Missão chinesa conhece experiências com bambu no Acre
Missão chinesa conhece experiências com bambu no Acre
Pesquisadores e técnicos de instituições chinesas visitam o Acre, entre 7 e 9 de outubro, para conhecer iniciativas práticas com o bambu e discutir oportunidades de parceria em pesquisas com esta espécie nativa da Amazônia. A atividade faz parte das ações de intercâmbio previstas no Memorando de Entendimento entre Brasil e China, vigente desde 2011, visando à cooperação bilateral em Ciência e Tecnologia para desenvolvimento do bambu.
A missão chegou ao Brasil na sexta-feira (3) para uma agenda de compromissos com instituições de pesquisa em Brasília (DF), Rio Branco (AC) e São Paulo (SP). Na capital acriana as atividades, coordenadas pela Embrapa Acre, Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) e Casa Civil, incluem a realização de reuniões técnicas com órgãos de pesquisa e de apoio ao desenvolvimento da cultura do bambu no Estado e visitas a cultivos nativos.
Nesta terça-feira (7), o grupo visitou bambuzais localizados no município de Porto Acre, no Projeto de Assentamento Bandeirante, a 70 quilômetros de Rio Branco, onde está localizada uma das maiores populações de bambu do Acre, com mais de 20 quilômetros de floresta nativa do gênero guadua, variedade também conhecida como taboca gigante, e vem sendo inventariada e monitorada por técnicos da Funtac, com o objetivo de levantar informações sobre as suas potencialidades para a articulação de pesquisas.
De acordo com Elias Miranda, pesquisador da Embrapa responsável pelos estudos com essa planta no Acre, essa área apresenta grande potencial para implantação de uma unidade piloto para produção de bambu envolvendo a comunidade. Desde 2009 a Embrapa investe em pesquisas com o objetivo de viabilizar a produção comercial do bambu e fortalecer a cadeia produtiva desta espécie como opção de trabalho e renda. Um desses projetos, com enfoque no desenvolvimento comunitário, está em fase de avaliação e aprovação no CNPq. "Nossa proposta inicial é treinar os agricultores para o aproveitamente deste recurso natural na produção de móveis, a partir de tecnologias simples e acessíveis", diz Miranda.
No Brasil existem mais de 200 espécies de bambu e aproximadamente 18 milhões de hectares de florestas nativas da planta estão na Amazônia. Cerca de 40% desse recurso está localizado no Acre, mas essa riqueza natural é pouco utilizada e o manejo da espécie ainda é novidade para a maioria das famílias rurais.
Na propriedade do agricultor Francisco Rafael de Mello (o seu França), localizada na BR-364 (sentido Rio Branco/Porto Velho), a sete quilômetros de Rio Branco, desde 2008 o cultivo do bambu é realizado de forma manejada e sustentável. Ele vem aprendendo com pesquisadores e técnicos da Embrapa e da Funtac como cuidar dos cultivos e a aproveitar comercialmente as plantas. O foco do cultivo é a produção de madeira, mas a família também passou a produzir mudas como alternativa de renda, a partir de plantas nativas colhidas na floresta.
Essa experiência será conhecida pelos pesquisadores chineses na manhã de quarta-feira (8). Neste mesmo dia, o grupo visita a sede da Embrapa Acre, onde se reune com pesquisadores e gestores, às 10h30, para conhecer as pesquisas com bambu, especialmente os experimentos realizados com multiplicação in vitro no laboratório de cultura de tecidos da Unidade.
Potencial econômico do bambu
O mundo está despertando para o potencial do bambu, uma cultura que no Brasil há pouco tempo era considerada como praga por sua rápida capacidade de se alastrar. Na China, um dos maiores produtores mundiais e maior exportador de derivados do bambu, o produto pode ser encontrado em mais de quatro mil aplicações diferentes. De acordo com Miranda, pelo menos 5 milhões de famílias chinesas vivem da cadeia produtiva da planta, que movimenta, anualmente, cerca de 6,5 bilhões de dólares.
Os EUA aparecem como o maior importador, seguidos da União Europeia e do Japão, sendo os painéis de bambu para piso o produto mais exportado. Em países como Índia, Colômbia, Equador e Costa Rica, do bambu nada se perde. As folhas se transformam em forragem para animais, os brotos e sementes são comestíveis, a polpa é usada na produção de celulose e as hastes na construção civil e fabricação de móveis.
No Brasil, o uso agroindustrial mais expressivo do bambu está na região Nordeste, que concentra um cultivo de cerca de 40 mil hectares nos estados de Pernambuco, Paraíba e Maranhão, destinados à produção de papel e celulose. Além disso, vem despontando como matéria-prima na fabricação de móveis e na construção civil, onde está sua principal funcionalidade, podendo ser usado em substituição à madeira em aplicações como telhados, pisos e decorações internas.
Toda essa demanda e potencial de uso do bambu coloca o produto brasileiro na rota de procura de diversos países, incluindo a China. De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Patrícia Drumond, coordenadora da articulação internacional no Acre, a visita da missão chinesa ajuda a dar visibilidade ao potencial do estado em relação a este recurso natural. "A cooperação é uma forma de fortalecer ações de parceria, descobrir novos parceiros e criar oportunidades com base em potencialidades", diz.
Pelo seu potencial de produção e exportação de bambu manufaturado, segundo Miranda, o Brasil poderia abastecer o mercado mundial, tanto por meio dos portos do Atlântico, como pelos portos do Peru, utilizando a rodovia interoceânica. "E, por esta via, o Acre tem consideráveis vantagens competitivas, dada a sua localização geográfica estratégica e a abundância natural deste recurso", afirma o pesquisador.
As atividades se encerram com uma reunião técnica na Casa Civil, no dia 8, às 15h, com a participação de representantes de instutições governamentais ligadas à pesquisa e ao apoio à cadeia produtiva do Bambu no Acre. Serão apresentadas iniciativas desenvolvidas com o produto no Estado e discutidos encaminhamentos práticos em relação a futuras parcerias com a China.
Diva Gonçalves (MTB-0148/AC)
Embrapa Acre
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