13/03/17 |   Transferência de Tecnologia  ILPF

Integração Lavoura-Pecuária: da teoria à prática, com eficiência e lucratividade

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Foto: Marina Torres

Marina Torres - Pesquisador José Avelino durante palestra

Pesquisador José Avelino durante palestra

“A gente tentava era acabar com a braquiária no meio do milho. Não colocava capim na roça. Não fazia esse aproveitamento”, conta o produtor Olavo Tavares, de Inhaúma, cidade localizada na região Central de Minas Gerais. Ao conhecer a área de Integração Lavoura-Pecuária na Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), ele diz que vai mudar o sistema de produção em sua propriedade.

O senhor Olavo faz parte do grupo de 170 participantes do dia de campo sobre manejo das lavouras e cuidados com o solo em Integração Lavoura-Pecuária (ILP), realizado no último dia 8. Na ocasião, foi possível conhecer a área onde, desde 2005, foi implantado o sistema de ILP. Os 24 hectares da Unidade de Referência Tecnológica instalada na Embrapa Milho e Sorgo estão divididos em quatro glebas, onde é feita a rotação de cultivos, com a utilização do sistema de plantio direto. A cada ano, são feitos os seguintes cultivos: soja, milho consorciado com capim, sorgo com capim e pastagem.

“Anualmente, cada gleba é rotacionada. Assim, na gleba onde foi plantada soja no ano anterior, será feita a lavoura de milho-capim. Onde foi milho com braquiária será sorgo com capim. Onde foi sorgo-capim será pastagem; e onde foi pastagem será soja”, explica o pesquisador Emerson Borghi.

O sistema de rotação oferece vantagens tanto para a agricultura quanto para a pecuária. No caso das lavouras, a rotação melhora a estrutura do solo, promove o aproveitamento de nutrientes, aumenta a quantidade de matéria orgânica e de água no terreno. Para a pecuária, o sistema possibilita a produção de forragem no período da seca, a recuperação da produtividade da pastagem, além da economia na implantação das áreas de pastejo.

Emerson ressalta que a ILP intensifica o uso da propriedade e reduz os custos de produção, além de aumentar a estabilidade de renda do produtor. “Ela possibilita a exploração do solo durante o ano todo, alternando na mesma área lavouras e pastagem”.

Para o sucesso da Integração Lavoura-Pecuária, são importantes cuidados na condução das lavouras. O controle fitossanitário é fundamental. O pesquisador Ivênio Oliveira destaca que os produtores devem ter o conhecimento sobre os insetos e sobre as condições ambientais de suas propriedades, que podem favorecer ou não o aparecimento de pragas. “O Manejo Integrado de Pragas (MIP) envolve todas as táticas de controle. É fundamental fazer o monitoramento da lavoura para a tomada de decisão sobre uso de controle biológico ou químico”, explica.

Ivênio ressalta as vantagens do controle biológico, que pode ser feito com inimigos naturais das pragas, como as vespinhas Trichogramma, e com bioinseticidas. “Além dos benefícios ambientais, o controle biológico tem custo menor, é mais prático e funciona”. Mas ele explica que é necessário ter muita atenção e adotar medidas preventivas, pois, quando o nível de ataque é alto e os danos nas plantas estão visíveis, pode ser preciso utilizar o controle químico.

O agrônomo Sílvio Torres analisou os custos de produção de silagem de sorgo na área de ILP. O capim aumenta o volume de silagem, que mantém o mesmo padrão de qualidade. “A condução do capim com a forrageira melhora o sistema, promove um acréscimo de produtividade de massa de silagem a custo baixo, apenas o custo da semente de capim”. Sílvio explica que a silagem pode ser uma fonte de receita para o produtor. Na área da Embrapa, o custo de produção ficou em cerca de 80 reais por tonelada, sendo que na região chega-se a vender silagem por 150 reais a tonelada.

A fim de garantir uma boa silagem sem onerar os custos de produção, são necessários cuidados de manejo, conforme explica o pesquisador José Avelino Rodrigues. “Atualmente, temos silagem de sorgo de ótima qualidade, porque existem materiais muito bons no mercado, mas os produtores às vezes erram. A maioria colhe o sorgo com grão duro, passado do ponto”, comenta.

Para verificar o ponto de colheita adequado para ensilagem, José Avelino ensina uma prática. “O produtor deve pegar um grão no meio da panícula e apertar com a unha, como se estivesse matando um carrapato. Se sair leite e tiver uma massa pastosa, está no ponto. Terá, pelo menos, 28% de matéria seca. Se não sair nada, já estiver duro, passou do ponto”.

Além disso, o pesquisador recomenda que os produtores acompanhem os prestadores de serviço e fiquem atentos desde o plantio. “É preciso regular bem o estande da lavoura (o número de plantas por hectare). A velocidade da plantadeira não deve passar de seis quilômetros por hora para evitar falhas. Na hora da colheita, é importante pedir ao tratorista para amolar a faca, e na ensilagem, fazer uma boa compactação”.

