncias bioativas, como antocianinas e flavonoides. Contudo, ainda não se conhece plenamente como esses fitonutrientes são absorvidos e metabolizados pelo organismo. Pelo menos, não tanto aqui no Brasil, porque pesquisadores do Institute of Food Research – IFR e do John Innes Center – JIC ambos da cidade de Norwich, no Reino Unido, são reconhecidos em estudos de biodisponibilidade e bioacessibilidade*. A pesquisadora Regina Lago, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), membro do comitê organizador do evento, ressalta: "Identifico uma enorme possibilidade não só de projetos em conjunto, mas principalmente de capacitação para pesquisadores brasileiros com esse grupo de referência internacional".
O primeiro dia do encontro foi reservado para apresentações de projetos em andamento por pesquisadores do IFR, do JIC, bem como de oito Unidades Descentralizadas da Embrapa (Agroindústria de Alimentos, Agroindústria Tropical, Clima Temperado, Hortaliças, Mandioca e Fruticultura, Milho e Sorgo, Recursos Genéticos e Biotecnologia, Uva e Vinho) e dois parceiros (Universidade de São Paulo - USP e Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). Essa troca de experiências foi enaltecida por Paul Kroon, coordenador do Programa de Alimentação e Saúde do IFR, também membro do comitê organizador do evento: "Os pesquisadores britânicos puderam conhecer melhor o trabalho desenvolvido pela Embrapa e outras instituições de pesquisa brasileiras. Percebemos que já foi realizado um fabuloso trabalho de identificação e caracterização de bioativos em frutas e vegetais no Brasil; enquanto o nosso foco é no impacto desses compostos para saúde humana. Nossas competências são complementares, por isso estamos entusiasmados para estabelecer pesquisas conjuntas em bioativos em alimentos com os brasileiros", afirma. O desenvolvimento de tecnologias voltadas para a oferta de alimentos com componentes bioativos, com comprovado benefício para a saúde, deve ser favorecido com essa aproximação, segundo Humberto Bizzo, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. "Pudemos conhecer melhor o trabalho desenvolvido pelo IFR e JIC, no Reino Unido, que são especialistas em avaliação e monitoramento dos compostos bioativos no organismo; como são metabolizados no corpo humano e que benefícios trazem para saúde. Com essa parceria, a Embrapa vai conseguir trabalhar de forma mais completa, indo até a avaliação da biodisponibilidade* dos bioativos e seus efeitos clínicos".
O pesquisador Thales Rocha, da Embrapa Recursos Genético e Biotecnologia (Brasília, DF), saiu empolgado com as novas parcerias identificadas durante o evento. "A Embrapa deveria promover mais encontros como esse, que possibilite intercâmbio de experiências e contatos com pesquisadores de dentro e fora da Empresa", ressalta. Nesses dois dias, além da parceria com essas instituições do Reino Unido, ele também conseguiu prospectar pelo menos quatro novos parceiros, com estrutura e abordagens complementares, para projetos em desenvolvimento em sua Unidade: a UNIRIO, a UFRJ, a Embrapa Agroindústria Tropical e a Embrapa Clima Temperado.
Próximos passos
A ideia é selecionar um produto e elaborar um projeto em conjunto, a ser submetido aos editais de financiamento de projetos de pesquisa no Brasil e no Reino Unido. Todos os participantes irão colaborar para um levantamento de dados das pesquisas em andamento, para subsidiar a seleção do tema. O pesquisador Eugenio Butelli, do John Innes Centre, aponta uma possibilidade: "Temos interesse em desenvolvimento de novos produtos funcionais, a partir de frutas cítricas. Os compostos fenólicos presentes nessas frutas trazem comprovados benefícios para o coração, como apontam nossos estudos desenvolvidos no Reino Unido. O Brasil é um dos maiores produtores e possui uma ampla variedade de frutas cítricas, especialmente no interior de São Paulo. Identifico uma grande oportunidade para ambos os países", afirma.
á Maria Cristina Paes, cientista de alimentos da Embrapa Milho e Sorgo e membro da equipe que desenvolveu a primeira variedade de milho biofortificado desenvolvido no Brasil, o BRS 4104, defende: "Conseguimos obter o milho com concentrações aumentadas de carotenoides e realizar estudos de retenção desses compostos nos produtos usualmente consumidos no Brasil, a exemplo do cuscuz, polenta/angu, biscoitos e pães. Agora é preciso avançar nas pesquisas determinando o efeito biológico "in vitro" e "in vivo" dos carotenoides nessa variedade de milho para validar a atividade vitamínica A e também o efeito antioxidante, enfim avançar com a determinação da bioacessibilidade/biodisponibilidade de carotenoides. Essa parceria pode alavancar as nossas pesquisas em biofortificação no Brasil", diz.
Um artigo científico sobre a atual situação das pesquisas em bioativos em alimentos no Brasil será elaborado, para servir de marcador inicial às ações em parceria. O próximo encontro está previsto para o primeiro semestre de 2016, em Norwich, Reino Unido.
*biodisponibilidade/bioacessibilidade: A bioacessibilidade refere-se à quantidade de um determinado nutriente presente em um alimento que é liberada no trato intestinal durante a digestão, pois nem todo conteúdo do nutriente presente no alimento é liberado para absorção pelo organismo. A fração disponível para ser usada pelo organismo em suas funções fisiológicas refere-se ao conteúdo biodisponível do nutriente, ou seja, sua biodisponibilidade.
Aline Bastos (MTB 31.779/RJ)
Embrapa Agroindústria de Alimentos
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