Futuro da cafeicultura de Rondônia está na qualidade e abertura de novos mercados
Futuro da cafeicultura de Rondônia está na qualidade e abertura de novos mercados
A cafeicultura de Rondônia tem passado por transformações positivas nos últimos anos, com aumento da eficiência. A produtividade cresceu quase 100%, com redução de 43% da área plantada, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O desafio encarado agora pelos 22 mil produtores é a melhoria da qualidade e a conquista de novos mercados.
Os incentivos são muitos e os maiores cuidados estão na colheita e pós-colheita do café, que interferem na manutenção da qualidade dos frutos, ou seja, são nessas duas etapas que o produtor precisa se atentar às recomendações técnicas para evitar a depreciação do seu produto. Para se ter uma ideia, um produtor que colhe o café verde, em média, precisará de 21 latões para obter uma saca de café de 60 quilos beneficiada. O mesmo produtor que esperar o momento ideal para a colheita, com pelo menos 80% dos frutos maduros, precisará de apenas 18 latões para a mesma saca. Apenas observando-se o rendimento, o produtor que preza pela qualidade ganha cerca de 25% em massa de grãos. Considerando um valor médio de R$350 a saca, isso pode representar R$87 a mais em cada saca para o produtor.
O pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, cita este exemplo e conta que o cafeicultor que busca a excelência de qualidade tem um produto de maior aceitação no mercado e retorno financeiro. Ele alerta que o café colhido fora do ponto ideal e processado de maneira indevida apresentará defeitos que depreciarão a qualidade física e sensorial. “O cafeicultor terá mais dificuldades em vender o produto, ou deixará de ganhar incremento em valor de venda. Cafés considerados de boa qualidade podem receber até 15% de sobrepreço em alguns mercados”, argumenta Alves.
O cafeicultor Júlio César Romualdo, de Nova Brasilândia d’Oeste (RO), já entendeu esta conta e as vantagens de produzir café com qualidade. Ele está investindo em sua lavoura já há alguns anos e não tem dúvida dos resultados. "Ano passado colhi com a máquina e tive uma redução do custo de 60% e este ano vou repetir. Antes eu precisava contratar 80 pessoas para a colheita e, com uma máquina, trabalhamos com 12", comemora o cafeicultor, que este ano adquiriu um secador com fogo indireto, para uma secagem em temperatura ideal. São investimentos que ele afirma darem bom retorno, o que o faz incentivar também os vizinhos a seguirem os passos de um café de qualidade. “Aqui a gente só colhe café maduro. Buscamos qualidade e melhores preços. O futuro do café de Rondônia é a qualidade com aumento de renda para o produtor”, arremata Júlio.
Concurso de Qualidade incentiva produtores
Outro incentivo aos cafeicultores de Rondônia é o Concurso de Qualidade do Café, iniciado em 2016 no estado. Sua segunda edição foi lançada esta semana, denominado agora Concafé. O evento homenageia e premia os bons exemplos que vêm do campo, tanto em qualidade como em sustentabilidade.
Ao criar um concurso para identificar e premiar produtores de café de Rondônia, o governo estadual agregou instituições como Empresa Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RO), Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril (Idaron), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RO) e a Câmara Setorial do Café, incentivando, assim, maior investimento em tecnologias para a melhoria da qualidade da cultura na região.
As inscrições para o Concafé estarão abertas a partir do dia 10 de abril nos escritórios locais da Emater-RO, em todos os municípios do estado. Serão R$ 25 mil em prêmios distribuídos para as três primeiras colocações, na categoria qualidade da bebida e no melhor café produzido com sustentabilidade em Rondônia. O produtor interessado em participar do Concafé de poderá acessar o regimento do concurso no portal da Emater-RO pelo endereço: www.emater-ro.com.br.