Pastagens manejadas e confinamento garantem mais lucro ao pecuarista

“Para uma remuneração maior, o caminho é oferecer suplementação nutricional aos animais”. Enfático, o médico veterinário Fabiano Alvim Barbosa, da Universidade Federal de Minas Gerais, defende que o pecuarista deve mudar o conceito de produção para oferecer um animal de qualidade, com bom acabamento de carcaça. “A procedência genética e o cumprimento de requisitos exigidos por mercados consumidores específicos permitem pagamento diferenciado. É o chamado boi precoce, abatido até os 24 meses, e com peso médio de 21 arrobas. Esse é o segredo”, defende, se referindo aos protocolos de rastreabilidade com menção de raças bovinas nos rótulos, iniciativa da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

De acordo com informações da Confederação, protocolos de rastreabilidade de adesão voluntária são regras exigidas por mercados consumidores específicos, nacionais ou internacionais, que, ao serem cumpridos, permitem melhor valorização da carne. Alguns exemplos de protocolos de carne bovina são Angus, Nelore Natural, Hereford, Braford, Charolês, Wagyu, Cota Hilton e União Europeia, entre outros. Ainda segundo a CNA, os protocolos de adesão voluntária devem indicar garantias que serão repassadas ao Serviço de Inspeção. O serviço de inspeção sanitária é realizado para atender aos requisitos sanitários exigidos para produção, comercialização, consumo e exportação de produtos com qualidade.

As carnes premium são tendência no mercado brasileiro. Para abastecer esse setor, de acordo com o veterinário, é necessário investir em nutrição e genética, além de se buscar um manejo eficiente de pastagens, junto a técnicas de semiconfinamento ou confinamento. “Por melhor que seja o manejo da pastagem, o pecuarista não consegue abater esse boi com menos de três anos. É aí que entram essas duas ferramentas, de semiconfinamento ou confinamento. Dessa forma, conseguimos antecipar o abate dos animais, com maior peso, oferecer um rendimento de carcaça acima dos 50% e aumentar a eficiência do sistema. A métrica que deve ser seguida pelo pecuarista é o ganho diário de 500 gramas na recria e de 1 kg a 1,1 kg na engorda”, explica Fabiano.

Integração Lavoura-Pecuária como aliada

Em relação ao manejo de pastagens, o pesquisador Álvaro Vilela Resende, da Embrapa Milho e Sorgo, aponta que o sistema de Integração Lavoura-Pecuária traz como benefícios a possibilidade de recuperação de pastagens degradadas e a manutenção de altas produtividades. “Um dos aspectos mais importantes é a produção de forragem de qualidade na entressafra, permitindo ao pecuarista ultrapassar com eficiência esse período crítico do ano”, diz. Ainda segundo ele, a formação de palhada para o plantio direto, possibilitando uma maior conservação de água no solo, também é fundamental. “A ILP é responsável por uma quebra no ciclo de pragas, doenças e plantas daninhas, o que reverte em ganhos de produtividade”, explica.

O pesquisador defende a construção da fertilidade no perfil dos solos. Segundo ele, a Integração Lavoura-Pecuária permite maior aprofundamento radicular, o que possibilita à planta mais acesso à água e aos nutrientes. Nesse sentido, o monitoramento permanente do sistema exige operações que corrijam a acidez e que aumentem a fertilidade, com adubações corretivas (fósforo, potássio e micronutrientes), e que mantenham a matéria orgânica no solo. “O cálcio e o fósforo, por exemplo, são fundamentais para o desenvolvimento das raízes, tornando as plantas capazes de tolerar mais os veranicos e outros estresses”, aponta.

A meta que os produtores devem ter em mente, segundo Álvaro Vilela, é o aumento da matéria orgânica e a garantia de disponibilidade de todos os nutrientes no perfil do solo sempre acima dos limites mínimos, criando uma espécie de “poupança de fertilidade”. “Isso dará mais estabilidade ao sistema”. Para ele, diagnósticos mais frequentes, integrando sempre o histórico de fertilidade do solo às produtividades obtidas, permitem aprimorar o manejo da adubação. “A estabilidade de produção deve ser sempre seguida, com ações de estoque e ciclagem de nutrientes, prevenção da compactação, aumento da fertilidade e controle de pragas e doenças”, conclui.

A melhoria da fertilidade e da capacidade de retenção de água no solo também foi ponto debatido e defendido pelo engenheiro agrônomo Walfrido Machado Albernaz, da Emater-MG, fechando o seminário na Embrapa Milho e Sorgo. 

 

Guilherme Viana (MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo

Telefone: (31) 3027-1905

Marina Torres (MG 08577 JP)
Embrapa Milho e Sorgo

Telefone: (31) 3027-1272

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Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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