Agregando valor à carne
Agregando valor à carne
Tradicionalmente, a seleção de um rebanho é feita com base em Diferenças Esperadas das Progênies (DEPs) de um animal. DEP é a capacidade de um indivíduo transmitir a seus descendentes genes que afetarão o desempenho em determinada característica. Os melhoristas da Embrapa pretendem incrementar e acelerar o processo tradicional por meio dos valores genômicos, utilizando marcadores moleculares de alta densidade espalhados no genoma bovino.
“É como se fosse uma estrada muito bem sinalizada. Os marcadores são como placas que sinalizam pontos-chave no DNA”, exemplifica o pesquisador Luiz Otávio Campos da Silva da Embrapa Gado de Corte (MS), líder do projeto denominado MaxiBife, executado em rede. “Quando os indivíduos são mais aparentados, espera-se que tenham genética mais semelhante entre eles que os não aparentados. Com a genômica vamos determinar ainda mais quais são essas semelhanças”, complementa.
As raças de corte Hereford, Braford, Brangus, Caracu, Senepol, Angus, Charolês, Canchim e Nelore são o alvo dos pesquisadores e para isso são coletados diversos fenótipos dos animais, dependendo da raça avaliada. “Por exemplo, resistência ao carrapato, características produtivas e reprodutivas em hereford e braford; temperamento e defeitos genéticos em brangus; características reprodutivas masculinas, qualidade de carne, qualidade de carcaça, produtividade e eficiência alimentar em nelore; qualidade de carne e carcaça, produtividade e características raciais em canchim; características de funcionalidade em senepol; dentre outras”, enumera a especialista em genética Fabiane Siqueira. A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte coleta material biológico e extrai DNA de animais da raça Canchim, participantes de Provas Anuais de Avaliação de Desempenho, com o intuito de ampliar as informações fenotípicas para genotipagem estratégica e aplicação em estudos de associação e seleção genômica.
Os pesquisadores estão trabalhando para incorporar a seleção genômica na rotina de programas de melhoramento genético de bovinos de corte. “É preciso viabilizar a aplicação da seleção genômica em larga escala, tornando a tecnologia comercialmente acessível ao criador. Assim, o produtor vai se beneficiar a um custo acessível e compatível com a tecnologia, podendo selecionar touros com melhores avaliações genéticas genômicas em idades mais jovens e com uma confiança maior”, afirma Siqueira.
MONITORAMENTO ELETRÔNICO
Por meio de uma estrutura automatizada, formada por cochos eletrônicos e estações de pesagem conectados 24 horas em tempo real com computadores, a equipe de melhoramento genético da Embrapa pretende identificar quais animais possuem uma melhor conversão alimentar com base na genômica. Entre as vantagens, enumera-se: identificação de ‘touros-destaque’ da safra; geração de dados dos pais, a partir de seus filhos; redução do custo de produção ao se utilizar a eficiência alimentar na seleção.
A eficiência alimentar é uma característica prática, mas é preciso alto investimento para obtê-la. Assim a genômica possibilitará estimativas com maior precisão. “Ao invés de o produtor enviar um animal para uma prova de desempenho, ele pode ‘genotipar’ o seu lote (fazer a caracterização genética), saber quais animais serão eficientes e pré-selecioná-los para uma prova ou, simplesmente, utilizá-los na fazenda. A decisão estará em suas mãos e quem fizer seleção com seriedade se destacará”, prevê Roberto Torres Junior, pesquisador em genética-quantitativa.
Os cochos geram dados de consumo e comportamento alimentar com mais confiabilidade e acurácia. Segundo o nutricionista animal da Empresa Rodrigo da Costa Gomes, os equipamentos possuem comedouros apoiados sobre uma balança, que registra, eletronicamente, o total de alimento consumido por animal, individualmente. A presença do touro é identificada por meio de um chip, implantado na orelha, detectado pela antena presente no cocho a cada aproximação para se alimentar. Já as estações de pesagem produzem dados de peso-vivo e ingestão alimentar. Elas são ligadas aos bebedouros e todas as vezes que os animais chegam, eles são pesados. “Cada experimento dura 56 dias efetivos em confinamento, com dois períodos de adaptação de 14 dias, com medição diária e ininterrupta, e custo diário ao redor de mil reais por animal”, conta Gomes. A proposta é realizar três baterias de experimento por ano até 2018.
A Embrapa desenvolve estudos sobre conversão alimentar animal desde a década de 1970, porém é inédita a utilização dessas ferramentas. “É a primeira vez que pesquisamos eficiência alimentar em larga escala, graças ao avanço tecnológico. A eficiência é a relação entre o que o indivíduo consome e o seu posterior ganho de peso. É medir quanto o animal converteu do alimento ingerido em carne. Medi-la requer investimento, equipamento e recursos humanos especializados”, ressalta Silva. Em um futuro breve, a eficiência alimentar será um índice presente no sumário de touros das raças do Programa Embrapa de Melhoramento Animal, ao lado de outras avaliações já presentes, como marmoreio e área de olho de lombo.
Essa ação do projeto é coordenada pelo especialista em melhoramento animal, Marcos Jun Iti Yokoo, da Embrapa Pecuária Sul, e integrante da rede MaxiBife, que desde 2013 visa maximizar o ganho genético animal bovino. A iniciativa reúne mais de 60 pesquisadores da Embrapa e instituições parceiras.
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Dalízia Aguiar
Embrapa Gado de Corte
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