Novos mercados para o café de Rondônia
O café sempre foi classificado em função de critérios físicos e sensoriais de qualidade e tem sido uma busca constante dos produtores mais avançados. A qualidade do café consiste em uma mistura entre genética, ambiente e manejo adequado. Está vinculada também com as atividades de colheita e pós-colheita e representam uma forma de valorização do produto, explica o pesquisador Enrique Alves. Enquanto o mercado de cafés finos cresce a uma taxa superior a 15%, o tradicional, conhecido como “commodities” não ultrapassam 3%. “Isso demonstra que existe um mercado consumidor crescente que está disposto a pagar preços diferenciados por qualidade”, comenta Alves.
Se o mercado de cafés finos para os cafés do tipo arábica já é uma realidade, com conceitos definidos e bastante consolidados. Para os cafés canéfora (conilon e robusta) ainda são tratados como novidade e exceção à regra. Mas, o que alguns produtores enxergam com incerteza e desconfiança, já têm sido encarado como oportunidade de evolução da cafeicultura para um novo patamar, pelos que veem o café do futuro.
Em Rondônia, o que existe de concreto é que a busca pela excelência na produção tem melhorado a média da qualidade do café produzido. Os produtores têm vantagens por produzir em uma região com clima e solo favoráveis ao desenvolvimento das plantas de café, em que, o regime e distribuição de chuvas permitem altas produtividades mesmo quando cultivados em situação de sequeiro. Esta condição favorável, explica o pesquisador, também permitiu a seleção de materiais genéticos mais exigentes, como é o caso da variedade botânica robusta. Isto quer dizer que, apesar de ser o quinto maior produtor de café do país e o segundo da espécie canéfora (conilon e robusta), pode vir a ser reconhecido como um dos principais produtores de robusta do mundo.
Os cafés robustas são reconhecidos pelo vigor das plantas, tamanho dos grãos e superioridade de bebida. “Se a qualidade pode ser definida como a propriedade que determina a essência ou a natureza de um ser ou coisa, não é utópico dizer que poucos produtos agrícolas representam tão bem a essência cultural, natural e humana de Rondônia como o café”, solta Enrique Alves.
Pesquisas em andamento e recomendações para um café de qualidade
A Embrapa Rondônia tem atuado, entre outras ações, no desenvolvimento de pesquisas voltadas para a produção de um café com qualidade, com o apoio do Consórcio Pesquisa Café e Embrapa Café. São realizadas seleção de materiais genéticos de qualidade superior, com maturação homogênea, com maior peneira e qualidade de bebida. Estão em desenvolvimento processos de colheita mecanizada e semimecanizada, que aperfeiçoem o tempo e o custo da colheita, favorecendo a qualidade. Novos sistemas e tecnologias de processamento e secagem natural do café estão sendo testados, como a Barcaça Seca Café – terreiro secador de cobertura móvel –, e a secagem à campo.
As recomendações da Embrapa para um café de qualidade passam por uma colheita eficiente, em que se devem evitar falhas e observar os seguintes procedimentos:
1. Fazer o planejamento da colheita verificando instalações, equipamentos, materiais e pessoal necessário.
2. Manter as plantas daninhas controladas sob as copas dos cafeeiros, facilitando a colocação dos panos de colheita.
3. Programar o início da colheita dos talhões com maturação dos frutos mais precoces, depois colhendo os médios e tardios.
4. Realizar a colheita com pelo menos 80% dos frutos cereja, evitando colher frutos verdes, que produzem defeitos e pesam menos.
5. Vistoriar a colheita, impedindo excessos no arranquio de folhas, quebra de ramos e permanência de frutos na planta.
6. Evitar amontoar ou deixar o café secar na lavoura
7. O processo de secagem deve ser iniciado nas primeiras 24h após a colheita
8. Se o método de secagem for a sol, o café deve ser movimentado, periodicamente, para evitar a fermentação e obter uma seca homogênea.
9. Observar o uso de temperatura adequada ao se utilizar secadores mecânicos, a temperatura da massa de grãos não deve ultrapassar 55°C.
10. O processo de secagem deve ser finalizado ao se atingir 12% de umidade dos grãos.
Renata Silva (MTb 12361/MG)
Embrapa Rondônia
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